Hospital Universitário inicia pesquisa inédita no mundo em pacientes com esquistossomose

Resultados podem representar um avanço importantíssimo no tratamento de pessoas com a doença

05/11/2014 11h42 - Atualizado em 21/11/2014 às 20h28
As médicas Leila Tojal e Mônica Viana: pesquisa validará novo método para definir o grau de fibrose do fígado em pacientes com esquistossomose

As médicas Leila Tojal e Mônica Viana: pesquisa validará novo método para definir o grau de fibrose do fígado em pacientes com esquistossomose

Tâmara Albuquerque - Ascom HU

O Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HU) deu início a uma experiência pioneira e histórica na especialidade médica de hepatologia, cujos resultados podem representar um avanço importantíssimo no tratamento de pessoas com esquistossomose, uma doença endêmica em Alagoas e que também está presente em outros estados brasileiros, sendo mais prevalente no Nordeste.

No final do mês de outubro, a médica Leila Maria Soares Tojal, que é responsável pelo Ambulatório de Hepatologia do Hospital Dia - Infectologia, iniciou uma série de exames com o equipamento fibroscan para medir a fibrose do fígado, substituindo a biópsia hepática, em cem pacientes selecionados na capital e interior do Estado. 

Até então, essa tecnologia criada por um físico francês e que não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) nem para usuários de planos de saúde – vinha sendo utilizada para determinar o grau de fibrose hepática apenas em pacientes com hepatites, doenças alcóolicas e outras patologias hepáticas ou para medir a esteatose [gordura do fígado]. 

“O objetivo da pesquisa é avaliar a acurácia desse método [uso do fibroscan] nos pacientes com esquistossomose. Estabelecer qual a validade dele no tratamento desses pacientes. Isso é desconhecido no mundo inteiro, uma vez que não existe esquistossomose nem nos Estados Unidos nem na Europa, onde o fibroscan é utilizado comercialmente”, esclarece a médica. Segundo explica Leila Tojal, o prognóstico e o manejo das doenças hepáticas crônicas dependem significativamente da progressão da fibrose hepática, que é uma cicatriz no fígado, decorrente de uma agressão.

O equipamento fibroscan foi cedido à pesquisa do Hospital Universitário pela Sociedade Brasileira de Hepatologia. Os resultados dos exames serão comparados com aos observados em exames de ultrassonografia para determinar os ganhos com o fibroscan no tratamento dos pacientes. “A pesquisa nos dará respaldo para que, num futuro próximo, o Hospital Universitário possa adquirir um desses equipamentos”, revelou a médica, acrescentando que o projeto para aquisição do fibroscan pelo HU já está pronto. 

O superintendente do hospital, dr. Paulo Teixeira, manifesta interesse na aquisição do fibroscan e garante que não poupará esforços para ter o equipamento no HUPAA. “Vamos adotar este projeto como prioridade e defender sua aquisição junto aos ministérios e à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares para disponibilizar essa tecnologia aos nossos usuários”, enfatizou.

A superintendência do HU deu apoio logístico e de estrutura para a  realização dos exames no Hospital Dia-Infectologia. O exame, explica Leila Tojal, não é invasivo, é indolor, rápido e seguro. O paciente não precisa ser anestesiado nem ficar internado para fazê-lo. No Brasil, o uso do fibroscan foi liberado pela Anvisa em 2009, mas pouquíssimos equipamentos estão disponíveis no país e em grandes centros de medicina em São Paulo e Rio de Janeiro.

No Nordeste, o fibroscan já é utilizado em Pernambuco, mas sua aplicabilidade, em todo mundo, não inclui pacientes com esquistossomose. Segundo a médica, nos Estados Unidos e na Europa o grau da fibrose hepática só é determinado com o exame fibroscan, substituindo a biópsia hepática, que é invasivo e apresenta alguns riscos, como a perfuração acidental de outros órgãos. No Brasil, como existem poucos equipamentos e o custo do exame é alto, o método não foi disseminado. 

Pesquisa estabelecerá marco histórico na Hepatologia

A pesquisa inédita realizada pela médica Leila Tojal conta com o respaldo da hepatologista Mônica Viana, uma das mais experientes do país no uso do fibroscan. Durante dois dias, no final de outubro, ela acompanhou os exames nos pacientes selecionados pelo Serviço de Hepatologia do HU e, em junto com a hepatologista Leila Tojal, determinou o ponto de corte do equipamento para estimativa do grau de fibrose hepática nos pacientes com a doença em destaque.

“É um trabalho fantástico que a médica Leila Tojal está iniciando aqui, com a proposta de estudar a aplicabilidade do fibroscan na esquistossomose. É um trabalho cuidadoso que vai estabelecer um marco histórico, uma experiência nova pro mundo”, comemorou Mônica Viana.

A esquistossomose é uma doença facilmente tratável quando diagnosticada no início, mas que provoca danos graves ao organismo em sua fase avançada, como o aumento do fígado (hepatomegalia) e cirrose, aumento do baço (esplenomegalia), hemorragias provocadas por rompimento de veias do esôfago, e ascite, conhecida como barriga d’água. Segundo Leila Tojal, o número de pacientes graves de esquistossomose tem reduzido em Alagoas com os programas de saúde, que diagnosticam a doença em sua fase inicial.

Mas, a doença ainda é prevalente e o maior obstáculo para sua erradicação é a falta de saneamento básico, que expõe as pessoas ao ambiente contaminado. “A gente observa que o número de paciente na fase aguda avançada da doença está diminuindo em Alagoas. O problema é que as pessoas fazem o tratamento da esquistossomose, mas, voltam a se expor ao agente por falta de infraestrutura, falta de saneamento básico.

Eles voltam a usar a água contaminada no banho, para lavar roupas, para cozinhar e beber e voltam a se contaminar. Entre os selecionados que vão fazer a pesquisa, 50% estão com sequelas graves provocadas pela doença”, comentou a médica.