Estudos pioneiros prometem diminuir emissão de gases nocivos na atmosfera
10/06/2011 11h37 - Atualizado em 13/08/2014 às 11h07
William Correia – estudante de Jornalismo
João Inácio Soletti e Sandra Carvalho, professores do Curso de Engenharia Química, são os coordenadores das pesquisas. No Laboratório de Sistema de Separação e Otimização de Processos (Lassop), os dois desenvolvem diferentes estudos relacionados ao tema. Entre os que vêm sendo ou já foram realizados estão os de gaseificação de biomassa, produção e utilização de biodiesel e sistemas de separação. Nos próximos meses, eles darão início ao estudo de novos processos de captura e redução do dióxido de carbono, visando conhecer as possibilidades de sua aplicação em Alagoas.
Biocarvão
Também conhecido como biochar, o biocarvão é um material gerado pela decomposição de diferentes tipos de material orgânico (entre eles ossos, bagaço, esterco) por meio do processo chamado pirólise, que consiste em submeter o material a altas temperaturas e ambiente com pouca ou nenhuma presença de oxigênio. Soletti é quem pretende trazer para Alagoas esse método inovador de reutilização e retenção do carbono: ele iniciará os estudos no programa de pós-doutoramento da University of British Columbia, sediada no Canadá, onde irá conhecer as possibilidades de utilização do composto no Estado.
Na combustão por pirólise, segundo explica o professor, o material orgânico libera parte da quantidade de carbono na atmosfera, entretanto, a maior parte é absorvida pelo carvão vegetal, por período de tempo indeterminado, e pode ser misturado ao solo, onde fica armazenado em segurança e pode ser utilizado como fertilizante. Soletti explica que foram descobertas evidências sobre a utilização do biocarvão por índios da Amazônia, mas que não se sabe se era feita com a consciência de suas propriedades. “No local onde foram encontradas evidências da utilização a terra possuía alto nível de fertilidade, atingindo quantidade de fósforo e nitrogênio três vezes maior do que aquela cultivada sem o componente”, exemplifica.
Ele diz que os estudos envolvendo a utilização do biocarvão, por serem recentes, ainda caminham a passos lentos e no Brasil são pouco realizados, principalmente por causa da falta de conhecimento aprofundado sobre a sua viabilidade. Soletti lembra que são necessárias novas maneiras de lidar com a natureza e suas potencialidades, e que é preciso ao homem “começar a pensar nas consequências de sua atual forma de tratar o ambiente”, por isso enxerga o carvão vegetal como uma opção que merece ser explorada.
Captura de dióxido de carbono
Ao lado dele, na universidade canadense, a professora Sandra irá desenvolver seu Estudo das Técnicas de Captura de CO2, baseando-se na participação de países industrializados no desequilíbrio ambiental, que é visto por ela como consequência, entre outras possibilidades, da soma de costumes já solidificados como consumo de combustíveis fosseis e desmatamento de florestas.
Com o trabalho, Sandra pretende analisar processos utilizados atualmente na captação para entender as suas limitações e analisar sua aplicabilidade. Além disso, a engenheira química pretende conhecer as possibilidades dessa captura por meio de adsorção (fixação de moléculas de um fluido a uma superfície sólida), absorção com solventes, sistemas com membranas e sistemas integrados com gaseificação.
A professora explica que 65% dos raios solares ficam retidos na atmosfera, resultando no tão conhecido efeito estufa, que tem como função manter aquecida a superfície terrestre. Quando os gases responsáveis pela reflexão e absorção dos raios infra-vermelhos acumulam na superfície, acontece a elevação da temperatura conhecida como aquecimento global.
Vilão do aquecimento global, o dióxido de carbono é o gás que precisa ser combatido, e isso pode ser feito através da redução da sua emissão e sua retirada da atmosfera terrestre por meio de processos naturais como o reflorestamento. Ela acrescenta que o dióxido de carbono não pode receber sozinho a culpa: monóxido de carbono, metano e óxidos de nitrogênio também são responsáveis por causar o efeito estufa.
Como soluções para efetiva redução dos gases nocivos, Sandra acha necessário desde a educação ambiental da população à conscientização da indústria visando à mudança de parâmetros de produção, direcionando o seu pensamento à preservação do ambiente com desenvolvimento sustentável. “Precisamos pensar, como alguns exemplos, na educação do descarte para diminuição do despejo de lixo, na utilização da coleta seletiva e reciclagem”, diz.
Pós-doutorado
O início das pesquisas, que terão auxílio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), após aprovação de bolsas para o período de duração dos trabalhos, está previsto para setembro e terá duração de um ano. No Canadá, eles terão a supervisão dos pesquisadores John Grace para a pesquisa de Sanrda, Estudos das Técnicas de Captura de CO2, e Naoko Ellis auxiliando o trabalho de João Soletti, Otimização das Condições Operacioupervinais de um Reator Pirólítico de Biomassa para Produção de Biocarvão (biochar) e Recuperação de Bio-óleo.