Pesquisa mostra consequências da poluição urbana para a floresta amazônica

Artigo do professor Helber Gomes sobre o tema foi publicado na revista internacional Nature Communication
Por Thamires Ribeiro - estudante de jornalismo
28/03/2019 09h33 - Atualizado em 28/03/2019 às 10h13
Professor Helber Gomes, do Instituto de Ciências Atmosféricas.jpg

Professor Helber Gomes, do Instituto de Ciências Atmosféricas.jpg

Descobrir as formas que a poluição urbana vem afetando a floresta amazônica é muito importante. E pesquisar o assunto para que essa informação seja conhecida é extremamente necessário. Foi pensando nisso que o professor Helber Gomes, do Instituto de Ciências Atmosféricas (Icat) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), publicou como co-autor um artigo, reconhecido internacionalmente, que discute o tema.

De acordo com o docente, o objetivo da pesquisa foi entender a complexidade da interação entre florestas e poluição atmosférica, em especial como as emissões oriundas de Manaus contribuem para formação de aerossóis naturais sobre a Amazônia. Para isso, foram utilizadas medições de laboratório e simulações utilizando um modelo de transporte químico.

“O aerossol orgânico na Amazônia responde por 75-85% da massa do aerossol, e um aumento ainda maior na quantidade de aerossóis tem fortes impactos no ecossistema. Estas partículas são importantes para a convecção, para a formação e desenvolvimento de nuvens, e para o balanço radiativo. Além disso, influenciam fortemente a fotossíntese, que depende da razão de radiação direta e difusa para a fixação de carbono pelo ecossistema. O aumento na formação dos aerossóis orgânicos secundários [SOA] biogênicos naturais na Amazônia foi muito maior do que outras observações relatadas em florestas de outras regiões. Na Amazônia, a poluição de Manaus causou um aumento de 60% a 200% na produção de aerossóis, em alguns casos atingindo 400%”, afirma o professor.

Esse fato acaba gerando alguns impactos para o meio ambiente. Gomes destaca três deles: a poluição da cidade acaba levando ozônio à floresta, o que pode danificar tecidos vivos de plantas e animas; causa a modificação das nuvens e uma possível alteração das chuvas; e provoca a absorção ou o espalhamento da radiação solar, modificando o quanto chega na superfície, chegando a reduzir a fotossíntese. 

A pesquisa foi elaborada em conjunto com outros 35 cientistas de todo o mundo, sendo nove deles brasileiros de diferentes estados. “Esse trabalho é um dos resultados do experimento GoAmazon 2014/15, que reúne pesquisadores do Brasil, Estados Unidos e Alemanha. É importante destacar que um trabalho como este demonstra a importância do investimento em ciência, que é capaz de dar resposta para a sociedade, e das colaborações internacionais na produção de ciência de alto nível”, conta Gomes.

Reconhecimento

A importância do artigo foi tanta, que, neste mês, ele foi publicado na revista Nature Communication. Confira aqui o artigo completoComo coautor da publicação, o professor Helber Gomes relata a felicidade da conquista.

“Publicar um artigo em uma revista internacional com alto fator de impacto é super gratificante, pois significa que passou por um forte crivo de editores e é considerado, na visão destes, um artigo impactante e de interesse para uma grande audiência”, comemora.  

Em 2018, Helber também teve reconhecimento internacional. Junto com outros cientistas, ele publicou um artigo intitulado Substantial convection and precipitation enhancements by ultrafine aerosol particles na revista Science. A publicação discutiu como as partículas ultrafinas de aerossóis, que são provenientes de poluição atmosférica urbana e industrial, incêndios florestais e outras fontes, podem intensificar o desenvolvimento de precipitação e nuvens convectivas, causadas pelo transporte de calor, sobre a região da Amazônia.