Edição de Junho
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30 JUNHO
2011
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social num
POSTAIS
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2011
do Conhecimento
PMGCA é destaque nacional e internacional
Rose Ferreira
A Ufal tem uma posição
privilegiada na Rede Interuniversitária
para o Desenvolvimento do Setor
Sucroalcooleiro (Ridesa) por conta do
Banco de Germoplasma, criado em 1966
pelo Sindaçúcar/AL e herdado em 1990
pela Universidade. Nesse Banco,
localizado na Serra do Ouro, no município de Murici, estão armazenados os
recursos genéticos do Programa de
Melhoramento Genético da Cana-deAçúcar (PMGCA), com 2.600 tipos de
cana, dentre espécies e híbridos.
“Por isso, a Ufal tem grandes
possibilidades de exportar essas
tecnologias. Além do México, estamos
analisando propostas da Austrália, Peru e
Angola, que visam à produção de etanol,
tanto para a substituição da gasolina em
seus carros, como também para
exportação”, avalia Geraldo Veríssimo,
coordenador do PMGCA, ressaltando a
importância da parceria com as empresas
que financiam o Programa e dos recursos
humanos que lhe dão suporte. “Atualmente, contamos com 12 estudantes de
iniciação científica e quatro de pósgraduação, além de renomados pesquisadores”, destaca Veríssimo.
Em 2010, 13 novas variedades RB
de cana-de-açúcar foram liberadas pela Ri-
Histórico e parcerias
Plantação de cana do tipo RB931003
desa, das quais cinco são de propriedade
da Universidade Federal de Alagoas –
RB931003, RB931011, RB951541, RB98710
e RB99395. As duas primeiras, mais rústicas,
são tolerantes a estresses hídricos, e as três
últimas, são precoces e ricas em açúcar, além
de possuirem elevada produtividade.
As variedades RB são fruto de
pesquisa em várias áreas e apresentam
características de grande importância de
produtividade e resistência a doenças e
pragas das diversas regiões. Atualmente, 60% da área cultivada no Brasil
são de variedades RB. Dos 80 tipos
apresentados no mais recente Catálogo
Nacional, 22 foram obtidos pelo
PMGCA, disponibilizando material genético de ponta, testado em diferentes
ambientes de produção de regiões
canavieiras.
A Ridesa nasceu do antigo
Programa Nacional de Melhoramento
Genético da Cana-de-açúcar (Planalsucar),
programa do governo federal que, em
1990, foi assumido por um grupo de
universidades federais. Em 21 anos de
história, foram desenvolvidas 59
variedades de cana-de-açúcar, somadas às
19 produzidas pelo Planalsucar. Atualmente, a rede conta com 246 profissionais
de uma equipe multidisciplinar, 89
professores e pesquisadores, 62 técnicos
agrícolas, 75 técnicos operacionais e 20
administrativos.
O sucesso da Ridesa se deve em
parte à parceria público-privada, já que são
300 empresas conveniadas. De acordo com
Renato Cunha, representante do setor
sucroenergético, essas parcerias fazem com
que o Brasil se diferencie na área de energia,
ocupando posição de vanguarda.
Segundo a reitora da Ufal e
presidente da Ridesa, Ana Dayse Dorea, os
reitores sabem da responsabilidade para com
a pesquisa e a formação de novos quadros
nas universidades, que precisam de
renovação e qualificação. Por isso, a Andifes
apoia a Ridesa e a parceria público-privada
também deve ter continuidade.
Reserva do Ibama frente à poluição de Maceió
Jhonathan Pino e Lenilda Luna
EXPEDIENTE
Alunos e mestrandos de
Meteorologia passaram várias noites
acampados dentro da reserva do Ibama,
na Gruta. Com os equipamentos do
Laboratório de Poluição, do Instituto de
Ciências Atmosféricas da Ufal (Icat), os
pesquisadores levantaram dados, de 20
de abril a 20 de maio, para determinar os
níveis de compostos nitrogenados
(NOx) e dióxido de carbono
(CO2)
presentes nos 55 hectares de mata
atlântica secundária.
“A intenção é saber se a presença
da mata contribui para reduzir os níveis
de poluição atmosférica produzidas pela
Avenida Fernandes Lima, por exemplo,
que é uma das áreas mais críticas da
nossa cidade”, explica Edizânio José Belo
Vieira, aluno da graduação em
Meteorologia.
O Laboratório do Icat conta uma
unidade móvel bem equipada. No
automóvel utilizado pelos alunos no
Ibama tinha um Analisador Automático de CO 2 e outro para análise de
Óxidos Nitrogenados,
da empresa
Teledyne. “Com esses equipamentos,
podemos coletar dados a cada 10
minutos, para fazer uma avaliação de
como a mata reage a esses poluentes
e se é capaz de absorver estes
compostos”, diz Mikael Rodrigues,
mestrando em Meteorologia.
Os alunos fizeram as medições das
22h até as 6h do dia seguinte. “Foi uma
aventura passar essas noites numa
tenda, no Ibama, cuidando dos equipamentos para que não fossem danificados pelos macacos e outros animais
que ficam livres na reserva”, contou
Edizânio.
Eles coletaram a primeira amos-
Postais do Conhecimento, com o tema A mola-mestra da
pesquisa, é o segundo número de uma coleção comemorativa dos
50 anos da Universidade Federal de Alagoas, publicada em 2011.
Tiragem: 10.000 exemplares
GESTÃO
Ana Dayse Rezende Dorea – REITORA
Eurico de Barros Lôbo Filho – VICE-REITOR
Universidade Federal de Alagoas
Endereço: Campus A. C. Simões – Av. Lourival de Melo Mota, s/n. Tabuleiro do
Martins. Cep:52072-970. Maceió-AL
Assessoria de Comunicação (Ascom): 3214-1052
Pró-Reitoria de Extensão (Proex): 3214-1134
Coordenação de Assuntos Culturais: 3221-3122
tragem em maio, por ser um mês de
chuva, e voltarão a repetir as coletas em
setembro, que é um período mais seco.
“Queremos ver as reações atmosféricas
Aluno de Metereologia durante a pesquisa
nessas diferentes condições de temperatura
e umidade do ar”, explica Mikael.
Os dados levantados pelos alunos
serão analisados e servirão de base para
a dissertação de Mestrado da aluna Kátia
Monalisa e também para outros artigos
científicos que devem ser elaborados
pelo grupo.
“No final, queremos saber como
essa mata presente dentro da cidade
nos protege das altas temperaturas e
dos gases tóxicos, tornando o ambiente
mais brando, apesar da poluição gerada pela grande quantidade de automóveis no trânsito das cidades”,
concluem os pesquisadores.
