Pesquisa debate inclusão de autistas em contexto histórico

Um dos pontos observados durante o trabalho foi a ênfase na dimensão patológica do TEA
Por Pedro Ivon - estagiário de Jornalismo
30/12/2019 08h30 - Atualizado em 27/12/2019 às 08h34
Foto: Reprodução da internet

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Após a jornada no curso escolhido, os universitários devem trabalhar em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). O aspecto de relevância social destaca-se em alguns desses TCCs. É o caso do trabalho de Jéssica Alves e Waleska Vasconcellos, concluintes de Pedagogia pelo Centro de Educação (Cedu) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Intitulado A tessitura do debate sobre a inclusão nos casos do Transtorno do Espectro Autista (TEA), o TCC das alunas foi orientado pela professora Nadja Maria, do Instituto de Psicologia (IP).

O tema do trabalho veio após experiências de estágio, onde elas viram a necessidade de um debate mais profundo sobre a inclusão nos casos de crianças com o TEA. “Outro aspecto que muito nos inquietava relacionava-se com a ênfase na dimensão patológica atribuída ao TEA no ambiente escolar e que tal concepção era exercida muito mais para excluir do que para incluir o aluno nos processos educativos”, explicou Waleska. 

A busca pela orientação 

A princípio, Waleska realizava TCC com orientação de uma professora do Instituto de Educação Física e Esporte (Iefe) da Ufal, uma vez que no Cedu havia encontrado apenas docentes com abordagem comportamental do TEA. Mas durante sua atuação com crianças autistas ela observava outro viés que queria explorar.

“Como eu estudava com a Jéssica e conversávamos muito sobre essas questões, de modo que sua maneira de perceber esses processos eram semelhantes com as concepções que eu tinha, a convidei para juntar-se comigo na continuação da escrita do TCC”, relatou.

Foi então que encontraram a professora Nadja, do IP, que desenvolve trabalhos com crianças que tinham o transtorno do espectro autista.

“De início eu já disse pra elas que a perspectiva que elas estavam, naquele momento, defendendo, abraçando e se apoiando, que era a da neurociência, eu, nas minhas pesquisas, estava andando na contramão”, lembrou Nadja, alegando que a partir do momento em que as alunas viram o seu olhar sobre o assunto, começaram a refletir sobre precisarem de algum profissional que pudesse falar sobre essa outra perspectiva. 

O Trabalho 

As alunas trouxeram para seu trabalho um contexto histórico, através de um levantamento bibliográfico, do transtorno em questão, levando em consideração a importância dos estudos científicos dos últimos 108 anos para as discussões atuais e para a compreensão dos motivos que levaram o autismo a ser encarado como uma patologia. Além disso, as pesquisadoras abordaram o processo de inclusão, destacando as relações configuradas entre os profissionais durante o processo e a promoção verdadeira da inclusão.

“Para que a inclusão aconteça, se faz necessária a participação de todos os profissionais que estão de forma direta ou indireta ligados a essa criança, e assim garantir o desenvolvimento integral da mesma”, destacou Jéssica.

A monografia também contou com a contribuição da epidemiologia, que é a área da ciência que se preocupa com os estudos quantitativos que têm ligação com a ocorrência de determinadas doenças. “Como a porcentagem de pessoas com TEA vem aumentando, achamos que a categoria da epistemologia nos auxiliaria nas discussões do TCC, já que a mesma contribui na formulação de meios de intervenção, prevenção e controle, sendo dessa forma, uma ciência interdisciplinar”, disse Waleska.

“Todo o tempo eu percebi que foi um processo muito rico. Porque elas começaram com uma visão do espectro autista, mas não terminaram com a mesma visão. Elas teceram, de fato, um debate”, contou a professora Nadja.

O trabalho completo pode ser encontrado no repositório da Ufal, aqui.