Projeto de Extensão em Arquitetura contribui com a preservação do patrimônio cultural de Viçosa

Grupo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo fez um levantamento dos prédios que podem ser tombados como patrimônio histórico e cultural

04/02/2014 12h15 - Atualizado em 02/05/2024 às 16h01
Josimeire Ferrare (de azul), Rafaela (no centro) e Karina Padilha

Josimeire Ferrare (de azul), Rafaela (no centro) e Karina Padilha

Lenilda Luna - jornalista

Os alunos da disciplina de Prática de Restauro da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas, liderados pela professora Josimeire Ferrare, já contribuíram em vários momentos com a preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Alagoas. Estudos realizados em Marechal Deodoro, Passo de Camaragibe, Penedo e outros municípios culminaram em processos de tombamento e valorização de edificações e do "saber fazer" de patrimônios imateriais.

Recentemente, a cidade de Viçosa foi alvo dos estudos e levantamentos do grupo. Um trabalho que foi recebido de braços abertos pela então secretária de Cultura do município, Karina Padilha. "Eu busquei fora de Alagoas e em vários lugares por especialistas que pudessem contribuir com um levantamento do patrimônio de Viçosa, mas os orçamentos eram altos para as finanças da cidade. O estudo realizado pela Ufal, de forma brilhante, é imensurável", declarou a ex-secretária.

Os estudos foram iniciados no primeiro semestre de 2011, quando foi feito um projeto dos alunos da disciplina de Restauro para realização de um inventário com edificações e saberes da cidade. "Abraçamos essa demanda por indicação da então reitora, Ana Dayse Dorea. Ela informou que a secretária de Cultura de Viçosa buscava especialistas que realizassem esse levantamento na cidade. Para nós, é sempre importante trabalhar com as demandas do Estado", relatou a professora Josimeire Ferrare.

O trabalho foi minucioso. Os alunos registraram as características de 144 unidades, no centro da cidade e na área rural, algumas em localidades de difícil acesso. "Foi um trabalho que exigiu empenho dos alunos. Observamos prédios dos mais simples aos mais sofisticados, representandos de períodos históricos da cidade. Para visitar alguns casarões da área rural foi preciso fazer caminhadas, quando as estradas, em período de chuva, estavam intransitáveis. Mas foram tarefas que os alunos cumpriram com disposição e criatividade", destacou a professora.

A própria estrutura da Ufal foi contemplada nos estudos. Um dos projetos realizados se refere ao diagnóstico de quatro unidades da antiga Fazenda São Luis, atual unidade de ensino da universidade. As unidades analisadas foram: a antiga casa de administração do Ceca, a antiga Casa de Hóspedes, a casa onde funciona o atual ambulatório do curso de Veterinária e a casa onde funciona a garage e alguns depósitos. O objetivo foi fornecer elementos à Sinfra para elaborar os projetos de restauro dessas edificações.

Em 2012 e 2013, os trabalhos continuaram com turmas diferentes. Foi feito o dossiê para o tombamento de uma edificação no centro da cidade, onde funcionou a antiga prefeitura e depois se tornou a casa de cultura. "Observamos que esse prédio tem características das edificações desenhadas pelo arquiteto italiano Luigi Lucarini, que deixou seus traços em obras de destaque em Alagoas, no final do século XIX e início do século XX. A relação está sendo investigada, mas basta comparar fotos para perceber que o prédio de Viçosa é muito parecido com a antiga prefeitura de Maceió, na praça dos Martírios, projetada por Lucarini", explica Josimeire.

Com o dossiê preparado pelos pesquisadores da Ufal, Karina Padilha, que até ano passado respondia pela pasta da Cultura em Viçosa, solicitou o tombamento estadual da edificação. "Conseguimos o tombamento como patrimônio histórico e cultural de Alagoas e fizemos uma grande comemoração no dia 13 de outubro de 2013, durante as festas da Emancipação Política de Viçosa. Agradecemos aos estudantes de arquitetura e à professora Josimeire Ferrare pelo suporte de conhecimento técnico que permitiu essa conquista para a cidade", agradeceu a ex-secretária, Karina Padilha.

Polígono Arquitetônico

A vasta documentação elaborada pelos estudantes de Arquitetura foi organizada em um mapeamento que indica a formação de um polígono no centro da cidade, ou seja, um aglomerado de edificações representativas de um período histórico que podem ser tombadas conjuntamente, a exemplo do que aconteceu no centro histórico de Marechal Deodoro. "Já temos um Conselho Municipal de Cultural criado no final do ano passado, cujos conselheiros serão nomeados em breve, e estamos pensando em solicitar o tombamento municipal, já que a cidade deve ser a primeira a valorizar seu patrimônio", ressaltou Karina Padilha.

A ex-secretária fez questão de destacar a qualidade do trabalho realizado pelo grupo de extensão da Ufal. "Além da consultoria especializada, com toda a fundamentação e justificativa, os alunos inovam na apresentação deste material. A produção nos mune de embasamento técnico para evitar que essas edificações, algumas públicas outras propriedades particulares, sejam danificadas ou alteradas sem respeitar as características originais. Agora temos condições de buscar o tombamento deste patrimônio", garantiu a ex-secretária.

Diversos produtos

O trabalho realizado em Viçosa rendeu produtos diversificados. Os alunos demonstraram muita criatividade para apresentar os resultados, criando até vários materiais didáticos que podem ajudar as crianças da cidade a valorizar o patrimônio histórico que as cerca. A aluna Rafaela Cristina dos Santos Carvalho, que atualmente é monitora do projeto destaca o quanto é importante para os alunos participar do projeto. "É gratificante participar de uma experiência concreta na nossa área profissional e ver os resultados concretos que os estudos trazem para a preservação do patrimônio histórico das cidades", disse Rafaela.

Na mesa, foram espalhados algum dos produtos criados pelos alunos, como um lindo calendário de 2014, com fotos das casas avarandadas de Viçosa, feitos pela aluna Camila Goetten. "As fotos demonstrar um olhar sensível sobre as edificações, com uma leitura ao mesmo tempo técnica e poética. A composição destaca a arquitetura e o verde que caracteriza o nome da cidade, Viçosa", ressaltou a ex-secretária de Cultura, Karina Padilha.

O patrimônio imaterial também foi registrado pelos alunos. Foi elaborada uma cartilha explicando que esse patrimônio é formado pelas manifestações culturais e pelo saber-fazer das técnicas que são passadas de geração em geração. Entre elas, a confecção de instrumentos para a banda de pifes. "Mestre Bia já tem 84 anos e ele é o único que conhecemos que confecciona os instrumentos da banda de pifes. Esse é um conhecimento que não pode se perder", destacou a arquiteta Josimeire Ferrare.

Entre o material didático e lúdico que os alunos elaboraram para as escolas, destacam-se o dominó de mestres dos folguedos da cidade, o quebra-cabeça com imagens das edificações históricas, uma brincadeira de passeio pela cidade que se joga com dados e pinos, com referências culturais e geográficas de Viçosa, um baralho com ícones culturais, postais com fotografias de vários elementos arquitetônicos, enfim, criatividade sem limites para valorizar a cultura local.

Até as embalagens são atrativas. O dominó, por exemplo, é guardado numa sacola conhecida como "puça", feita de cordas, por uma artesã da cidade, dona Alta, que se prontificou a colaborar, apesar dos seus 90 anos de idade. A caixa para guardar o kit do passeio é decorada com fitas coloridas com as cores do Guerreiro, folguedo muito valorizado em Viçosa. "São materiais que foram produzidos com talento e carinho e agora podem ser usados pelos moradores da cidade", comemorou Karina Padilha.