Em ano de cinquentenário, o sonho Ufal vira realidade para mais de 5 mil alagoanos


24/01/2011 17h17 - Atualizado em 13/08/2014 às 11h08
À direita, Martha esperava com as amigas da escola o resultado do vestibular em Arapiraca

À direita, Martha esperava com as amigas da escola o resultado do vestibular em Arapiraca

Jhonathan Pino e Rose Ferreira - jornalistas

Numa pequena cidade do sertão alagoano, com menos de sete mil habitantes, nasceu um sonho. Uma garotinha de Jaramataia queria fazer Engenharia Química: um fato meio surreal na sua família, já que ninguém havia chegado ao curso superior. Apesar de toda vontade, o ensino da cidade não ajudava: o sonho parecia ainda mais difícil de realizar estudando num colégio de ensino precário. A hipótese parecia ainda mais distante quando 162 quilômetros separavam a sua cidade natal de Maceió, local onde existe o curso de Engenharia Química mais próximo. Mas existia uma garota, que apesar de todos os empecilhos, superaria as distâncias e deixaria aquele sonho menos fictício na última sexta-feira. O nome dessa garota é Martha do Nascimento Tavares.

Martha viajava todos os dias para Arapiraca, há 40 minutos de Jaramataia, para estudar na Escola Estadual Quintela Cavalcanti, onde o ensino era um pouco melhor. “Percorria a distância porque sei que não existem limites para o sonho. Tenho o sonho de seguir uma carreira, mas como não tenho condições de fazer Engenharia Química na capital, fiz o curso de Física Licenciatura para ficar mais próxima da minha realização”, disse Martha, no trote da cidade de Arapiraca, enquanto esperava o resultado do vestibular.

Ao mesmo tempo em que Martha esperava o resultado na Praça Ceci Cunha, Arapiraca, em outras seis cidades pessoas dos 101 municípios alagoanos aguardavam a possibilidade de entrar numa Universidade, que também parecia um sonho em 1961, quando a Universidade Federal de Alagoas nasceu. Em seu cinquentenário, a Ufal teve que se desdobrar para fazer a divulgação da lista dos feras do PSS 2011 nas cidades de Arapiraca, Delmiro Gouveia, Maceió, Palmeira dos índios, Penedo, Santana do Ipanema e Viçosa.

“É uma honra e um prazer imenso estar aqui no Sertão, fazendo a leitura dos nomes dos novos alunos da Ufal e ver a esperança nos rostos de cada pessoa aqui presente”, declarou a reitora Ana Dayse Dorea, antes do início da leitura do listão dos aprovados em Delmiro Gouveia. Em Maceió, o vice Eurico Lôbo parabenizou os feras e ressaltou a importância da Universidade para o desenvolvimento do estado, ao duplicar o número de alunos matriculados nos últimos quatro anos.

Enquanto, a reitora, o vice, pró-reitores e diretores das Unidades de Ensino anunciavam o nome dos aprovados do PSS 2011, abraços, lágrimas, e mela-mela contagiavam os milhares de amigos e familiares que presenciavam a lista dos aprovados. Ao lado da Martha, nossa primeira sonhadora, as amigas dela, Maria Denise Oliveira e Ediene de Araújo Moura esperavam juntas o resultado em Arapiraca. Todas elas se diziam orgulhosas da escola em que ainda estudavam, apesar dos atrasos no calendário do ano eletivo. “As vagas são poucas e a concorrência é muito grande. Escolhi fazer Matemática porque quero ensinar na escola em que estudo”, disse Ediene.

Nathália Kariany de Souza também esperava o resultado ao lado do namorado quando soube de sua aprovação no curso de Arquitetura em Arapiraca. Mas ela não se esqueceu das dificuldades por que passou: “o calendário do colégio está atrasado e por isso muito das matérias que caem no vestibular não são passadas em sala de aula, o que torna mais difícil a aprovação para os alunos de colégio público”, disse Nathália. Em Maceió Lekson Rodrigues Santos, aprovado em Agronomia, disse que chegar nesse momento e ouvir o nome dele após um ano inteiro de dedicação e estudos foi a maior emoção de sua vida.

Campus do Sertão tem sua segunda lista de aprovados

O resultado do vestibular em Delmiro é muito peculiar, não só por ser uma realidade ainda nova na cidade, já que este foi o segundo vestibular do Campus do Sertão, mas pelo clima fraternal que toma conta de todos aqueles que param na praça do coreto ou nos seus arredores. A cada nome lido, uma comemoração é feita, mesmo que a pessoa não esteja lá, porque praticamente todos se conhecem e logo identificam os “feras” como o “fulano do hospital”, “o cicrano da padaria”, e assim por diante. Quem vê aquela praça de longe, imagina que estão lá membros de uma única família.

Letícia Bezerra, fera em Engenharia Civil e moradora de Delmiro Gouveia, estava muito emocionada. “Essa é a segunda vez que presto vestibular para a Ufal aqui no Sertão e, dessa vez, eu passei!”, declara Letícia. Orgulhosa, sua mãe a abraça e diz que o que estão sentindo naquele momento é uma emoção indescritível.

A euforia tomou conta de Maria Ester Soares e de suas amigas. Ela e mais duas estavam esperando o resultado. Maria Ester tentou vestibular para Engenharia de Produção e vibrou muito quando ouviu seu nome. “Eu nem acredito, eu acabei de sair do 3º ano e sempre sonhei em trabalhar em grandes indústrias. O curso de Engenharia de Produção aqui no sertão caiu como uma luva para mim”, disse. Em seguida foi a vez de Isabela Soares, amiga de Maria Ester, ouvir seu nome. Aprovada para o curso de Geografia e com 22 anos, Isabela parecia ainda não acreditar que o tão esperado momento de ser “fera” Ufal havia chegado.

Já Carlos Lopes recebeu abraços e mela-mela em dobro, porque além de ter sido aprovado para o curso de História Licenciatura, a última sexta-feira, 21, foi também o dia do seu aniversário. “Este foi o melhor presente que Deus poderia me dar”, disse Carlos, enquanto raspavam seus cabelos.