A pesquisa é coordenada pelos
professores Ronabson Cardoso Fernandes,
mestre em Meteorologia, e Manoel Ferreira
do Nascimento Filho, doutor em FisicoQuímica do Meio Ambiente.
Coordenação Geral
Márcia Rejane Gonçalves Ferreira MTB 352/AL
Redatores
Lenilda Luna
Rose Ferreira
Joabson dos Santos
Simone Cavalcante
Nicolle Freire
Diana Monteiro
Jhonathan Pino
Ben-Hur Costa
Tâmara Albuquerque
Edição
Simone Cavalcante
Projeto Gráfico e Diagramação
Jailson Albuquerque
Revisão
Rose Ferreira
Fotografias
Divulgação
Vera Gamma, autora da
escultura revelada na foto da
capa. A obra integra a Série Mola
da exposição individual
realizada na Pinacoteca
Universitária em 2005. Vera é
formada em Arquitetura pela
Ufal. Além de desenvolver
projetos nessa área, atua na
organização e produção de
eventos culturais.
POSTAIS
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do Conhecimento
Novos avanços para a agricultura familiar
Diana Monteiro
A produção de substratos para
obtenção
de
agroecológicas
mudas
de
voltadas
hortaliças
diretamente
que
o
resultado
bastante
positivo
permitirá aos 22 agricultores familiares
cooperados
o recebimento do selo de
para os agricultores familiares, dentro do
produto agroecológico, ampliando assim o
Arranjo
espaço no mercado para seus produtos.
Produtivo
Local
(APL)
da
Horticultura, é uma realidade na região
“Como há em Arapiraca uma Feira de
Agreste
Produtos Orgânicos, a certificação dos
de
Alagoas.
A
pesquisa,
intitulada “Substrato alternativo para
produtos
produção
consumidores. Isso reflete no aumento
de
mudas
agroecológicas”,
de
hortaliças
coordenada
pelo
professor Valdevan Rosendo dos Santos,
traz
confiança
para
os
das vendas e na qualidade de vida dos
cooperados”, ressalta Valdevan.
do curso de Agronomia do Campus
O pesquisador também destaca o
Arapiraca, foi solicitada pelo Serviço
ganho econômico e, principalmente,
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
ambiental que a pesquisa proporciona, já que
Empresas (Sebrae-AL).
há a opção segura de substituir os fertilizantes
De acordo com Valdevan, o estudo
sintéticos derivados de petróleo. “Além de
científico utilizou raspa e folhagem de
possuírem preço controlado pelo mercado
mandioca, capim-elefante, esterco bovino,
internacional do petróleo, os fertilizantes têm
pó-de-rocha, fosfato natural e cinza de
uma relação direta com a emissão de CO²,
farinha como materiais para a obtenção de
que é um gás que contribui para o efeito
três substratos a serem utilizados na
estufa”, esclarece Valdevan.
produção de alface, pimentão e brócolis, que
Máquina de compostagem da Cooperativa Terragreste
poderá beneficiar produtores conven-
sadas respondem às condições climáticas
tiveram resultados superiores ou iguais aos
Adubação verde substitui adubos
cionais e ecológicos da região Agreste, que
(precipitação e temperatura), que diferem
substratos utilizados pelos produtores de
sintéticos
hoje possui de 600 a 800 agricultores
de ano para ano. “Além do fornecimento
familiares produtores de hortaliças. “O
de nutrientes, essas plantas propor-
mudas da região. “Constatamos que os três
Outra pesquisa de relevância
substratos alternativos obtidos na nossa
social, econômica e ambiental para o
resultado dos dois primeiros anos de
cionam melhoria nas condições físicas do
pesquisa podem substituir o substrato
desenvolvimento do Agreste de Alagoas,
pesquisa indicam que as sete espécies
solo. Isso fará com que haja economia por
adquirido comercialmente”, frisa Valdevan.
A
pesquisa
contou
com
coordenada
a
Valdevan
também
pelo
professor
pesquisadas apresentam potencial de uso
parte dos produtores na aquisição de
Rosendo,
vem
avaliando
como adubação verde na região. Estamos
fertilizantes sintéticos, uma vez que a
parceria da Cooperativa Terragreste de
espécies de leguminosas para uso como
partindo para a etapa de definir como se
adubação verde substituirá parte desse
Produtores Agroecológicos de Arapiraca,
adubação verde em áreas cultivadas com
dá a decomposição das leguminosas
insumo, baixando o custo da produção”,
garante o pesquisador.
que agrega atualmente 22 agricultores
hortaliças. O objetivo é substituir parte
pesquisadas e a liberação dos nutrientes
familiares. A parte prática foi executada
dos
produzidos
contidos na sua biomassa, ou seja, quanto
Os parceiros da pesquisa são o
na propriedade de um dos cooperados da
industrialmente pela adubação verde.
tempo leva para essa biomassa ser
Centro de Ciências Agrárias do Campus
adubos
Terragreste e teve a participação de um
Além
aluno do curso de Agronomia, bolsista do
experimentos
Programa
Iniciação
Arapiraca,
utilizam
áreas
os
devolvida para o solo, e como é a dinâmica
Maceió, o Arranjo Produtivo Local da Horti-
de
de liberação dos nutrientes”, explica
cultura, a Cooperativa Terragreste e as
e
produção convencional de hortaliças na
comunidade de Pau d'Arco e de produção
da
período de três anos, com conclusão
município de Arapiraca. Integram à equipe
Ao falar sobre a contribuição da
comunidade de Fleixeiras, pertencentes
prevista para este ano, teve a finalidade
docentes, alunos e engenheiros agrônomos,
para
Micro
Científica
Campus
Pequenas
Tecnológica
de
do
sintéticos
e
Empresas (Bitec/ Sebrae).
Ufal para o desenvolvimento econômico e
social da região Agreste, o professor diz
agroecológica
de
hortaliças
ao município de Arapiraca.
Em seu terceiro ano, a pesquisa
Valdevan.
A avaliação das espécies por um
Secretarias de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário de Alagoas e a do
de obter resultados médios confiáveis,
representantes do Governo Estadual e do
pois as espécies de leguminosas pesqui-
Instituto Naturagro.
O destino dos sedimentos do Rio São Francisco
Jhonathan Pino e Lenilda Luna
O assoreamento das margens dos
rios, a diminuição da vazão nos oceanos e
a queda do índice de nutrientes
disponíveis para a reprodução dos animais
marinhos são alguns entre os diversos
problemas enfrentados pelo Rio São
Francisco. A partir da verificação dessa
realidade, pesquisadores de 13 universidades no país se uniram para formar o
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia
de Transferência de Materiais Continente
Oceano, financiado pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq).
