Físicos ajudam a explicar o funcionamento dos remédios no organismo

No início de maio, no auditório do Instituto de Física, o professor Valder Nogueira Freire, da Universidade Federal do Ceará, falou sobre como a Bioquímica Quântica pode contribuir em questões práticas da medicina, como por exemplo: qual o melhor remédio para os enfartados, ou como a aspirina funciona no organismo, ou como surge o mal de Alzheimer? Na palestra estudantes e pesquisadores em Física, Química, Bioquímica e Farmacologia estavam interessados em desvendar estas questões.

27/05/2011 11h11 - Atualizado em 02/05/2024 às 16h01
Professores Valder, Vinicius e Marcelo Lyra

Professores Valder, Vinicius e Marcelo Lyra

Lenilda Luna - jornalista

Já faz algum tempo que os campos científicos já não são tão estanques e separados. Existem várias relações entre os fenômenos físicos, químicos e biológicos que os cientistas estudam de forma interdisciplinar. A Bioquímica Quântica surgiu a partir dessas interfaces, quando os cientistas perceberam que “a propriedade quântica dos elétrons, chamada "spin", precisa ser levada em conta para que se tenha um quadro completo de como acontecem as reações bioquímicas”.

Segundo o professor Valder, toda uma geração de cientistas foi influenciada pelo físico austríaco Erwin Rudolf Josef Alexander Schrödinger, que recebeu o prêmio Nobel de Física em 1933, por suas contribuições à Mecânica Quântica. “A partir desses estudos, os físicos passaram a se dedicar ao estudo de fenômenos bioquímicos, contribuindo com a medicina, a bioquímica e a farmácia”, destaca o físico. “Buscamos explicar, por exemplo, como é que o antibiótico interage no núcleo das células de proteínas de bactérias que fazem mal à nossa saúde, impedindo que elas se dividam”, ressalta o professor Valder Freire.

Outra importante contribuição está relacionada ao tratamento de pessoas com colesterol alto, inclusive os que já sofreram infarto. “As estatinas são utilizadas para bloquear a produção de colesterol, mas 70% do nosso colesterol é produzido no fígado, apenas 30% depende da dieta alimentar”, explica o professor. “Precisamos definir qual é a melhor estatina para ser utilizada em cada caso, desde as situações mais leves até as mais graves”, destacou o pesquisador.

A Universidade do Ceará desenvolveu estudos sobre a interação das estatinas com a proteína HMG-CoA, para inibir a suas reações e diminuir a produção de colesterol. Além disso, os pesquisadores estudaram como tornar mais eficiente a estatina mais “fraca”. Essa pesquisa deve ser patenteada pelo grupo. O estudo foi apresentado no Congresso Norte e Nordeste de Cardiologia, realizado ano passado em Fortaleza.

As pesquisas também são direcionadas para detectar com mais rapidez problemas como o Mal de Alzheimer e o de Parkison. Os cientistas querem inibir a formação das placas amilóides, que originam a doença, ainda no início do processo, evitando maiores danos.

“Existem muitos problemas práticos que nós podemos avaliar melhor com a ajuda da bioquímica quântica, como por exemplo, qual o melhor fármaco para combater uma inflamação, o como a aspirina interage no organismo. Isso pode ajudar a indústria farmacêutica a melhorar os produtos e aos médicos, a receitar o remédio mais eficiente”, disse o professor.

Parceria

O professor Valder Nogueira Freire está na Ufal a convite dos professores Marcelo Lyra e Vinicius Manzoni. A intenção é consolidar uma parceria que já existe há quatro anos, produzindo muitos estudos relevantes. “Temos um projeto de referência, o Nanobiosimes, que articula líderes de pesquisa em Física, Química, Bioquímica e Farmacologia das regiões Norte e Nordeste, entre eles os pesquisadores do Ceará e de Alagoas”, ressalta o professor Marcelo Lyra, do Instituto de Física da Ufal.

As linhas de pesquisa são: Transporte de cargas e dinâmica de torção no DNA, RNA e Proteínas; Crescimento, caracterização, e aplicações biotecnológicas de cristais e filmes de aminoácidos, do DNA e RNA e proteínas; Fármacos & Proteínas: caracterização e simulações ab initio; Nanoestruturas de Carbono, Semicondutoras e de outros materiais; e Biosensores. Mais informações no site do grupo.