Élcio Verçosa compartilha memórias dos 52 anos da Ufal

Mobilização estudantil e expansão da universidade são temas recordados pelo professor do Centro de Educação

14/02/2013 11h45 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h31
Élcio Verçosa fala com a autoridade de ser um dos poucos estudiosos da história da instituição

Élcio Verçosa fala com a autoridade de ser um dos poucos estudiosos da história da instituição

Jhonathan Pino - jornalista

Há 52 anos, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) iniciava um processo de transformação na história do Estado. Com a união das faculdades de Direito, Medicina, Filosofia, Ciências Econômicas e da Escola de Engenharia, em 25 de janeiro de 1961, criava-se a instituição de maior influência intelectual na terra dos marechais. Nesse espaço de tempo, ela seria responsável pela formação de personagens marcantes em diversas esferas, como Agatangelo Vasconcelos e Ogelson Gama, na Medicina, Ênio Lins, na Comunicação, e Aldo Rebelo, na política nacional.

Um pouco dessas memórias são relembradas por Élcio Verçosa, professor aposentado do Centro de Educação (Cedu) da Ufal, que há mais de quatro décadas compõe a instituição. Quando entrou no curso de Letras como discente, em 1967, Élcio fez parte de um momento marcado por golpes militares. Enquanto presenciava o nascimento de figuras emblemáticas do conhecimento alagoano, viu de perto o processo de perseguição daqueles alunos que eram ditos subversivos pelo poder militar, entre eles, o seu irmão Benildo Verçosa.

“Tem uma geração que é pouco considerada, que esteve no olho da Ditadura e teve que entrar na clandestinidade, após ser expulsa da universidade. Eles foram presos e torturados, como Manuel Lisboa, Selma Bandeira e Dênis Agra. O meu irmão, Benildo Verçosa, passou 15 dias levando choque”, detalhou Élcio.

Ainda aluno, em 1968, Élcio teve que deixar as atividades do Diretório Acadêmico de Letras, após pressão militar. “Naquela época, os milicos assistiam às aulas de Sociologia e outras áreas de humanas, tentando identificar os comunistas. Depois de identificados, eles eram expulsos da universidade, que, a partir de 1971, teve como reitor Nabuco Lopes. General da reserva, Nabuco muitas vezes era chamado de General de Pijama”, sorriu.

Outro reitor foco da mobilização estudantil foi o professor A.C. Simões, primeiro reitor da Ufal e único a permanecer por um período de 10 anos à frente do cargo, cujo nome foi dado campus da universidade em Maceió. “Quando queriam fazer protestos, os estudantes colocavam um alto-falante em frente ao consultório do professor, o que o impossibilitava de trabalhar”, disse Verçosa.

Resgate histórico

Enquanto professor, a partir de 1980, acompanhou o nascimento do redirecionamento institucional para o desenvolvimento de pesquisas e a difusão cultural pela Ufal. “Costumo dizer que eu vivi três fases: uma em que simplesmente foi transformada em entidade federal; outra em que ela passa por uma fase de crescimento e, depois, aquela de plenificação, em que passou a atuar com a pesquisa e a extensão, a partir da gestão da reitora Delza Gitaí, no final da década de 1980”.

Élcio fala com a autoridade de ser um dos poucos estudiosos da história da instituição. Em parceria com a jornalista e produtora cultural, Simone Cavalcante, também servidora, o professor foi autor de “O livro dos 50 anos” da Ufal, lançado em 2011, após trabalho de dois anos de levantamento de informações, recuperação de testemunhos e dados documentais, somados aos cinco anos em que produziu sua tese de doutorado, na qual estudou o poder na universidade.

“O João Azevedo [reitor entre 1979 e 1983] deixou uma relíquia inestimável, com uma coletânea dos primeiros 20 anos da Ufal. Foi a partir desse livro que tive acesso a várias coisas”, relatou Élcio. Ele ainda lembra os professores Moacir Santana, Graça Tavares e a técnica Ana Tenório que contribuiram para o resgate da história da Ufal.

Momento de plenitude

Conforme o livro comemorativo, o atual momento da Ufal é de consolidação da pesquisa e da expansão de ações. Na última década, a universidade ganhou novos campi no interior, ampliou o número de unidades de educação a distância e vem consolidando ano a ano a pós-graduação stricto sensu.

“Houve um crescimento geométrico nessa área. Até no interior já temos cursos stricto sensu. Quando poderíamos imaginar que Arapiraca teria um mestrado em tão pouco tempo? Outra coisa que acho significativo nos últimos 10 anos é o investimento na assistência estudantil. Trata-se de uma política nacional, mas que é aproveitada pela Ufal. Houve uma época em que a Pró-reitoria Estudantil se resumiu a alimentar os estudantes e quase se transformava em um simples departamento. Hoje, a gente vê um novo restaurante e residência universitários sendo construídos”, disse o professor.

No entanto, Élcio relata que a democratização do acesso à universidade é fruto de uma política criada nos fins da década de 1980, quando a gestão de Delza Gitaí inicia a implantação dos cursos noturnos. “Antes disso, os estudantes que trabalhavam tinham que pagar para estudar, pois só existia o Cesmac (Centro de Ensino Superior de Maceió) ofertando os cursos durante a noite. Apesar de muito debate e dos contras, os cursos noturnos foram implantados e hoje dão a oportunidade para que todos entrem na Ufal.”.

Quando convidado para participar da aula inaugural do Campus do Sertão, no último dia 21 de janeiro, o professor lembrou o percurso difícil que estudantes do interior tinham que percorrer para chegar ao ensino superior. Natural de Porto Calvo, Élcio ressalta que a próxima etapa para a consolidação da Ufal no Estado é a criação do Campus do Litoral Norte. “Apesar de ainda não existir o Campus do Litoral, é muito mais fácil para os estudantes de lá virem para Maceió, do que os do Sertão. Hoje podemos dizer que a universidade atende a todas as regiões do Estado e é ela a maior responsável pela pesquisa em Alagoas, na busca pelo desenvolvimento da sociedade local”, completou.