Lapis faz monitoramento para prevenir desastre no Pinheiro

Laboratório da Ufal auxilia a Defesa Civil com ações estratégicas
Por Asccom Ufal com informações do Lapis
13/03/2019 14h30 - Atualizado em 14/03/2019 às 07h33
Monitoramento de salgema feito pelo Lapis. Foto: Lapis/Ufal

Monitoramento de salgema feito pelo Lapis. Foto: Lapis/Ufal

A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) disponibilizou sua capacidade de pesquisa e laboratórios para subsidiar a Defesa Civil com informações para emissão de alertas, em caso de emergência no bairro do Pinheiro, em Maceió. O local conta com uma população de mais de 20 mil pessoas e no último dia 3 de março completou um ano que a população ficou assustada com um tremor de terra de 2,4 pontos na escala Richter.

O fato desencadeou um complexo fenômeno geológico, ainda inédito no Brasil, cujas causas ainda estão sendo estudadas pelos especialistas. O impacto das rachaduras e fissuras nos imóveis, bem como dos afundamentos de terras em vias públicas, já provocou a evacuação de centenas de moradores e áreas do bairro do Pinheiro estão se tornando desertas.

Em dezembro de 2018, o governo federal decretou Situação de Emergência no bairro, diante do risco de ocorrer um desastre socioambiental na região, provocando enormes danos humanos e materiais.

“O monitoramento integrado das condições hidrometeorológicas do município, especialmente na área do bairro, tornou-se fundamental para apoiar a emissão de alertas pela Defesa Civil, visando adotar medidas preventivas diante do risco de desastre. Em caso de previsão de eventos meteorológicos extremos, como chuvas fortes e tempestades, aumenta-se o risco de ocorrer o afundamento do bairro”, explica o professor Humberto Barbosa, coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis).

O Lapis tem utilizado toda a sua infraestrutura de monitoramento por satélites das condições de tempo no Pinheiro. Além dos dados meteorológicos, a ação inclui variáveis ambientais importantes para apoiar na gestão de risco de desastre, a exemplo de mapas da cobertura vegetal, temperatura da superfície dos solos, albedo, precipitação e umidade dos solos. O Laboratório também possui um sistema de detecção de raios que pode auxiliar na capacidade que a Ufal tem colocado à disposição da Defesa Civil.

Paralelamente a essa infraestrutura de dados, a análise é feita a partir do uso de informações geográficas, com técnicas de geoprocessamento, que permite localizar áreas específicas do Pinheiro e do seu entorno. O Lapis realizou o mapeamento das minas de salgema existentes nos bairros Pinheiro, Mutange e Bebedouro, e utiliza drones para validação do monitoramento dessas áreas ambientais com alta vulnerabilidade ao risco, visando confirmar as informações de satélites em nível de superfície.

Há mais de três anos, o Lapis já desenvolve experiências com gestão de desastres, monitorando o risco de secas no Semiárido brasileiro, através do Sistema de Monitoramento da Cobertura Vegetal da Caatinga (SimaCaatinga).

Prevenção do risco de desastre no Pinheiro

De acordo com Barbosa, o risco de desastre no bairro do Pinheiro requer um sistema de alerta adequado, que deverá ser estruturado em quatro ações fundamentais: conhecimento dos riscos; monitoramento e alerta hidrometeorológico; comunicação por alertas e alarmes; e capacidade de resposta.

No Brasil, existe um protocolo institucional estruturado para situações de alerta e alarme de desastres. Em 2011, foi criado o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres (Cemaden/MCTIC), órgão responsável por analisar cenários de risco nos municípios brasileiros, com base no monitoramento meteorológico, hidrológico e geológico de áreas povoadas expostas a potenciais tragédias humanas.

Em caso de perigo de desastre, os alertas são enviados para o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), coordenado pela Secretaria Nacional de Defesa Civil, que o encaminha para as defesas civis estaduais e municipais.

Os protocolos de alerta buscam identificar qual volume de chuva é necessário cair, em cada área monitorada, para provocar determinado tipo de ocorrência. É necessário mapear os domínios de risco a escorregamentos, cujas condições mudam em cada localidade. A correlação entre chuva e escorregamento considera o volume pluviométrico, ou seja, a intensidade da chuva e o acumulado da mesma no período de uma hora, bem como de um a quatro dias, e mensalmente. A análise se justifica devido às vulnerabilidades e às particularidades no uso e ocupação de áreas de risco específicas.  

O meteorologista Humberto Barbosa destaca que é preciso estabelecer os limiares de chuva e quais as consequências possíveis de cada um, ou seja, qual o volume de chuvas necessário para provocar escorregamentos de terra no bairro do Pinheiro.

Para casos de deslizamento de massa, o Cemaden/MCTIC toma por base o limiar reduzido de acumulados de chuva de 20 mm, a cada 24 horas, ou a intensidade de 20 mm por hora.

Barbosa ressalta que os protocolos ainda não estão claros para antecipar ações preventivas de alerta e alarme no bairro do Pinheiro. "Por se tratar de uma abordagem em microescala, para uma área específica de um bairro em Maceió, a definição desse limiar requer o conhecimento adequado das caraterísticas dos solos, visando compreender a sua capacidade de absorção em relação ao volume de precipitação", completa.

Para o coordenador do Lapis, o conhecimento sobre a probabilidade e recorrência de chuvas, tais como seus limiares críticos, requer a integração de diversas ferramentas que contribuam com a previsão do tempo, incluindo a medição da quantidade acumulada e intensidade de chuvas. Dentre as ferramentas de análise, estão: dados de monitoramento por satélites, radares meteorológicos, modelos de previsão, estações meteorológicas e pluviômetros automáticos para acompanhamento das chuvas, em tempo real.

Laboratório no bairro do Pinheiro

O meteorologista ainda ressalta a necessidade de instalação de um laboratório de observação hidrometeorológica no bairro do Pinheiro, com uso de sensores de precipitação (pluviômetros automáticos), análise das caraterísticas dos solos e do seu teor de umidade. "Como a estação chuvosa em Maceió ocorre no período de abril a setembro, será a oportunidade de estabelecer parâmetros científicos para a gestão de riscos geológicos dessa magnitude, no Brasil ou em outros países", destaca. Por meio do Lapis, Barbosa já atua em pesquisas de monitoramento hidrometeorológico para subsidiar o Cemaden na emissão de alertas de desastres de secas e enchentes no Nordeste brasileiro, com o Projeto Capes-Pró-Alertas. 

“O conhecimento do risco é o primeiro passo para minimizar a vulnerabilidade da população e a ocorrência de uma tragédia no local. Em seguida, conhecer os fatores que podem agravar o problema geológico no bairro do Pinheiro, fazendo um monitoramento abrangente e integrado das condições físicas e dos dados meteorológicos, é fundamental nesse momento para uma gestão preventiva do risco de desastre”, reforça Humberto. 

O meteorologista destaca que o cenário do risco configurado hoje em Maceió é inédito no Brasil, de modo que o bairro do Pinheiro pode ser um laboratório de fortalecimento e articulação institucional, para o monitoramento integrado, que permita ações antecipadas visando evitar um desastre. “Uma gestão eficiente do risco pode servir de modelo para ampliar um tema ainda pouco conhecido na área de prevenção de desastres no Brasil, tanto do ponto de vista científico quanto institucional”, completa.

Para mais informações sobre as hipóteses para explicar as causas do fenômeno que ameaça engolir o bairro do Pinheiro, acesse aqui .