Com o trabalho conjunto de 60
pesquisadores, o projeto tem como principal
meta avaliar quais materiais estão sendo
levados dos rios para o oceano, verificando a
quantidade, as transformações e o destino de
sedimentos e nutrientes do continente para o
mar, na costa Leste-Nordeste brasileira. Além
disso, pretende-se estudar a interação dos
rios com as cadeias produtivas locais, como o
desenvolvimento da pesca, aquicultura e
agricultura irrigada dos municípios das bacias
em estudo.
O professor Paulo Petter Medeiros,
do Instituto de Geografia e Desenvolvimento
do Meio Ambiente (Igdema), coordena o
projeto na Ufal e é responsável pela pesquisa
na área do Baixo São Francisco. Ele estuda
particularmente as consequências da sedimentação e a contaminação do leito pela
ração e os excrementos produzidos pela
produção dos peixes no desenvolvimento das
atividades da piscicultura.
Um dos focos do grupo de pesquisa
da Ufal, que está ligado ao Laboratório
Integrado de Ciências do Mar e Naturais
(Labmar), é o efeito da piscicultura sobre a
qualidade da água do Rio São Francisco. “Só
em uma única piscicultura em Xingó temos
900 tanques-redes, com uma produção de
dez toneladas de peixes por mês”, explica o
professor.
Segundo Paulo Petter, a grande
quantidade de ração utilizada para alimentar
esses peixes produz resíduos que
ficam nas águas e são responsáveis pelo
aumento do fitoplâncton que, em grande
quantidade, acaba liberando toxinas, que
podem inviabilizar a própria atividade
pesqueira e de criação de peixes.
“O Rio São Francisco foi bastante
alterado pela ação dos homens. São grandes
barragens para geração de energia nas
hidrelétricas, as matas ciliares que foram
arrancadas para agricultura e a piscicultura,
que cada dia mais vai substituindo a pesca no
rio”, explica o oceanógrafo da Ufal. “São
poucas as chances de reverter essa situação.
Temos que trabalhar para que não se degrade
mais”, pondera o pesquisador.
Impactos ambientais potencializados
por mudanças globais e alterações dos
usos dos solos em âmbito regional são
avaliados por meio de alterações em
indicadores biogeoquímicos, como a
salinidade da água subterrânea e a biodi-
Foto aérea da Foz do Rio
São Francisco
versidade, como a cobertura dos mangues.
Além da avaliação do impacto ambiental, o
projeto, que já atua desde 2008, deve ser
renovado por mais três anos.
3
A investigaç ã o como mola do saber
Simone Cavalcante e Lenilda Luna
Todas as universidades públicas brasileiras
buscam na pesquisa uma base de sustentação de seu
projeto, mas diferentes são os caminhos para sua
implantação. A Universidade Federal de Alagoas (Ufal),
sem fugir à regra, vêm, ao longo de sua história,
tentando estabelecer um ambiente motivador do
pensamento crítico e das inovações científicas.
Hoje, a pesquisa está inserida em
praticamente todas as ações acadêmicas da Ufal. Mas
nem sempre foi assim. Nos dez primeiros anos de
existência, sob o reitorado de Aristóteles Calazans
Simões, a instituição voltou sua política somente para
as questões de infraestrutura. Era uma fase tomada
por obras físicas, com reformas e adaptações das
faculdades isoladas que funcionavam na região central
de Maceió e construção do campus no Tabuleiro do
Martins. Enquanto a universidade avança no plano
físico, as preocupações com o ensino, a pesquisa e a
extensão caminham a passos lentos.
Para enfrentar o déficit no número de cursos,
docentes e técnico-administrativos, o segundo reitor,
Nabuco Lopes, inicia uma corrida pela expansão e
melhoria do funcionamento da universidade. A ideia
era “possibilitar maior produtividade no processo de
ensino, desencadear a pesquisa criadora e
implementar a extensão”, é o que revela um relatório
publicado no final de sua gestão. Para incentivar a
produção científica, foram criados o Conselho de
Coordenação de Ensino e Pesquisa, a Comissão
Permanente de Tempo Integral e Dedicação
Exclusiva (Copertide) e a Coordenadoria de Pósgraduação e Pesquisa (CPP).
A professora Vera Porangaba, que articulava
as ações da pós dentro da CPP, afirma que a
pesquisa, nessa época, era incipiente e a oferta de
cursos de pós-graduação não existia. Para ela, uma
nova fase começa a ocorrer, em 1972, com a
implantação do Plano Institucional de Capacitação de
Docentes (PICD/Capes), que distribuiu bolsas de
Mestrado, Doutorado e Pós-doc para professores
estudarem no exterior. A Ufal foi uma das quatro
primeiras instituições do país contempladas com
esse Plano, que tinha como desdobramento o
estímulo à produção acadêmica.
Com o incentivo à pós-graduação e a
abertura de convênios com instituições como Capes,
CNPq, Finep e Sudene, novos pesquisadores se
lançaram às descobertas científicas. A maioria dos
estudos se concentrou, inicialmente, nas áreas de
ciências biológicas e da saúde, a exemplo do projeto
de Levantamento do Potencial Marinho e Estuarino e
Desenvolvimento de Técnicas de Cultivo no Estado
de Alagoas, realizado pelo Centro de Ciências
Biológicas. O Laboratório de Biologia Marinha, criado
em 1973, surgiu para dar suporte técnico aos
estudos realizados. Inicialmente, o laboratório
passou a funcionar no Campus Tamandaré, primeira
sede da Ufal, localizada no Pontal da Barra.
Um dos pontos de articulação do que estava
sendo produzido na universidade foi a realização, em
1977, do I Encontro de Pesquisa Científica da Ufal, no
reitorado de Manoel Ramalho, que reuniu
representantes da SBPC, Capes, CNPq, além de
diretores dos centros acadêmicos. O encontro
contribuiu para a divulgação de trabalhos científicos
até então obscurecidos no ambiente acadêmico.
No início dos anos 80, foi criada a PróReitoria de Assuntos de Pós-graduação e Pesquisa,
com o objetivo de “estimular o desenvolvimento de
programas de pesquisas voltadas à problemática
regional”. O reitor João Azevedo continuou se
valendo dos recursos do PICD e dos convênios com
instituições públicas e privadas, mas buscou
dinamizar a área com outro enfoque: intensificar a
capacitação de pesquisadores e a formação de
grupos de pesquisa com o olhar para os problemas
regionais e locais. Os cursos de Física, Química e
Letras formaram os primeiros grupos. Num
levantamento realizado naquela época, havia uma
centena de pesquisas em andamento e, no segmento
da pós-graduação, 104 docentes concluíam ou
cursavam Mestrado e Doutorado no país e 10
estudavam no exterior.
