Ufal reforça investimentos para combater insegurança

Os fatos registrados durante o 18° Congresso Nacional de Estudantes de Geografia, que em janeiro último trouxe a Maceió mais de 2 mil universitários de todo País, representará um marco no sistema de segurança da Universidade Federal de Alagoas que sediou o evento nas dependências de seus campus da capital.

22/02/2010 10h52 - Atualizado em 13/08/2014 às 01h30

Bleine Oliveira – Repórter da Gazeta de Alagoas*

A partir daquelas ocorrências, quando até um estudante acabou baleado, a Reitoria da instituição aumentou os investimentos em segurança e tornou mais rigorosas as normas exigidas para cessão de seus espaços físicos. As medidas adotadas já estão sendo sentidas, mas terá seu ponto de eficiência máximo avaliado com o retorno às aulas.

No reinício das atividades acadêmicas estarão de volta cerca de 1.150 professores, 1.500 servidores administrativos e alunos de 61 cursos de graduação. É necessário incluir nessa contagem os empregados das agências bancárias, Correios e lanchonetes ali situadas, bem como populares que habitam o entorno da Ufal, formando um contingente estimado pela própria Reitoria em cerca de 10 mil pessoas circulando diariamente por ali. "Nosso universo assemelha-se a uma cidade de pequeno porte" - compara a professora Ana Dayse Rezende Dorea, no exercício do segundo mandato. Para dimensionar essa comparação, vale dizer que em 2008, por exemplo, a instituição executou um orçamento superior a R$ 320 milhões.

Com um universo humano tão expressivo, a instituição não ficaria imune aos problemas de violência urbana que atingem Alagoas e sua capital. No último relatório de ocorrências, que compreende o período de janeiro a dezembro de 2009, foram registrados no campus Maceió 37 ocorrências relacionadas ao patrimônio e a funcionários e alunos.

Desse total, um caso foi tentativa de furto, seis furtos, oito prisões, um assalto, 3 tentativas de assalto, 2 tentativas de arrombamento, 2 arrombamentos, um ato de vandalismo, uma tentativa de agressão, 11 arrombamento de veículos em estacionamento e um furto de veículo.

São ocorrências graves numa instituição destinada a produção do conhecimento humano. O sinal de alerta foi acionado quando o estudante Tiago de Souza Castro, que veio do Maranhão participar do Encontro de Geografia, foi baleado durante uma tentativa de assalto dentro do campus A. C. Simões.

Policial militar, Tiago tentou evitar que um colega, também participante do Congresso, fosse assaltado nas proximidades do Restaurante Universitário. Ai identificar-se como policial, Tiago foi atingido por um tiro na perna. Os alunos haviam se espalhado pelo campus, acampa dos em barracas de camping. Assim tão expostos, alguns foram vítimas da criminalidade urbana que atinge a instituição.

Além do tiro no universitário os cinco assaltantes que agiram naquele dia roubaram dois estudantes de Santa Catarina, de quem levaram dinheiro, celular e máquina fotográfica. Nos dois casos, a Reitoria da Ufal prestou a assistência necessária, desde atendimento médico hospitais até a doação de passagens para que voltassem a seus Estados.

Orçamento será de R$ 6 mi em 2010

O combate a casos de violência no campus A. C. Simões é uma das grandes preocupações da reitora Ana Dayse Dorea, que desde 2008 vem aumentando os investimentos em segurança. O assalto a uma agência bancária instalada no hall de entrada do Hospital Universitário, que resultou numa operação policial cinematográfica, no fim de outubro do ano passado, é outro episódio significativo e que justifica os mais de R$ 4,3 milhões investidos até agora, e a previsão de R$ 6 milhões a serem investidos ao longo de 2010.

"Já estamos executando um plano de operacionalização da vida no campus, mas é importante destacar que temos grupos de estudos e pesquisas sobre essa realidade. Vamos apresentar ao poder público, aqui compreendido Estado e município, um trabalho propositivo de combate a violência" - disse a reitora Ana Dayse, definindo como desagradáveis às ocorrências criminosas registradas na instituição.

A mudança no tipo de contrato com a empresa que faz a segurança no campus foi uma das primeiras medidas. No novo contrato, foi aumentado o número de postos e de homens trabalhando, o que permite a presença deles numa área bem maior de todo o campus. Há ainda a ronda feita por homens motorizados do portão de entrada ao fundo, área de risco por ter presídios e favelas na vizinhança.

