Campus do Sertão produzirá energia solar

Instituto Xingó doou placas solares para a produção da energia em todo o campus

27/03/2012 15h55 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h34
Reinaldo Falcão e Fábio Castelo Branco,representantes do Instituto Xingó, na entrega das placas ao Núcleo

Reinaldo Falcão e Fábio Castelo Branco,representantes do Instituto Xingó, na entrega das placas ao Núcleo

Myllena Diniz – estudante de Jornalismo

Em 1921, a cidade de Delmiro Gouveia já apresentava interesse na implantação de energia elétrica e água canalizada. Agora, 90 anos depois, um grupo de pesquisadores do Campus do Sertão da Universidade Federal de Alagoas, com sede nesse município, pretende transformar a instituição na primeira academia do Brasil movida à energia solar.

O Núcleo de Produção de Energia do Sertão, coordenado pelo professor Fernando Pinto Coelho, procura dimensionar energias renováveis no semiárido alagoano. A equipe começa suas atividades com a produção de energia solar, a mais favorável de acordo com as condições climáticas da região. “Temos uma verdadeira proposta de crescimento dentro da área das fontes energéticas renováveis, pois o Sertão possui uma taxa de insolação elevada, o que beneficia bastante a produção de energia solar”, destacou o coordenador do projeto.

Segundo Fernando, um dos principais empecilhos para o desenvolvimento dessa energia renovável é a importação de placas fotovoltaicas, responsáveis pela captação dos raios solares. Por isso, a meta do núcleo é a realização de pesquisas que auxiliem na produção desse material e na dinâmica econômica local. “Se conseguirmos fabricar placas próprias, proporcionaremos a criação de microempresas vinculadas à comunidade, que, por sua vez, vai terceirizar o produto. Temos uma perspectiva de apoio e uma proposta de desenvolvimento sustentável, que viabiliza uma comunidade estável, equilibrada”, ressaltou.

A iniciativa tem como principal parceiro o Instituto de Desenvolvimento Científico e Tecnológico de Xingó, que cedeu 21 placas fotovoltaicas, acumuladores de energia e painel solar – úteis para a geração de energia em todo o campus. Outra proposta possível com essa parceria é a implantação da Casa Popular de Energia Solar, orientada pela professora Janice Rodrigues. “O projeto da Casa Popular é voltado para as áreas sociais. É um grande incentivo para as comunidades carentes, que poderão gerar energia para toda a residência com uma placa fotovoltaica. Isso exige que tenhamos uma tecnologia capaz de reduzir os custos de fabricação das placas, para que elas possam ser vendidas a preços populares”, declarou Fernando.

Biblioteca de Energias Renováveis

Para complementar os estudos realizados pelo núcleo de pesquisadores, será criada a Biblioteca de Energias Renováveis do Sertão, cujo levantamento dos livros já foi efetuado. O acervo bibliográfico, formado em grande parte por obras internacionais, será mais um auxílio para o conhecimento científico e para a difusão de técnicas de obtenção de energia pouco utilizadas, mas consideradas as principais alternativas não poluentes. Além disso, a equipe está engajada na participação em congressos e na ampliação de contatos com profissionais da área.

“Teremos uma energia limpa, sem resíduos. Hoje, existe uma carência muito grande de mecanismos que não causem impactos ao meio ambiente. Então, há um grande diferencial na produção de energia limpa. Ao contrário dos rios impactados pelas hidrelétricas e dos desmatamentos ocasionados pela construção de energia hidráulica, esse projeto representa ganhos na qualidade de vida da comunidade que vive no Sertão”, afirmou o coordenador do Núcleo de Produção de Energia do Sertão.

O núcleo, composto por nove docentes e três bolsistas, está sob a orientação do especialista em energia solar Agnaldo Santos, que desenvolve grupo de pesquisa na área de energia e recursos naturais. Após a consolidação do projeto inicial, com operação prevista para este ano, os acadêmicos pretendem desenvolver pesquisas nas áreas de energia eólica e de biomassa. Sob essa perspectiva, o professor Fernando Pinto Coelho é categórico: “É uma felicidade muito grande saber que podemos ter a certeza de que no futuro essas pesquisas serão desenvolvidas e que, tecnologicamente, Alagoas poderá dar um passo à frente”.

Contribuição para o desenvolvimento de Alagoas

Entre os interesses do projeto está o auxílio à rede empresarial do Sertão alagoano. Esse setor será beneficiado com os resultados que prometem minimizar as taxas de energia. Para isso, o núcleo tem o apoio da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia, do Conselho Estadual de Política Energética (Cepe) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal). "Um dos nossos principais objetivos é o desenvolvimento tecnológico de energia solar que ofereça um acréscimo grande às receitas das empresas do Sertão de Alagoas, que podem dimensionar algo muito positivo na produção de produtos por meio da energia solar”, revelou o professor.

A medida também inclui a Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal), interessada na utilização de bombas que levam a água até os ductos elevatórios da empresa, de modo que esse processo seja realizado com a produção de energia solar. De acordo com o coordenador do Núcleo de Produção de Energia do Sertão, a direção da Casal já sinalizou a vontade de estabelecer convênio com a Ufal, para que a instituição produza placas fotovoltaicas úteis na geração de energia.