O professor Enaldo Fonseca Sarmento, na
época vinculado ao curso de Física, participou
intensamente das mudanças ocorridas nos anos 70 e
80. Para ele, dois fatos contribuíram para a cultura da
pesquisa dentro da Ufal: a contratação de novos
professores com Mestrado e Doutorado, por meio de
contrato especial ou bolsa de estudo, e a melhoria da
capacitação dos docentes que já estavam em
atividade. “A absorção de profissionais mestres e
doutores implantou valores novos, um modo de agir
diferente na instituição”, enfatiza o professor. Em
Física, essas mudanças contribuíram intensamente
para a reformulação do departamento, tanto nas
questões administrativas como naquelas que tocam
a produção científica, como a criação de laboratórios,
a aquisição de equipamentos e a formação de linhas
de pesquisa.
Os rumos da pesquisa e da pós-graduação se
alargam no final dos anos 80, quando a universidade
toma um empréstimo do Banco Interamericano de
Desenvolvimento, o MEC/BID III. Com esses
recursos, a capacitação de professores e técnicos é
associada à necessidade de avanço na estrutura
física e nas instalações técnicas da universidade de
forma universal, a exemplo da criação de mais
laboratórios de pesquisa e bibliotecas setoriais.
Dentro desse clima, são criados os primeiros cursos
de pós-graduação, que teve o pioneirismo do
Mestrado em Letras, implantado em 1989, e quase
todos os cursos de graduação passam a ser
reconhecidos pelo MEC. Daí por diante, a pesquisa e
a pós-graduação passam por um redesenho,
tornando mais institucional o ambiente para a
produção acadêmico-científica.
Os avanç os e desafios da pesquisa na atualidade
A formação de grupos de pesquisa
e a criação de cursos de pós-graduação
tiveram um aumento significativo nos
últimos anos na Ufal. Isso se deve ao
estímulo de financiamentos, por meio de
fundações de apoio à pesquisa, e à
realização de congressos, publicações e
outras atividades voltadas para a
divulgação da produção científica.
A Pró-reitoria de Pesquisa e Pósgraduação é o órgão responsável pela coordenação e acompanhamento dessas
ações, que contam em grande parte com o
apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa
em Alagoas (Fapeal) e o financiamento de
agências nacionais, como a Financiadora de
Estudos e Projetos (Finep), a Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes) e o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq).
No segmento da pós-graduação,
funcionam atualmente 27 cursos de Mestrado,
8 de Doutorado e 256 grupos de pesquisa
certificados pelo CNPq, assim distribuídos: 22
grupos em Ciências Agrárias; 17 em Ciências
Biológicas; 41 em Ciências da Saúde; 32 em
Ciências Exatas e da Terra; 53 em Ciências
Humanas; 44 em Ciências Sociais Aplicadas;
20 em Linguística, Letras e Artes; e 27 nas
Engenharias. A qualificação de quadros técnicos, por meio dos cursos de pós-graduação e
o desenvolvimento de pesquisas aplicadas
vêm contribuindo para o desenvolvimento de
vários setores do Estado de Alagoas, como
educação, saúde e tecnologias produtivas.
Praticamente todos os departamentos da Ufal têm professores e alunos
envolvidos em produção científica, fortalecendo um dos pilares fundamentais da
universidade, que muitas vezes ficou relegado
por conta da dedicação ao ensino. Hoje, são
1.113 linhas de pesquisa em desenvolvimento
nos três campi, dentro dos Programas
Institucionais de Bolsas de Iniciação Científica
(Pibic) e em Desenvolvimento Tecnológico e
Inovação (Pibiti). Os alunos tiveram muitos
ganhos com esse investimento. Eles
participam, aprendem e recebem um apoio
financeiro por essa dedicação à produção
científica. A Ufal conta com 498 bolsistas de
iniciação científica, sendo 25 no segmento de
Ações Afirmativas.
A universidade tem consolidado uma
parceria firme com a Fapeal, que libera
recursos e concede bolsas de estudo para
pesquisas em diferentes áreas. Além disso,
vem estabelecendo convênios com outras
instituições públicas e com o setor privado,
como empresas dos segmentos de laticínio,
químico e petroquímico, e usinas de açúcar e
álcool. Uma parte desses acordos é administrada pela Fundação Universitária de
Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa
(Fundepes), uma instituição criada pela
Universidade Federal de Alagoas, Federação
das Indústrias do Estado de Alagoas,
Federação da Agricultura do Estado de
Alagoas e Federação do Comércio do Estado
de Alagoas.
Avanços no segmento
Além do aumento no número de
cursos de pós-graduação, de linhas e
grupos de pesquisa, mais dois avanços
podem ser destacados no processo de
consolidação da pesquisa acadêmica
dentro da Ufal. Um deles é a presença de
um comitê de ética em pesquisa na
universidade, que avalia os conteúdos dos
trabalhos científicos a partir de sua
relação com os indivíduos e comunidades
envolvidas e com os valores éticos e
profissionais em voga na sociedade. O
comitê é formado por professores de
várias áreas do conhecimento e conta
também com participantes externos.
Para o coordenador do comitê e
professor de Filosofia, Walter Mathias, “a tarefa
dos comitês de ética é elucidar os valores em
jogo na investigação científica e tecnológica e
seus resultados, expondo-os à consideração e
discussão públicas. Desse modo, os comitês de
ética são uma instância de argumentação
crítica, fundada na transversalidade de
diversos saberes sobre questões relevantes
para a sociedade e para a integridade e o
desenvolvimento dos sujeitos envolvidos no
processo de pesquisa e, ao mesmo tempo,
para a integridade e desenvolvimento da
ciência”. Os projetos são avaliados por meio de
pareceres que levam em consideração a
responsabilidade social e filosófica do fazer
científico e suas implicações para o bem-estar
da coletividade.
Outro avanço no setor de pesquisa é
a preocupação com a propriedade intelectual, por meio do Núcleo de Inovação
Tecnológica (NIT). Atualmente, os pesquisadores estão mais conscientes da
importância de “proteger” os resultados de
suas pesquisas contra qualquer tipo de uso
indevido. A Ufal tem, atualmente, dez
patentes depositadas, além de sete
cultivares de cana-de-açúcar protegidos e
registrados, e cinco em fase de proteção.
O entusiasmo dos alunos
Mais do que conhecimento teórico,
todo aluno de graduação é ansioso por
aplicar na prática os ensinamentos
recebidos em sala de aula. Esse entusiasmo
é alimentado por professores que querem
formar novos pesquisadores e encontram
nesses jovens, cheios de vontade de
aprender, fortes aliados para o desenvolvimento dos projetos.
