Tornar o museu um espaço ‘vivo’

Esse é o desafio do antropólogo Wagner Chaves, o novo diretor-geral do Théo Brandão, que assume o posto amanhã

11/01/2011 08h35 - Atualizado em 13/08/2014 às 11h08

Fernando Coelho - repórter da Gazeta de Alagoas

Como outros equipamentos culturais de Alagoas, o museu Théo Brandão também passou por um longo período de reforma e restauração. A informação oficial, registrada no catálogo A Casa da Gente Alagoana - volume lançado na reabertura do museu, em 2002 -, diz que o prédio foi fechado em 1988 e o acervo transferido para o Espaço Cultural, na praça Sinimbu, no Centro. Único funcionário da casa desde sua inauguração, em 1975, José Carlos do Santos defende que o museu funcionou no palacete da avenida da Paz até 1995.

De todo modo, a restauração devolveu à casa uma instalação museográfica - assim como a original, assinada por Raul Lody e Cármen Lúcia Dantas - em sintonia com as concepções contemporâneas da museologia. Um museu como um lugar dinâmico. Com apresentações de grupos de cultura popular em seu pátio, a realização do Projeto Engenho de Folguedos - atualmente realizado no Palácio dos Martírios, na sede da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) - reforçava o conceito de um equipamento "vivo".

O desafio de realinhar a perspectiva museográfica do Théo Brandão, e assim atualizá-la, caberá ao antropólogo Wagner Chaves, 34, novo diretor-geral do museu. O jovem professor do Instituto de Ciências Sociais da Ufal assume o posto na segunda-feira (10) com indisfarçável motivação. "Muita gente chega num museu de folclore com pré-noções que não condizem com uma visão contemporânea da cultura popular. Vamos pensar o museu não apenas como um lugar de memórias, mas como um lugar vivo e dinâmico", diz, em entrevista por telefone.

Natural do Rio de Janeiro, mas filho de pai alagoano, ele acumulou bagagem no segmento ao atuar em projetos e programas do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular - um dos braços do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico e Nacional (Iphan). "O museu é um instrumento complexo, com uma série de demandas, como a relação com o público e a inserção na sociedade", reconhece.

Sua relação com a casa é anterior à indicação da reitora Ana Dayse. Wagner visitou o museu diversas vezes em função de um projeto que visa recuperar e digitalizar seu acervo sonoro. Nas pesquisas, ele encontrou 414 títulos entre LPs, fitas de rolo e fitas cassete com registros das pesquisas de campo realizadas por Théo Brandão na década de 40. Agora, o trabalho será ampliado. "A primeira missão é saber o que o museu está guardando. Tenho que fazer uma grande catalogação do acervo e assim poder atuar em diversas frentes".

Pelo teor de seu discurso, Wagner parece articulado com as políticas nacionais destinadas aos museus, uma das frentes de batalha mais arrojadas do Ministério da Cultura (MinC) nos oito anos do governo Lula. Como sabe que o aporte da Ufal não é suficiente para criar novos - e necessários - projetos, o novo gestor promete atuar na construção de parcerias institucionais. "Se não houver um plano museológico, vamos pensar num para construir algo mais sistemático. Penso em produzir algo para dez anos", antecipa.

 

20 mil visitantes em 2010

Para tocar a casa a partir de 2011, Wagner Chaves conta com uma equipe de aproximadamente 30 pessoas - entre técnicos, funcionários e prestadores de serviço -, já que o número de guias é oscilante no decorrer do ano. Juntos, eles cuidarão do acervo de mais de três mil itens, da biblioteca com seus 3,500 títulos - três mil deles somente de folhetos de cordel -, e terão a missão de ampliar a visitação do museu, bem como sua relação com a sociedade alagoana.

A coordenadora do Núcleo de Ação Educativa do museu, Madalena de Oliveira, mostra um levantamento que registra a passagem de 20 mil visitantes entre janeiro e outubro de 2010. Número que salta para um milhão de pessoas, segundo ela, com o Projeto Museu Vai à Rua, que levou três exposições itinerantes para diversos pontos da cidade ao longo do ano passado. Depois de passar pelo Shopping Maceió, pela orla da capital e pela Ufal, o projeto tem sequência em março de 2011, com exposições no Shopping Pátio Maceió.

A diretora-administrativa da casa, Lysia Cabral, garante que novas exposições temporárias também estão previstas - as duas atuais serão encerradas no dia 29 de janeiro. A primeira será a de José Acioli, professor de Teatro da Ufal e artista plástico, "que pretende montar um grande cenário nos espaços do museu", logo após o carnaval. "Há uma proposta do João das Alagoas, de Capela, e outra do Manoel da Marinheira", revela. Acrescente ao pacote as exposições temporárias temáticas montadas em datas festivas como carnaval (fevereiro), São João (junho), Mês do Folclore (agosto), Mês da Criança (outubro) e Natal (dezembro).

Em tempo: quem se interessar em realizar uma exposição artística no museu pode entregar o projeto e aguardar a avaliação da curadoria, formada por José Carlos do Santos, Gil Lopes e Homero Cavalcante.

Recursos

A Ufal não repassa uma verba fixa para o museu e custeia apenas a folha de pessoal e recursos necessários para a administração da casa no dia-a-dia. "A universidade cuida da manutenção do prédio, do material de consumo. É a partir de solicitação. É tudo muito burocrático. Estamos esperando uma câmera fotográfica há um ano", diz Lysia. "O prédio foi recém-pintado graças a uma doação da Ibratin. A Ufal pagou amão-de-obra". Ou seja, sem projetos e parcerias, o alcance e o potencial do Théo Brandão ficam limitados.

"Nós fazemos projetos por meio de editais do Ministério da Cultura, da Funarte, e já fomos contemplados várias vezes", diz a gestora. "São projetos para exposições e para aquisição de utensílios para o museu. Nós temos uma sala, O que Há de Novo, que foi montada graças a um projeto em que fomos contemplados". Madalena de Oliveira reforça: "De 2005 para cá, a gente teve um crescimento grande devido aos projetos. A própria divulgação melhorou".

Com o objetivo de reforçar o caixa, a casa aluga o espaço externo para eventos particulares. A legalidade da prática é questionável e o valor varia, sem muito critério, de um evento para o outro.

"Eu não tenho um preço determinado. Vai depender do evento", diz Madalena de Oliveira. "A gente avalia a quantidade de pessoas. A gente visa primeiro preservar o museu, a integridade física. Geralmente os eventos aqui têm uma média de 500 pessoas. O pessoal da universidade solicita muito. Tem confraternização e casamento também".

A doação do folclorista