Origem da singeleza alagoana e do puntino ad ago italiano ainda é estudada

Semelhança entre artesanato das duas regiões promoveu intercâmbio de informações entre pesquisadores e artesãos

13/11/2013 13h40 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h29
Josemary Ferrare com a equipe que compõe o júri

Josemary Ferrare com a equipe que compõe o júri

Lenilda Luna - jornalista

A história sobre a origem do artesanato conhecido como singeleza começou em 1994, quando a arquiteta Josemary Ferrare resolveu desenvolver um projeto para que o bordado não desaparecesse com a única artesã, à época, que mantinha esse conhecimento, dona Marinita, da cidade de Marechal Deodoro. Foram feitos estudos, fotografias, oficinas para repassar o conhecimento, relatórios encaminhados ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para o reconhecimento do artesanato típico de algumas cidades alagoanas, como Marechal Deodoro e Água Branca. 

Todo esse material foi disponibilizado na internet e foi observado por uma italiana,  Felicetta Gesualdi, que, coincidentemente, estava fazendo um levantamento cultural para o resgate do Puntino ad Ago, um ponto muito parecido com a singeleza alagoana, feito na cidade de Latronico, na Itália. A pesquisadora italiana entrou em contato com Josemary Ferrare, professora da Universidade Federal de Alagoas, e, desde então, foram muitas atividades conjuntas.

Em agosto deste ano, a arquiteta alagoana voltou à cidade italiana na condição de integrante do júri de um concurso de Puntino ad Ago, que teve três formas de julgamento: um júri popular, onde todas as pessoas da cidade podiam observar as cortinas feitas com o puntino, nas vitrines e votar, outro júri de qualidade e um técnico.

O grupo que avaliou a qualidade se reuniu no dia 22 de agosto deste ano, para escolher a mais elaborada cortina de puntino ad ago. Participaram o prefeito da cidade, Fausto De Maria, a especialista  Aida Di Lascio Vecchione, a arquiteta alagoana Josemary Ferrare, da Ufal, Sandra Ferracutti, antropóloga e docente dell’Universitá della Basilicata, e antropóploga Emanuelle Rossi, da Universidade de Florença.

O júri técnico foi composto por adolescentes que frequentam o curso de Puntino ad ago, ministrado em Latronico. "Os critérios de escolha dos vencedores premiados pela Comune de Latronico variaram entre o efeito estético resultante e o uso predominante do Puntino ad Ago no campo central das cortinas, ora associado a outro tipo de bordado, ora exclusivo na confecção da cortina", relatou Josemary Ferrare. 

O mais importante no concurso, segundo a arquiteta alagoana, foi a divulgação do artesanato da cidade italiana. "Lá, eles valorizam muito esse conhecimento. A cidade toda está envolvida em preservar o Puntino ad Ago, tanto que os jovens estão aprendendo a arte. A cortina vencedora em primeiro lugar foi confeccionada por uma jovem, cuja bisavó, a avó e a mãe faziam Puntino, e agora, ela continua a tradição", exemplificou a professora da Ufal.

Durante sua estada em Latronico, Josemary Ferrare aproveitou para fortalecer essa aproximação entre Brasil e Itália nos laços de um artesanato muito semelhante. "Entreguei ao demoantropólogo, professor Ferdinando Mirizzi, diretor do departamento de Cultura Europeu, um acordo de Cooperação Técnica proposto entre a Universidade Federal de Alagoas e a Universidade da Basilicata para que se possa iniciar uma frente de pesquisa sobre a possibilidade de transmissão do saber-fazer do Puntino em Alagoas, por meio do fluxo de imigração latroniquesa no início do século 20. O acordo de cooperação já foi firmado pelas duas instituições", destacou a pesquisadora alagoana.

Para mais informações sobre o projeto, veja em anexo relatório da última viagem à Latronico e as ações do projeto Singeleza em Alagoas: