Pesquisa define o primeiro conceito temático para Marketing Informal e analisa como ele acontece nas feiras livres

O estudo foi realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia na Feira do Passarinho

17/06/2013 09h55 - Atualizado em 02/05/2024 às 16h01
Parte do grupo de pesquisa

Parte do grupo de pesquisa

Lenilda Luna - jornalismo 

As feiras livres são formas muito antigas de comércio e surgiram com a formação das vilas e cidades. Esse aglomerado de pequenos comerciantes persiste nos centros urbanos até os dias de hoje, mesmo com a concorrência dos shoppings e supermercados. Essa alternativa de geração de renda para microempreendedores atraiu a atenção de pesquisadores do departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade Federal de Alagoas e da Universidade Federal de Uberlândia. Ainda, o grupo de pesquisa é formado por pesquisadores em Administração, Psicologia Social, Contabilidade e Engenharia de Produção, o que soma à pesquisa realizada, devido aos diversos níveis de abordagem científica imersos no trabalho.  

A proposta foi entender essa forma intuitiva de gestão dos pequenos negócios, analisando uma feira livre do Centro de Maceió, a tradicional Feira do Passarinho. A partir das pesquisas realizadas foi formulado um artigo científico publicado na edição de maio deste ano da International Journal of Business and Commerce, revista de abrangência internacional publicada no Paquistão. "O artigo tem caráter de ineditismo, pois apresenta o primeiro conceito para o termo "Marketing Informal" e discute o surgimento do termo dentro do escopo da Administração, demonstrando de forma prática como se dá esse conceito", explica Gustavo Henrique Silva de Souza, mestrando em Psicologia Social (Comportamento Empreendedor) da Ufal, formado em Administração e integrante do grupo. 

Nas entrevistas, os pesquisadores constataram que a maior parte dos feirantes, ambulantes, camelôs e artesãos estão na feira porque não encontraram outra opção de sobrevivência, devido a escassez de emprego e dificuldades de inserção no mercado de trabalho, mas nem por isso eles tocam os negócios de qualquer forma. "Encontraram-se resultados que corroboraram as premissas apontadas pela literatura, mostrando que os microempreendedores na feira livre investigada têm posturas estratégicas de marketing em relação aos seus negócios", destacaram os pesquisadores no artigo. 

O estudo também aponta que, apesar dos vários estudos voltados para o empreendedorismo e da formulação de políticas públicas voltadas para os microempreendedores, esses pequenos comerciantes ainda se ressentem pela falta de apoio e pela concorrência acirrada dentro da própria feira e também com os mercados emergentes que proliferam nos bairros. Ainda assim, esses pequenos empreendedores descobrem de forma quase intuitiva como manter seus negócios."O ambiente empresarial cotidiano  passa a influir no comportamento social e psicológico do indivíduo, através de processos cognitivos, de modo que o indivíduo acaba por  desenvolver potencialidades que compreendem habilidades e capacidades de gestão estratégica e marketing", ressaltam os especialistas. 

Os pesquisadores também perceberam que para chamar a atenção do cliente, os feirante se valem até de propaganda enganosa. "Um modelo considerado eficaz de propaganda para chamar a atenção dos consumidores locais é a utilização, pelos microempresários da feira, de nomes, imagens e falso merchandising, como marcas famosas, objetivando dar maior credibilidade ao seu produto comercializado, como no caso de uma loja de sandálias observada. A loja utilizava propagandas de marcas como Havaiana e Ipanema, mesmo não possuindo produtos dessas marcas", revelou o estudo. 

A religião também é utilizada para criar uma empatia com os consumidores, com a exposição, na fachada das lojinhas, de frases religiosas, usadas pelos evangélicos, ou crucifixos e imagens de santos, identificadas com os católicos. Foram constadas ainda várias formas criativas de abordagem, que muitas vezes eram feitas aos gritos para atrair a atenção na feira, como o empresário que cantava o jingle “Olha o danoninho para o seu menino, não tem bom precinho, nem bom preção, aqui é melhor preço...”, considerado pelos pesquisadores uma demonstração do marketing informal utilizado na localidade. 

Os pesquisadores concluíram que, apesar de desenvolverem de forma intuitiva as estratégias para vender seus produtos, esses pequenos empreendedores poderiam potencializar os negócios se contassem com o apoio de orientações de gestão voltadas para a realidade deles. Aprofundar essa reflexão é um dos objetivos do estudo. "O artigo busca incentivar novos estudos em micro-empreendedorismo, feiras livres e marketing informal, e assim, nutrir novas análises e observações na área de pequenos negócios, de modo a desenvolver linhas de pesquisas que investiguem especificamente esse tema", estimula o grupo. "Isso inclui estudar como se dão os processos psicológicos nesses microempresários que os fazem aprender, a partir da vivência diária, a administrar seus negócios sem conhecimentos técnicos ou específicos sobre gestão", conclui o pesquisador explica Gustavo Henrique. 

O artigo intitulado "Structures of Commercialization: Actions of Informal Marketing from Brazilian Micro-entrepreneurs in a Street Market" (Estruturas de comercialização: Ações de marketing informal por micro-empreendedores brasileiros em uma feira livre) pode ser acessado através do link da revista: http://www.ijbcnet.com/currentissue.htm