Museu Théo Brandão: nosso lar

Com 35 anos completados em agosto último, o Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore reúne peças e documentos que revelam traços marcantes da nossa formação e da nossa memória. Percorrer seu circuito museográfico é sempre válido, mas a visita carece de maior profundidade nas informações transmitidas pelos guias e 'expostas em suas salas. Esse é apenas um dos desafios que o novo diretor da instituição, o antropólogo Wagner Chaves, vai encarar ao assumir o posto. Nesta edição, você vai saber mais sobre o futuro gestor e sobre a entidade criada a partir da doação do folclorista homenageado em seu nome. Confira

11/01/2011 08h07 - Atualizado em 13/08/2014 às 11h08
Antropólogo Wagner Chaves, novo diretor do Museu Théo Brandão

Antropólogo Wagner Chaves, novo diretor do Museu Théo Brandão

Fernando Coelho – repórter da Gazeta de Alagoas

Sem uma tradição museológica condizente com a riqueza de sua história, Alagoas tem no Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore um dos principais endereços de sua memória cultural. Localizado à beira-mar da praia da Avenida, no Centro de Maceió, o charmoso prédio em estilo eclético guarda em suas dependências - principalmente peças representativas do folclore e do artesanato alagoano.

No dia 20 agosto de 2010, o museu instalado numa das edificações tombadas pelo Estado como patrimônio cultural completou 35 anos de existência com uma programação relativamente tímida, que além de revelar a fragilidade de seu circuito museográfico mostra o quanto a instituição está distante de seu potencial representativo. Mesmo assim, a visita é válida. Por módicos RS 2, é possível vasculhar o museu - aberto de segunda a sexta, das 09h às 17h, e aos sábados, das 14h às 17h - e encontrar uma casa com instalações modernas e acervo bem distribuído e diversificado.

Em pleno verão, o convite atende à necessidade do turista - e do próprio alagoano - de apreciar elementos da cultura e da arte local. O passeio por suas salas temáticas é confortável, mas carece de profundidade nas informações expostas e nas que são transmitidas pêlos guias.

A 'turnê' começa pela sala Brava Gente Alagoana, que busca representar o folclore local e homenagear o patrono da casa, o antropólogo e folclorista Théo Brandão (1907-1981), um obstinado pesquisador de nossas tradições que doou seu acervo particular com mais de mil itens e abriu as portas da instituição vinculada à Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em 1975.

Brava Gente Alagoana possui paredes com fotos plotadas de Celso Brandão e uma estrutura circular em metal e vidro que expõe material pessoal do folclorista, como livros, fotos e medalhas, além de algumas cerâmicas e outras peças de artesanato. Na sequência, a sala Fazer Alagoano exibe peças dos diversos pontos de renda do artesanato local - bilro, rendendê, boa noite e singeleza, entre outros -, esculturas em madeira do artista Antenor Ferreira, itens trabalhados em palha, cestaria, chapéus de guerreiro e cerâmica decorativa. Tudo acomodado em colunas de vidro com iluminação indireta. Algumas peças não possuem identificação.

Ao lado, a sala O que Há de Novo mostra esculturas em madeira de artistas como Fida, Resêndio e Fernando Rodrigues. Todo o acervo integra a coleção permanente do museu. Embora atue há três anos na função, a guia que nos acompanha não soube dizer quantas peças do acervo integram a exposição permanente e nem qual o número de itens do acervo total do museu. Informação desconhecida inclusive pelo corpo administrativo da casa, só depois repassada por José Carlos dos Santos, funcionário mais antigo do museu e responsável pela reserva técnica da entidade. "São aproximadamente três mil itens. Desses, cerca de 450 estão expostos", observou.

Ainda no mesmo piso, uma lojinha comercializa folhetos de cordel, livros sobre cultura popular, CDs e até obras de artistas populares, como as delicadas peças em cerâmica da Cooperativa dos Artesãos de Capela, comandada pelo celebrado João das Alagoas. Ao lado, duas salas são dedicadas à religiosidade do povo alagoano. Na primeira, uma instalação tem ex-votos dependurados do teto ao chão. Na segunda, uma coleção de esculturas de santos e entidades de diversas crenças e um quadro de um preto velho, de autoria de Marcos Sampaio, simbolizam o sincretismo local.

Em ambas, a palavra "Fé" estampa as paredes.

Elevador

Ao se deslocar para o pavimento superior, o visitante tem a boa surpresa de contar com um elevador, que facilita o acesso inclusive para pessoas com necessidades especiais. No primeiro andar, há a sala que representa o carnaval de Alagoas, com bonecos gigantes, estandartes de blocos e escolas de samba, fotos e máscaras da festa momesca.

Noutra sala vizinha, o espaço celebra o guerreiro, com diversos tipos de chapéus e indumentárias do folguedo alagoano. Fotos impressas em vidros e manequins estilizados por artistas alagoanos completam o material em exposição. TVs fixadas nas paredes sugeriam a projeção de imagens e documentários sobre o guerreiro, mas elas se encontravam desligadas.

A guia conta que a visitação "foi boa em dezembro", com o aumento do número de turistas da segunda metade do mês em diante. Ela só não sabia precisar os números. De volta ao elevador, chega-se ao subsolo, onde há duas salas climatizadas - assim como as outras - para exposições temporárias.

Atualmente, duas estão abertas para visitação. Capoeira, Sonho, Lutas e Liberdade, de Rafael Lopes, traz dezenas de esculturas em madeira que representam os movimentos da capoeira. Um trabalho cuidadoso e sedutor. A segunda é uma coleção de chapéus de guerreiros estilizados, confeccionados pela artista Mônica Almeida. Com chapéus de diversos tamanhos e formatos, cada um a representar lugares de Alagoas, como o próprio Museu Théo Brandão, igrejas de Maceió e outros prédios.

Por fim, uma pequena sala circular comporta o memorial do Museu Théo Brandão, com imagens que retraíam a restauração do palacete. No centro, uma instalação circular traz uma foto da abóbada do museu com a frase da canção O Tempo não Para, de Cazuza.- "Eu vejo um museu de grandes novidades/ Porque o tempo não para". O passeio termina, mas o ano está só começando. E aí, o que um dos principais museus da capital reserva para 2011? Quem é Wagner Chaves, o novo diretor-geral do equipamento que assume o posto amanhã (10), após a gestão de cinco anos da historiadora Leda Almeida? As respostas você confere no link abaixo.

Tornar o Museu um espaço "vivo"