Após 35 anos, peruano volta a estudar e conquista 900 na redação do primeiro Enem

Jorge Emiliano é aluno do projeto de extensão da Ufal O Mil é Nosso
Por Manuella Soares - jornalista
30/01/2024 16h11 - Atualizado em 01/02/2024 às 13h32

Aos 54 anos e com dificuldades no idioma, Jorge Emiliano tirou nota 900 na Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O sonho do peruano é ter a nacionalidade brasileira, mas ele já conseguiu a superação pessoal e a admiração de colegas e professores do projeto O Mil é Nosso, da Ufal.

“Eu não esperava essa nota! Fiquei feliz! Foi a primeira vez que fiz a prova e, sem experiência, mas foi uma experiência muito legal”, comentou. Jorge é um dos 83 alunos que se destacaram na prova com a ajuda dos projetos de extensão da Ufal que preparam alunos da rede pública para o exame de acesso ao ensino superior.

A professora Lívia Soares acompanhou a evolução do peruano e falou com orgulho sobre o resultado alcançado: “Jorge é um exemplo para todos, pois mesmo com a dificuldade da língua, da idade, de anos fora da sala, atingiu no seu primeiro Enem 900 pontos. Ele é um aluno dedicado, sempre esteve nas aulas on-line e sempre fez sua produção, isso trouxe tudo que precisava para alcançar tamanho feito. O projeto O Mil é Nosso tem um orgulho enorme em poder ter contribuído com esse crescimento”.

Toda dedicação tinha um objetivo maior: ficar com a documentação regularizada para requerer a naturalização no Brasil. Jorge mora há 20 anos no país e tem que apresentar certificados escolares para legalizar seus documentos. Depois de décadas que terminou o ensino médio no Peru, ele precisou ser estudante de novo.

“A Polícia Federal exige estudar de novo aqui no Brasil. Depois de 35 anos retomando os estudos, participei do Enem. Então foi positivo, porque depois de tanto tempo sem estudar, acreditei que sim, eu podia!”, ressaltou.

Ele conta que teve muita dificuldade com o idioma quando chegou, mas hoje já entende. E para driblar os problemas com a escrita, contou com a ajuda do projeto da Ufal, onde aprendeu a usar técnica e estratégia: “Praticar de duas a três redações por dia, pesquisando pela Internet diversos temas e relacionando-os de acordo com o tema, com os problemas sociais atuais, retomando os problemas esquecidos e dando soluções”.

Os documentos de Jorge vão ficar regularizados, já que ele concluiu o ensino fundamental em escola pública nacional e está terminando o ensino médio por meio da Educação para Jovens e Adultos (EJA), além dos outros requisitos. Apesar do excelente desempenho na redação, a média geral dele não foi suficiente para concorrer ao curso que pretende na Ufal. Mas agora ele quer ir em frente. O Enem trouxe ainda mais ânimo para tentar se superar.

“Pretendo fazer o curso de Ciências Contábeis. Vou seguir preparando-me até ingressar a uma universidade federal”, afirmou. A esposa e os filhos de Jorge são brasileiros natos, e em breve, teremos mais um cidadão que não foge à luta, que não desiste nunca.