Vale citar o exemplo do aluno do 5º
período de Farmácia, José Marcos dos Santos
Oliveira. Ele é bolsista de iniciação científica há
um ano, trabalhando com o professor Ticiano
Gomes no projeto “Padronização de extratos
derivados de fitoterápicos/opoterápicos como
estratégia racional de desenvolvimento de
bioprodutos: desenvolvimento de métodos
cromatográficos e microbiológico”, aprovado
em novembro de 2010 pelo CNPq, que
recebeu recursos na ordem de dezoito mil
reais. Mesmo antes de ser aprovado como
bolsista do Pibic, Marcos já havia se
apresentado ao professor Ticiano como
voluntário para contribuir na pesquisa. “O que
me atraiu foi a possibilidade de conhecer a
metodologia de produção de um novo
fármaco, a partir de substâncias originadas de
plantas nativas do nosso Estado. Acredito que
todo aluno quer isso: aplicar conhecimentos
em um projeto prático”, ressalta o estudante.
Marcos conta que a aprendizagem
em um projeto de pesquisa é surpreendente.
“Vamos entendendo melhor como deve ser o
nosso desempenho enquanto profissionais e
cientistas”, diz ele. O estudante destaca
também que participar de pesquisas
científicas é um grande diferencial para o
currículo e para a formação profissional,
principalmente quando a pesquisa tem uma
boa aceitação e repercussão na sociedade.
“Já saímos da universidade com uma
formação diferenciada”, avalia o jovem
pesquisador.
Outra vantagem de participar das
pesquisas, aponta ele, é tornar muito mais
fácil a preparação do projeto de Mestrado.
“Alunos bolsistas de iniciação científica já se
formam com uma boa base para continuar
a formação acadêmica. Eu não quero parar.
O professor já pediu a renovação da minha
bolsa. Vou continuar pesquisando e quero
sair da graduação direto para o Mestrado
em Farmácia”, planeja o aluno. Prestes a
finalizar seu relatório de iniciação científica,
Marcos pretende apresentar o trabalho
desenvolvido no Congresso Acadêmico da
Ufal. O Congresso foi criado justamente
com o objetivo de compartilhar a produção
científica e de extensão dos vários cursos
da universidade.
Laboratório de Biologia Marinha, um dos primeiros aparatos
técnicos de pesquisa da universidade na década de 70
ratório de
Inauguração do Labo
em 1995,
tal
ge
Ve
ia
log
Biotecno
ep
Fin
com recursos do
Laboratório de pesq
uisa em Ciências
Naturais, 1972
Primeira defesa de dissertação da Pós-graduação
em Letras, realizada em 1991
5
POSTAIS
20 MAIO
2011
do Conhecimento
A estrutura social do
crime em Alagoas
Lenilda Luna
Saber quais são os crimes que se
repetem em Alagoas e aqueles que já
fazem parte da realidade local, em quais
condições e qual o perfil dos criminosos.
Essas são algumas das questões que
buscam ser respondidas em uma
pesquisa, coordenada pela professora
Célia Nonata, doutora em História.
A mineira, que passou no
concurso da Ufal em 2010, trouxe na
bagagem o interesse pela História Social
do Crime e a necessidade de analisar
melhor os dados para compreensão da
violência que atinge as cidades brasileiras.
O grupo de pesquisa História Social do
Crime possui pesquisadores de vários
estados do Brasil e recebe a contribuição
da Polícia Militar de Alagoas (PM).
O grupo possui 18 pesquisadores,
e as linhas de pesquisa atuam em áreas
direcionadas aos crimes passionais,
homicídios, história do sistema penitenciário, crime e literatura, crime e gênero. “O
meu primeiro contato foi com a diretora do
presídio feminino, depois propusemos à
secretaria de Defesa Social um convênio”,
explica a professora.
O Convênio entre a Ufal e a
Secretaria de Defesa Social visa à implementação de uma Pós-graduação em Análise
Criminal e a criação de um Instituto de
Pesquisa em Criminalidade e Segurança
Pública, para proporcionar a análise de dados
sobre a violência nesta região e capacitar
melhor os agentes de segurança para
combater o crime com o aporte de dados
científicos, que facilitem um planejamento
mais eficiente das ações. “Não queremos
formar mais um contador de dados
estatísticos, e sim um analista, que possa
aprofundar teoricamente a situação e
apontar caminhos para a solução dos
problemas”, diz a pesquisadora.
Sob a orientação de Célia
Nonata, está sendo elaborado um
mapeamento dos dados do 4º Batalhão
da Polícia Militar, com a análise dos
boletins de ocorrência de 2005 a 2010.
“Seguimos a metodologia da Escola de
Chicago, que surgiu nos Estados Unidos,
nos anos 20, e trouxe uma grande
contribuição à Sociologia, Psicologia
Social e Ciências da Comunicação”,
destaca a pesquisadora.
Segundo Célia Nonata, a Escola de
Chicago foi inovadora porque levantou a
questão do desvio social motivado pelo meio,
pela impunidade (a Teoria das Janelas
Quebradas) e outras possibilidades para o
crime que são analisados pelo grupo. “Em
Chicago, naquele período, culpavam os
imigrantes e o crescimento populacional pelo
aumento da criminalidade, mas a análise dos
dados mostrou que a maioria dos crimes era
resultado da falta de perspectiva de vida para
muitos dos que estavam chegando, da
pobreza, de zonas sem vigilância policial, da
falta de condições sociais como educação e
lazer”, explica a professora.
Com a análise dos dados, a Escola
de Chicago possibilitou o planejamento
não só de ações de polícia, mas principalmente de políticas sociais para
melhorar a condição de vida dos imigrantes, oferecendo cultura, educação e
possibilidades de trabalho. “É dessa forma
que se combate a criminalidade a longo
prazo. Não adianta ficar construindo mais
e mais cadeias, para criminosos cada vez
mais jovens”, analisa Célia.
Historiografia criminal
O trabalho do grupo não prevê
resultados imediatos, mas pretende agir
na transformação do meio social.
"Existem hábitos criminais que precisam
ser compreendidos em cada comunidade, para entendermos qual é o padrão
e como pode ser alterado", explica e
pesquisadora.
É comum, na mídia, que os crimes,
principalmente envolvendo jovens, na
região metropolitana de Maceió, sejam
relacionados ao consumo e tráfico de
drogas. "Não partimos desse pressuposto,
mas analisando os boletins de ocorrência,
percebemos que existe um padrão de
execução sumária que precisa ser
investigado; são crimes com características
de morte por encomenda", denuncia Célia.
