“Esta rua é nossa” em exposição na Pinacoteca Universitária

Será aberta nesta quinta-feira, 19 de novembro, às 20h, a exposição “Esta rua é Nossa”, dos artistas Ddaniela Aguilar, Rogério Gomes e Vera Gamma, com curadoria de Ana Cristina Carvalho. Confira a apresentação da exposição:

16/11/2009 11h29 - Atualizado em 13/08/2014 às 11h49

Fonte: texto da curadoria

Esta exposição reveste-se de dois grandes significados: o primeiro é revelar as verdadeiras faces do trabalho de inclusão social que os dedicados artistas – Ddaniela Aguilar, Rogério Gomes e Vera Gamma vivenciaram no Atelier Galpão 72, por um período de quatro anos, com jovens e crianças da comunidade do Verde, em Jaraguá, Maceió. O segundo é apresentar sua produção artística resultante das sucessivas experimentações de técnicas e linguagens, alicerçadas pelas ações de interação, que trouxe mudanças não só para a comunidade, mas também para os próprios artistas. 

Com sua arte, Ddaniela, Vera e Rogério subvertem padrões, criam oportunidades e transformam vidas, trazendo a contribuição do artista para a realidade. O sentido é pensar o teatro da tragédia humana e de seu potencial de metamorfoses. Trabalhando com materiais como: resíduos industriais, tinta, cola, madeira, papel, ferro, tecido e metal, fazem uma arte catalizadora da cultura humana. Trazem, além das reflexões estéticas, uma experiência pessoal que muda a visão de mundo e um sentido coletivo; pedaços que se transformam em objetos símbolo e devem ser considerados como relicários da condição humana, meios de transmissão de valores e de vida.  Painéis, instalações  e objetos que programam símbolos e comunicam ideias.  

Arte conceitual? Melhor considerá-la como arte total, onde importa mais o processo do que o objeto. Onde importa mais a ação do que o resultado. Nessa perspectiva é um novo entendimento da produção artística como vetor de desenvolvimento humano, como pesquisa, como atitude de enfrentamento ,cuja dinâmica viva e orgânica leva à dimensão do construir, em vez de destruir. Contextos esses que são revelados por meio das obras reunidas nas três salas de exposição.  Na primeira sala, o caminho registra o contexto da cidade, da praça, da rua, da casa; abrigos, casulos, encontros e desencontros; a vida no Verde.

A segunda sala apresenta objetos produzidos pelos artistas e pela comunidade do Verde, e traz a metáfora da rede, que sintetiza o processo de trabalho conjunto, os sonhos e as esperanças de cada um.  Na terceira sala, outro núcleo de idéias evidencia as linguagens distintas de expressão de cada artista, que apesar da diversidade das formas e suportes,  demonstram uma profunda relação de forças e equilíbrio.  

Compondo-se de objetos e pinturas que fazem parte das séries do projeto Sonhos Mutantes, a instalação “A Tenda- Círculo de Meninas”, da artista Ddaniela Aguilar, transforma-se na representação estética dos sonhos, já que nas palavras da artista “ao travesseiro cabe a responsabilidade de apoiar a cabeça de quem deita para sonhar”. Os sonhos são, na verdade, a mola de engrenagem de construção de realidades, e a obra de DDaniela , resultado de uma pesquisa que se inicia em 2007, evoca a infinita possibilidade de “construir mundos”, coincidentemente nome do tema da Bienal de Veneza de 2009. Poderia, portanto, a artista ter participado com muita propriedade da edição de Veneza.

No centro da sala, a instalação de esculturas em madeira produzidas por Rogério Gomes, “A Esquina, Espaços Compartilhados”, discute o espaço urbano em suas dimensões coletiva e individual. Faz referência às esquinas das ruas das cidades como espaços de encontro, especialmente as esquinas da comunidade do Verde em ruas e becos que abrigam diálogos e todo o fluxo de vida que passa pelas ruas do bairro. Como a obra dos outros dois artistas que participam desta exposição, Ddaniela e Vera, as esculturas de Rogério também são produto de uma densa pesquisa com a comunidade do Verde, em Jaraguá, no ano de 2008. As formas verticalizadas remetem não somente à metáfora da cidade que cresce, mas à idéia de encontro com o outro e consigo mesmo.  A praça, denominada “Ágora” na Grécia clássica, é o espaço público por excelência, o lugar onde cabiam todos os cidadãos; o espaço cívico, onde se exerce a cidadania. A praça sugerida por Rogério é o espaço da inclusão.

 O conjunto escultórico de Vera Gamma traz a reflexão sobre a consciência de preservação do meio ambiente e sua condição de importância no equilíbrio do planeta terra. Do ponto de vista estético, o barroquismo e a organicidade das árvores plenas de texturas e de formas sinuosas revelam o simulacro da natureza. Buracos e potes de barro que se metamorfoseiam em árvores representam e resgatam símbolos da cultura popular local. De forte expressividade, os objetos escultóricos exuberantes e antropomórficos da artista desvendam tensões entre o homem e a natureza, entre a poesia e a realidade.

As três poéticas dos artistas Ddaniela Aguilar, Vera Gamma e Rogério Gomes são distintas e particulares. Têm, no entanto, inúmeros pontos de contato: em primeiro lugar, a visão humanista da própria arte, que os aproximou no programa de ações conjuntas do atelier do galpão 72; a visão artística que nasce de conceitos filosóficos comuns no que se refere à busca de equilíbrio entre corpo e espírito, plasticidade e dinamismo; uma arte que está sempre em processo de construção, usada como ferramenta transformadora; são artistas que expressam, por meio de formas distintas, o diálogo com a sua história e com a condição humana.

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