Pesquisa pioneira na área de Pedagogia Hospitalar foi desenvolvida no HU

Foco do trabalho de ex-aluna da Ufal foi o setor pediátrico e os resultados fundamentaram dissertação de mestrado

09/01/2012 09h58 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h34
Sandra Souza durante atividades desenvolvidas no HU

Sandra Souza durante atividades desenvolvidas no HU

Myllena Diniz – estudante de Jornalismo

O processo de internação hospitalar infantil provoca alterações na vida de crianças, inclusive na escola. O constante uso de medicamentos, as lesões ocasionadas por tratamentos, o isolamento social e as limitações são algumas das principais dificuldades encontradas por aqueles pacientes. Com base nessa realidade que resulta, na maioria dos casos, em afastamento das aulas, foi desenvolvida pesquisa no Hospital Universitário da Universidade Federal de Alagoas, inédita no Estado e voltada ao atendimento pedagógico.

A pedagoga Sandra Santana de Sousa, graduada e mestra pela Ufal, passou a atender crianças excluídas do processo educativo escolar por estarem hospitalizadas, no período de 2010 a 2011. Com esse trabalho, ela desenvolveu a dissertação de mestrado “Aprender é vida, ensinar é arte: atendimento pedagógico no setor pediátrico do HUPAA em abordagem complexa e multirreferencial”.

Para Sandra, o período de internação é um dos responsáveis pela perda de ano letivo ou atraso nos conteúdos pedagógicos. Por isso, ela considera que a Pedagogia Hospitalar permite que crianças em processo de tratamento tenham acesso à educação e, após o retorno às atividades escolares, possam se readaptar de forma mais rápida e acompanhar o conteúdo em sala de aula. “O pedagogo não deixa a criança perder o vínculo escolar. As classes hospitalares e o atendimento escolar em ambiente domiciliar dão continuidade ao processo de desenvolvimento e ao processo de aprendizagem dos alunos e isso contribui para seu retorno e reintegração ao seu meio escolar”, explicou.

Hospitais não têm serviço

Apesar de o atendimento pedagógico escolar em hospitais ser garantido por lei, muitas regiões, inclusive Alagoas, não dispõem desse serviço. A pedagoga constatou em suas pesquisas que nenhum hospital alagoano oferece o apoio pedagógico aos pacientes. “O que há são apenas projetos de caráter voluntariado”, completou.

Para o desenvolvimento da pesquisa, Sandra Sousa destacou que só encontrou espaço no Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HUPAA). “Minha pesquisa de mestrado foi feita no HU da Ufal porque é um hospital universitário e é aberto à pesquisa. Nos outros hospitais eu não consegui entrar”, ressaltou.

A pesquisa, orientada pelo professor e psicólogo Sérgio da Costa Borba, foi desenvolvida com as crianças da pediatria do HUPAA, por meio de atividades escolares, atividades lúdico-educativas, brincadeiras, motivações, vivência com processos educativos e utilização de recursos didático-pedagógicos e de técnicas de escuta. “O pedagogo realiza tarefas escolares e, como conhecedor profundo dos processos educativos, vai atender os pacientes de uma forma mais pedagógica”, informou a pesquisadora.

Para dar validade ao projeto, a pedagoga utilizou a abordagem filosófica multirreferencial, que busca o auxílio de várias ciências e permite ao profissional fundamentar suas atividades. “O trabalho do pedagogo no hospital tem um diferencial, pois ele tem que saber os problemas de saúde das crianças, ou seja, tem que ter conhecimentos na área da saúde, da educação, da psicologia, entre outros. Por isso, caminha em direção à humanização”, avaliou Sandra.

De acordo com a pedagoga, o trabalho possibilitou esclarecer a relevância do acompanhamento pedagógico nas alas hospitalares, através da experiência realizada no HU. “A pesquisa buscou compreender a importância do pedagogo no setor pediátrico do hospital universitário, suas implicações e possibilidades de atuação”, explicou.

Resultados

O estudo concluiu que a necessidade da interrelação entre a saúde e a educação das crianças só pode ser amenizada se a escola for levada para dentro do hospital. No entanto, segundo a pedagoga, essa é uma tarefa difícil, devido às implicações estruturais apontadas pelo projeto. “Para colocar um projeto como esse em prática, é preciso infraestrutura, é necessário montar salas de aula - com telefone, papel, impressora, materiais lúdicos e educativos, livros e pessoal capacitado. Além disso, tem que ser uma coisa de 'cima para baixo', a direção do hospital tem que abrir vaga para pedagogos. Não é uma coisa tão simples”, alertou a pedagoga.

Pioneira no ramo da Pedagogia Hospitalar, Sandra Sousa pontuou a importância do acompanhamento pedagógico a crianças internadas. “A atuação do pedagogo no hospital tem um tratamento diferenciado: enquanto o médico trata as doenças do corpo, o pedagogo cuida das enfermidades da educação”.

A pesquisa de mestrado contribuiu com estudos e registros científicos na área da Pedagogia Hospitalar que, em Alagoas, segundo Sandra, ainda é pouco explorada. Atualmente, nenhum hospital alagoano tem um espaço dedicado ao ensino de crianças em processo de tratamento. Até hoje, o único a desenvolver atividades semelhantes foi o HU, por meio da investigação científica da pedagoga Sandra Sousa.

O que diz a lei

A Constituição Federal de 1988 determina que a saúde e a educação é dever do Estado e direito de todos. Mais especificamente a Resolução nº 2 do Conselho Nacional de Educação, de 11 de setembro de 2001, institui as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. O artigo 3º assegura que “os sistemas de ensino, mediante ação integrada com os sistemas de saúde, devem organizar o atendimento educacional especializado a alunos impossibilitados de frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique internação hospitalar, atendimento ambulatorial ou permanência prolongada em domicílio”.