A pesquisadora destaca ainda que
existe uma grande quantidade de relatos de
crimes privados associados ao consumo de
álcool. "Ficamos impressionados como
existem casos de espancamentos de
mulheres praticados pelos companheiros
delas, quando estão alcoolizados. E esses
casos são mal relatados nos boletins de
ocorrência, como se fossem situações rotineiras, de menor importância, mas é quase
uma epidemia", relata a professora.
Engajamento de professores e
alunos
Apesar de complexo, o tema
proposto pela professora Célia Nonata
está atraindo professores e alunos
interessados em entender melhor a
questão da criminalidade. Um deles é
o professor Ricardo Silva, ex-policial
civil e agora professor da Ufal no eixo
de Educação, do Campus do Sertão.
"Como tive essa experiência de agente
de segurança, para mim será importante aprofundar essa reflexão teórica
a partir da realidade com a qual me
confrontava diariamente", analisa
Ricardo.
Outro entusiasmado com a
pesquisa é o aluno de bacharelado em
História, Maia Junior. Ele também tem
experiência na área de segurança
pública, porque trabalhou como agente
penitenciário. "O que me levou a participar desse grupo foi o interesse em
pesquisar sobre a violência no meu
Estado, buscar respostas científicas, e
com isso poder ajudar a diminuir a
criminalidade que está enorme em Alagoas e no Brasil", ressalta Maia.
Para mostrar os frutos do
trabalho, o grupo pretende realizar, ainda
este ano, um Simpósio Internacional em
História Social do Crime, reunindo pesquisadores e pesquisas da área.
Cultura como fonte de investigação
Nicolle Freire
No segmento da cultura,
existem diversos projetos de pesquisa
em atuação na universidade. As
iniciativas estão voltadas para o
levantamento de dados, a discussão
acadêmica e o registro de informações,
por meio de recursos como o
audiovisual, a fotografia e o banco de
dados. A maioria dessas ações concilia
a pesquisa à experiência do ensino e à
proposta de diálogo da extensão.
Dois projetos se dedicam à
temática da música. São eles: o grupo
Metodologia e Concepção Social no Ensino
Coletivo Instrumental, do curso de Música, e
Cultura, Comunicação e Música Popular
Massiva, de Comunicação Social. Este
último tem como objetivo principal
desenvolver metodologias de análise das
linguagens, dos gêneros e dos produtos
midiáticos.
Em 2011, o grupo organizou o 1º
Encontro Nacional de Pesquisadores em
Comunicação e Música, o Comúsica,
reunindo músicos e pesquisadores para
discutir o papel que desempenha a indústria
da música no processo criativo e o papel da
mídia nessa cadeia produtiva. O livro Dez
6
anos a mil: mídia e música popular massiva
em tempos de internet também é fruto do
grupo. O trabalho pode ser baixado na
internet gratuitamente no hotsite
www.dezanosamil.com.br, disponível nas
versões para tablets (e-pub), leitores
(kindles) e PDF.
Já o grupo de pesquisa vinculado
à graduação em Música procura estudar
o ensino de instrumentos musicais como
violão, piano e instrumentos de banda.
Para o coordenador Marcos Moreira,
“investigar a música em sua totalidade
parece pretensioso, mas é que tudo está
relacionado, grupos, coletivos, relações
de gênero, afetividade, na igualdade de
possibilidades de aprendizado”. Entre as
ações do grupo, destacam-se a Jornada
Pedagógica, encontro anual para
capacitação de músicos de banda, a
publicação da revista Musifal, disponível
no site www.revistaufal/musifal e um
convênio internacional assinado entre a
Ufal e o Instituto Superior de Educação
Piaget, de Portugal.
Pesquisadores dos grupos
Estudos da Paisagem, ligado ao
Programa de Pós-graduação em Dinâmicas do Espaço Habitado, e Representações do Lugar (Relu), vêm atuando
na área de Arquitetura.
O primeiro busca mapear
manifestações arquitetônicas, urbanas
e paisagísticas, a partir de um conceito
de paisagem que não separa os
aspectos naturais dos construídos. A
atuação do grupo se estende à geração
de produtos culturais no campo do
audiovisual e design gráfico, por meio
do Laboratório de Criação Tabaetê.
Numa outra vertente, o Relu
aborda estudos de representação, utilizando
o recurso do banco de dados virtual para
formar um acervo de imagens sobre a
arquitetura de Alagoas, a exemplo do
resgate da “Arquitetura Escolar de Maceió”.
O grupo Antropologia Visual em
Alagoas (Aval), ligado ao Instituto de
Ciências Sociais, utiliza os recursos de áudio
e audiovisual para armazenamento e
preservação das informações levantadas.
Os pesquisadores vêm construindo um
acervo com temas do universo indígena e da
cultura popular. Uma ação permanente do
grupo é a organização da Mostra de Filme e
Fotografia Etnográficos no segmento de
Estudos e Movimentos Étnicos. Essas ações
contam com a parceria do Museu Théo
Brandão (MTB).
Outros grupos de pesquisa,
principalmente na área de Humanas,
também vêm lançando investigações
no segmento cultural. As propostas, cadastradas no site da Pró-reitoria de
Pesquisa e Pós-graduação, circulam em
congressos, seminários e mostras dentro e fora do país. Para ter acesso, visite
o site: http://sites2.ufal.br/propep.
POSTAIS
20 MAIO
2011
do Conhecimento
Própolis vermelha no tratamento da Aids e
no combate a bactérias multirresistentes
Lenilda Luna
O Grupo de Pesquisa em Tecnologia
e Controle de Qualidade dos Medicamentos,
da Escola de Enfermagem e Farmácia
(Esenfar), coordenado pelo professor Ticiano
Gomes, está investigando as propriedades
farmacológicas da própolis vermelha,
encontrada no litoral alagoano. Já existem
estudos que comprovam que os flavonóides
dessa substância são antirretrovirais, ou seja,
inibem o crescimento do vírus da Aids.
A própolis é uma substância
produzida pelas abelhas, a partir de coletas
na vegetação. Por isso, pode ter cores e
propriedades diversas, dependendo do
ecossistema local. A própolis vermelha de
Alagoas tem características específicas
porque é produzida a partir da resina do
rabo-de-bugio, planta encontrada nos
manguezais.
Os flavonóides, que são compostos
químicos encontrados nas plantas,
extraídos da própolis vermelha, são
comprovadamente antioxidantes, ou seja,
retardam o envelhecimento das células.
“Também já comprovamos nos nossos
estudos que a própolis vermelha contribui
para fortalecer o sistema imunológico, mas
precisamos de equipamentos mais precisos
para estudar as propriedades antirretrovirais (contra a Aids), como já foi
comprovado em Cuba, e anticancerígenas”,
esclarece Ticiano.
