Ato em Defesa da Vida destaca a importância de manter a vigilância para que a repressão não volte

Com o lema "Para que não se esqueça! Para que nunca mais aconteça!", a memória é uma arma de resistência

31/03/2014 12h55 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h28
Mesa de abertura

Mesa de abertura

Lenilda Luna - jornalista

A Anistia Ampla, Geral e Irrestrita, aprovada pelo Congresso Nacional em 28 de agosto de 1979, foi conquistada pela pressão da sociedade que queria o fim das prisões políticas, mas também foi utilizada pelos militares para tentar promover o "silêncio" sobre os crimes perpetrados pelo Estado contra cidadãos brasileiros nos porões da Ditadura Militar.

Nesta segunda-feira, em que a sociedade brasileira reflete sobre o golpe militar de 31 de março de 1964, os debates demonstram que a sociedade civil organizada nunca aceitou esse silêncio, que não se pode passar uma borracha nesses anos de chumbo e que as famílias de desaparecidos e torturados ainda aguardam os esclarecimento dos crimes e a prisão dos responsáveis.

O 13° Ato do programa Ufal em Defesa da Vida, em parceria com a Comissão da Verdade, destacou a importância de promover a discussão sobre este período significativo e sombrio da história recente do Brasil. "Temos o dever cívico e político de rememorar essa história, para que esses fatos nunca mais venham a se repetir. Temos na Ufal a missão de formar os jovens, e essa geração precisa conhecer o preço que a juventude da época teve que pagar para lutar pela liberdade", ressaltou Ruth Vasconcelos, coordenadora do programa Ufal em Defesa da Vida.

Ruth Vasconcelos destacou ainda que precisamos ter atenção com o desrespeito aos direitos humanos que ainda hoje persistem e são registrados diariamente. "Lamentavelmente, a tortura ainda acontece em delegacias de polícia. A nossa ação deve ser não é só para varrer os crimes do passado, mas para consolidar o Estado Democrático de Direito, conquistado com muita luta", disse a coordenadora, na abertura do evento.

Representantes de entidades que herdaram um rico legado de resistência à ditadura militar, como o DCE e a UNE, também destacaram a importância do evento. "Nós jovens temos noção do que representou a Ditadura Militar e de como é fundamental acompanhar as comissões da verdade buscando esclarecer os crimes desse período", disse Luciene Araújo, representante do Diretório Central dos Estudantes da Ufal.

Thiago Souza, diretor da UNE, destacou momentos históricos de enfrentamento do movimento estudantil ao regime ditatorial. "A UNE caiu na clandestinidade, tivemos muitos estudantes presos, como no Congresso realizado em Ibiúna, em 1968. Estudantes que se tornaram referência do movimento estudantil foram presos, torturados e mortos, como Edson Luis e Honestino Guimarães. Precisamos honrar a memória desses companheiros e revelar ao país, por meio da Comissão da Verdade, tudo o que aconteceu", ressaltou o representante da UNE.

O movimento sindical, que também tem uma longa história de combate à ditadura e de organização popular, estava representado no ato pelo Sindicato dos Trabalhadores da Ufal (Sintufal). O diretor Aloisio Correia lembrou que ele mesmo viveu momentos difíceis durante o regime militar. "Acompanhei debates do Sindicato dos Alfaiates, que reunia trabalhadores e intelectuais de esquerda em Alagoas. Tive companheiros que foram presos e desapareceram", lembrou o sindicalista.

Também falaram na mesa de abertura, o professor Antônio Passos, representando a Associação dos Docentes da Ufal, Rafael Pires, representando o Centro Cultural Manoel Lisboa, o padre Manoel Henrique, coordenador da Comissão da Verdade em Alagoas e Everaldo Patriota, representando a Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas.

Finalizando a solenidade de abertura, a vice-reitora Rachel Rocha agradeceu a presença dos que compareceram à convocação para refletir sobre esse período e questionou as ausências. " Se este auditório não está completamente lotado é porque precisamos reforçar nossa obrigação de rememorar esses fatos e estar atentos a qualquer ameaça à democracia que ainda está sendo consolidada. Como dizem os franceses, temos o dever de memória", concluiu.