O superintendente de Infraestrutura da instituição, professor-doutor Flávio Barbosa, destaca ainda, entre as providências adotadas, o sistema de cancela eletrônica para controle do acesso ao campus e a instalação de sensores em todos os prédios. "Instalamos câmeras de monitoramento mais eficientes, com giro de 360 graus, inclusive nas vias de trânsito" - revela o superintendente. Nas mãos de Daniel Eugênio os equipamentos eletrônicos e a fiscalização presencial são acrescidos de ações para manter em perfeitas condições o sistema de iluminação e a limpeza do campus, medidas consideradas também como importantes para a segurança da instituição e de seus atores. Até mesmo o canavial que havia no fundo do campus foi removido como medida de segurança.

Instituição cobra ações acordadas com prefeitura

A reitora Ana Dayse afirma que o plano de segurança operacionalizado pela Superintendência de Infra-estrutura e Pró-Reitoria de Gestão Institucional já apresenta resultados favoráveis. Segundo ela, houve redução de 50% no número de ocorrências num comparativo entre os anos de 2008 e 2009. Em 2008 foram registradas 65 ocorrências, número que baixou para 37 no ano seguinte.

Mas seu maior objetivo é eliminar os registros de violência com políticas de inserção social da comunidade que vive no entorno do campus Maceió. Neste sentido, foi defensora da cessão de uso à prefeitura de mais de 200 hectares de área pertencente à Ufal para construção da Vila Olímpica e outros equipamentos públicos como escola, terminal de ônibus e posto policial.

A cessão foi feita por meio de um convênio pelo qual, em troca da extensa área que estava recebendo, a Prefeitura de Maceió se comprometeu em realizar trabalhos de infra-estrutura, saneamento, iluminação e acesso aos conjuntos habitacionais próximos à universidade. "Vimos ali a oportunidade de materializar a política de inserção que consideramos essencial para rompermos o muro da exclusão e desta forma eliminar a violência no nosso campus e em seu entorno" - disse a reitora Ana Dayse.

Suspensão

Mas, passados três anos da assinatura do convênio com o município, ela se mostra apreensiva com a possibilidade de suspensão do acordo. A Universidade está sendo cobrada pelo Ministério Público Federal e Advocacia Geral da União para que demonstre os resultados do convênio. Ou seja, a professora Ana Dayse precisará de argumentos fortes para justificar as razões de não estarem prontos os equipamentos urbanos para os quais destinou 200 mil metros quadrados de terras da União.

Além da escola de ensino fundamental, posto policial e terminal de ônibus urbano, o convênio inclui a construção da Vila Olímpica de Maceió, orçada em R$ 2,1 milhões, obra que deveria ter sido executada  1  ano e seis meses depois da assinatura, em 2006. Os recursos são do Ministério dos Esportes, com contrapartida do município.

A reitora apostou que os investimentos trariam benefícios às comunidades dos conjuntos Village Campestre, Graciliano Ramos, Salvador Lyra, Dênisson Menezes, como também à população da capital. "Esse é o caminho para acabar com a violência" - disse ela, que procurou o prefeito Cícero Almeida para analisar a situação provocada pelo atraso do projeto.

Secretaria promete obra para março

A Vila Olímpica terá sua primeira etapa inaugurada em março próximo. A data depende apenas da agenda do ministro dos Esportes, Orlando Silva de Jesus, que deverá comparecer ao evento. A garantia é do secretário-adjunto de Construção da Infraestrutura, Daniel Eugênio.

Seu colega Eduardo Canuto, secretário municipal de Esportes e Lazer, revela que a primeira etapa de construção da Vila está com 90% das obras concluídas. Mas ficou a responsabilidade de explicar o atraso. Segundo ele, "trata-se de uma obra demorada, mas que está sendo executada". Indagado sobre a pavimentação e a construção da escola, do posto policial e do terminal de transporte coletivo, Daniel Eugênio também foi, digamos, vago. Ele admitiu que são as principais pendência, reconhecendo a queixa da reitora Ana Dayse Dorea, mas não foi claro quanto a prazos.

* Matéria publicada na Gazeta de Alagoas deste domingo, 21 de fevereiro