Segundo o professor, ainda será
necessário investir nos equipamentos do
laboratório para aprofundar as pesquisas
e conseguir comprovar as propriedades
químicas, fisioquímicas, farmacológicas
e toxicológicas da própolis vermelha.
“Nossa pesquisa aqui na Ufal é recente,
tem menos de cinco anos. Ainda estamos equipando o laboratório, mas temos
perspectivas de produzir boas pesquisas
para a sociedade alagoana”, ressalta o
pesquisador da Esenfar.
As pesquisas realizadas no grupo
já conseguiram comprovar as ações
antimicrobianas e antifúngicas. O laboratório de controle de qualidade dos
medicamentos deverá receber um
aporte de recursos de 80 mil reais por
meio de três projetos aprovados pelo
CNPq para investimento em infraestrutura.
Caule da platna rabo-de-bugio
O grupo de pesquisa está desenvolvendo
um método de cromatografia para o
controle de qualidade da própolis in natura
e de seus bioprodutos. “Como é uma
matéria-prima que sofre alterações
dependendo do clima e da vegetação,
precisamos ter uma padronização do
produto final. Com isso, queremos
desenvolver pomadas e cremes à base de
própolis, que podem ser utilizados como
cicatrizantes, por exemplo”, diz Ticiano.
Inibição de crescimento da
bactéria multirresistente
A tintura de própolis vermelha
de Alagoas apresentou atividade
antimicrobiana contra a ação da bactéria
multirresistente (Acinetobacter
baumannii), que provocou a m o r t e de
nove pessoas internadas no Hospital
Universitário. Os técnicos do setor de
análises clínicas do HU, Jeane Rodrigues
Farias, Eliege Maria dos Santos e Jorge
Ferreira, realizaram o ensaio com alguns
antibióticos e também com as tinturas de
própolis vermelha e tintura de cúrcuma
longa (açafrão da terra), considerados
como alimentos funcionais devido às
suas propriedades antioxidante,
terapêutica e nutricional.
Na pesquisa com antibióticos
convencionais, apenas gentamicina,
tigeciclina e colistina conseguiram inibir o
crescimento da bactéria multirresistente,
porém a Acinetobacter baumannii sobreviveu à maioria dos antibióticos
testados, o que demonstra a forte capacidade de resistência dessa bactéria.
Nos ensaios realizados com a
tintura de própolis a 10% e tintura de cúrcuma a
Ensaio de atividade antimicrobiana da tintura de
própolis vermelha contra superbactéria
A
Colônia da Acinetobacter
baumannii
B
Faixa de concentração
testada
C
Crescimento de A. baumanni
nas concentrações de 0,4 e
0,8 mg/mL da tintura de
própolis
D
Inibição de crescimento da
bactéria nas concentrações
de 2 e 4 mg/mL da tintura
de própolis vermelha
10%, verificou-se apenas que a tintura de
própolis nas concentrações de 10, 8, 6, 5,
4 e 2 mg/ml conseguiram inibir o crescimento da Acinectobacter e nas
concentrações de 0,8 e 0,4mg/mL houve
crescimento da bactéria, sendo a
Concentração Inibitória Mínima (CIM) 2
mg/ml.
A análise do solvente utilizado
para preparar a tintura de própolis
vermelha mostrou crescimento
microbiano demonstrando que o
solvente não contribui para a inibição de
crescimento de A. baumannii e que a
ação da própolis está nos isoflavonóides.
As mesmas concentrações foram
testadas para a cúrcuma longa, porém
houve crescimento microbiano.
Os extratos de cúrcuma longa
são utilizados na Índia, China e Estados
Unidos com ação antiinflamatória e
anticancerígena. Já a própolis é muito
utilizada no Japão e demais países
orientais como substância com
propriedades antienvelhecimento,
antimicrobiana, antiinflamatória,
anticancerígena e antiviral.
Esses resultados, além de
outros já obtidos no CPML/Uncisal,
constam na dissertação do professor
Valter Alvino, que está prestes a obter o
título de mestre pelo curso de Pósgraduação em Nutrição da Ufal, sob o
título da dissertação “Padronização de
método cromatográfico e microbiológico para tintura, extratos secos e
produtos nutracêuticos a base de própolis vermelha”.
Para Ticiano, as pesquisas
realizadas com a propólis vermelha “vêm
contribuindo com a formação e qualificação
de novos recursos humanos no âmbito das
Universidades, e a geração de novos
conhecimentos científicos e tecnológicos
nas áreas de nutrição e farmacêutica,
principalmente a nanotecnologia farmacêutica; além de ter um apelo
socioambiental para a preservação da mata
atlântica e, acima de tudo, um impacto
econômico na geração de emprego e renda
na área de apicultura e formação de novos
apicultores”.
POSTAIS
20 MAIO
2011
do Conhecimento
OPINIÃO
Um ano do acontecido
Valmir Pedrosa*
Há um ano, o Estado de Alagoas foi
assolado por sua maior catástrofe
ambiental. Em junho de 2010, a cheia nos
rios Paraíba e Mundaú causou mortes e
imensos danos à nossa, já precária,
infraestrutura urbana. Pontes, estradas,
escolas, bibliotecas, repartições públicas,
casas e mesmo bairros inteiros foram
varridos pelas águas como se fossem de
brinquedo.
De lá para cá, os rios voltaram
para o seu leito, mas deixaram nas
paredes e na memória dos residentes
até onde ele pode ir se invadirmos suas
margens. No início da quadra chuvosa
deste ano, uma cheia de menor monta
voltou a causar prejuízo ao povo
alagoano, desta vez na zona da mata do
litoral norte.
De lá para cá, é necessário
reconhecer que há um esforço do Governo
de Alagoas em reconstruir o que foi
destruído. Evidentemente, o trabalho
enfrenta uma séria de entraves e não
acontece com a velocidade desejável. Os
desabrigados ainda não têm suas novas
casas, e não as terão ainda em 2011.
Deverá ficar para 2012 e 2013 a
finalização do programa de reconstrução.
Em um convênio com a Agência
Nacional de Águas, o Governo de Alagoas
montou várias estações de previsão de
enchentes e uma sala de alerta para a
Defesa Civil saber com boa antecedência da
proximidade de eventos chuvosos
extremos. Mas ainda é pouco. Um sistema
de alerta deveria ser instalado nas cidades
ribeirinhas, fazendo soar um alarme na
proximidade de uma onda de cheia.
Não foi com pouco espanto que vi,
pela primeira vez, um alarme sonoro
funcionar para avisar à comunidade de uma
ameaça a caminho do Rio de Janeiro. Na
Europa ou nos Estados Unidos isso é coisa
corriqueira há sete décadas: serviram para
anunciar bombardeios iminentes na
segunda grande guerra e depois serviram
novamente para salvar vidas anunciando
catástrofes. Em Alagoas, esse simples
aparato ainda parece um sonho remoto e de
difícil realização.
Assim, haveremos de encarar com
maior determinação e celeridade a criação de
um sistema de defesa que cumpra com
eficiência seu papel de, alertando ao Governo
e à população, proteger a vida dos alagoanos.
*Representante da Ufal na Comissão de
reconstrução das cidades alagoanas
destruídas pelas enchentes
A degradação ambiental em debate
Diana Monteiro
A grave situação que vive a
cidade de Maceió em período de chuvas
tem como principal causa a ação
antrópica (ação do homem) sem
planejamento, o que leva ao uso e
ocupação desordenados do solo urbano,
provocando crescente degradação
ambiental. Essa realidade tem resultado
em transtornos, tais como enchentes,
quedas de barreiras, alagamentos de vias
públicas e desabamentos de casas, entre
outros, e produz, a cada chuva intensa,
um verdadeiro caos urbano, deixando a
população totalmente insegura.
É muito comum ouvir das
pessoas que “Maceió não aguenta um dia
de chuva”, o que é verdade. Com inserção
na sociedade e comprovando ser vetor de
desenvolvimento no Estado, a
Universidade Federal de Alagoas, por
meio do curso de Engenharia Ambiental,
tem contribuído com o conhecimento
científico e apontado soluções para a
problemática, desenvolvendo pesquisas
nas quatro bacias hidrográficas que
contornam o relevo da capital: Bacia do
Rio Jacarecica; Bacia do Rio Reginaldo,
conhecido como “Salgadinho”; Bacia do
Pratagy; e Bacia do Mundaú.
Engenheiro civil, mestre e doutor
em Hidráulica e Saneamento, o professor
Márcio Gomes Barboza, do Centro de
Tecnologia, informa que as pesquisas
envolvem a comunidade acadêmica do
curso de Engenharia Ambiental e do
Mestrado em Recursos Hídricos e Saneamento, um forte aliado na formação
de recursos humanos nessa área. O
Mestrado está em pleno funcionamento
desde 2005.
“A situação de poluição nas
quatro bacias hidrográficas de Maceió é
bastante problemática, porque não há
sistema de saneamento básico eficiente,
como coleta e tratamento de esgoto;
coleta de resíduos sólidos; controle da
poluição atmosférica; fiscalização pelo
poder público; e um programa permanente de educação ambiental envolvendo
a sociedade em geral”, afirma Márcio
Barboza. Ele destaca que o problema tem
solução e os estudos científicos realizados por pesquisadores da Universidade
Federal de Alagoas apontam caminhos a
ser seguidos. Basta haver vontade
política e implementação de programas,
porque tecnologia já temos para tratar
essas situações ambientais. Nossas
8
pesquisas vêm sendo apresentadas em
eventos locais, nacionais e até
internacionais”, enfatiza Márcio.
Conhecendo um pouco as bacias
A Bacia do Rio Jacarecica nasce
nas proximidades do Benedito Bentes,
localizado no bairro do Tabuleiro do
Martins, é dotada de 25,65 km2 e de 13 km
de extensão. Até desembocar no mar
corta a Al 101 norte nas imediações do
bairro que recebe o mesmo nome. A
poluição por esgotos domésticos já é
visível na parte do rio próximo ao mar. A
degradação ambiental do Rio Jacarecica
tem ocasionado ultimamente enchentes e
mobilizado a comunidade em protestos
contra a falta de providência para a solução
do problema por parte do poder público.
O pesquisador Márcio Barboza
explica que as enchentes na Bacia do Rio
Jacarecica têm como causas o
desmatamento de matas ciliares,a
impermeabilização das áreas com
construções desordenadas e ocupação de
encostas, ausência de redes coletoras de
esgoto e a ineficiência da coleta de
resíduos sólidos. “Já existem técnicas
apropriadas para dar condições de
infiltração das águas de chuva no solo
contribuindo, assim, com o pico da vazão
na calha do rio. As matas ciliares
amortecem o pico de vazão e reduzem o
transporte de solo prevenindo o
assoreamento da calha dos rios”, explica
Márcio, falando o quanto é fundamental a
preservação da natureza para evitar
degradação ambiental.
A bacia com maior complexidade de
poluição é a do Reginaldo, conhecido como
“Salgadinho”, por ser toda inserida nas
zonas urbanas, áreas totalmente
desprovidas de sistema de coleta e
tratamento de esgoto. Essa bacia nasce nas
imediações do Aeroclube, no Tabuleiro do
Martins, tem 25,65 Km2 de área, 13
quilômetros de extensão e é delimitada
pelas avenidas Fernandes Lima/Durval de
Góis Monteiro e Via Expressa. “As águas
nessas áreas são drenadas para o Riacho
Reginaldo e se somam as dos riachos do
Sapo, do Gulandim, localizados no bairro do
Poço, e às do Pau d'Arco que fica entre os
bairros do Jacintinho e Feitosa, e chegam até
a praia da Avenida, centro da cidade. Esses
riachos pertencem a essa bacia. Todos os
esgotos entre a Fernandes Lima e a Via
Expressa caem na bacia do Reginaldo de
forma direta e indireta”, afirma Márcio.
A outra bacia problemática é a
do Mundaú, dotada de 4.126 km² de
área e 141 km de extensão e abastecida
pelo Rio Mundaú, que nasce no
município pernambucano de Garanhuns
e passa pelos municípios alagoanos de
São José da Laje, Santana do Mundaú,
Branquinha, Rio Largo, Satuba até
desembocar na Lagoa Mundaú, em
Maceió. “Essa foi a mais afetada pelas
chuvas do ano passado, provocando
enchentes e destruindo esses municípios de Alagoas que até hoje se encontram em processo de reconstrução”,
frisa Márcio Barboza.
O pesquisador informa que
dentre as quatro bacias hidrográficas de
Maceió a que apresenta melhor condição
qualitativa no que se refere aos parâmetros ambientais é a do Pratagy, porque
ainda não é densamente povoada e há
áreas de preservação de matas ciliares.
A Bacia do Pratagy nasce nas proximidades do município de Messias, passa
pela região do Benedito Bentes e deságua
na conhecida praia do Mirante da
Sereia. Essa bacia tem 133,69 km² de
área e 31,2 km de extensão. O Sistema
Pratagy abastece a Estação de Tratamento de Água de Maceió.