Grande maioria em Alagoas vive na pobreza

Nos últimos quinze anos, índice do estado passou de 68,2% para 60,42%, segundo IBGE; para economista, ritmo de mudança é lento

03/02/2010 14h00 - Atualizado em 13/08/2014 às 01h28

Vale a comparação: "A pobreza e a esperança são mãe e filha. Ao se entreter com a filha, esquece-se da mãe", escreveu certo dia o filósofo francês Jean-Paul Sartre. Na realidade alagoana, seria correto afirmar que este "esquecimento" já dura décadas. A pobreza em Alagoas atinge dois terços da sua população. Em 1995, os pobres somavam 68,2% no Estado. Passados 15 anos, o índice está em 60,42%, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente ao ano de 2007.

 

A melhora é considerada pequena pelos especialistas no assunto. Para o economista Cícero Péricles, o fato é que falta compromisso político para dizimar a pobreza em Alagoas. "O combate a esse fenômeno passa pela articulação entre políticas públicas de caráter urgente, como os programas de transferência de renda; com políticas universais de médio e longo prazo, como educação e saúde, aliadas aos investimentos produtivos, a exemplo dos microcréditos, mas que cheguem à maioria da população, que, no caso do nosso Estado, é pobre ou indigente", disse ele.

 

Cícero Péricles afirma que os grandes empreendimentos a caminho de Alagoas não devem ser tratados como "a esperança" dos pobres alagoanos. "Esses grandes investimentos, como a mineradora em Craíbas, o estaleiro em Coruripe ou a central nuclear, ainda são projetos de futuro. Se implantados, cumprirão um papel positivo da dinâmica econômica, melhorando a renda e gerando mais impostos. Mas não podem ser vistos como instrumentos de combate direto da pobreza da população alagoana". Seria mais urgente, na opinião do economista, distribuir de forma mais justa a riqueza.

 

"De forma urgente, não temos outra saída além de ampliar a cobertura e melhorar a gestão dos programas de transferência de renda do governo federal". Péricles considera a medida importante, visto a dependência econômica de Alagoas perante a União. "Alagoas possui 830 mil famílias. O programa Bolsa Família, por exemplo, chega a 390 mil delas – quase a metade; já a previdência Social paga a 410mil beneficiários em Alagoas. Ou seja, quase todo mundo no Estado depende dos recursos federais". Por isso, diz ele, as mudanças nos indicadores sociais e econômicos continuarão lentas.

 

"Serão modificações positivas, para melhor, mas num ritmo menor que o das nossas necessidades", avisa Cícero Péricles, ressaltando que a economia de Alagoas, desde o seu período colonial dependente da monocultura da cana, continua pequena. "Nosso mercado consumidor é estreito, não temos polos econômicos diversificados, nossa renda é concentrada, e a maquina publica regional, formada pelo estado e as 102 prefeituras, não têm estrutura para enfrentar o desafio de transformar os indicadores. Daí, nossa dependência extrema dos recursos da União".

 

Para o Estado começar a testemunhar a redução do número de pobres, na opinião de Péricles, o programa Bolsa Família deveria atender a pelo menos mais de 100 mil pessoas em Alagoas. "O Bolsa Família contempla 390 mil famílias, mas com maior empenho das instituições públicas, poderia atender a muito mais pessoas. 100 mil novas famílias deveriam ser incluídas no programa. No caso da Previdência Social, apesar de ter 410 mil beneficiários no Estado, ainda é um direito que não chega a milhares de cidadãos pela falta de informação e até de documentos".

 

O verdadeiro combate aos baixos indicadores econômicos exige, segundo o economista, maior capacidade dos governos estadual e municipal para aproveitar mais a verba federal. "Recursos financeiros são tão importantes quanto os recursos humanos", disse, ao comentar sobre a diferença entre o percentual do número de pobres no vizinho Estado de Sergipe e em Alagoas. Na tabela, é possível verificar que de 2001 a 2007, Alagoas e Maranhão seguem na "briga" para ver quem é o mais pobre do Brasil.

 

“O Estado de Sergipe, que sofreu menos com a crise financeira dos anos 1990, tinha um contingente menor de pobres (e indigentes) que a média nordestina, e possui uma máquina estadual funcionando regularmente por isso obtêm os melhores resultados”, explicou Péricles. Apesar da dispita entre Alagoas e Maranhão pelo pior lugar no pódio, desde 2003 Alagoas "vence” Na opinião do economista, a diferença entre um e outro é irrisória. "Na verdade, o índice do Maranhão melhorou um pouco mais do que o de Alagoas, ma possui um índice semelhante".

 

Para o futuro próximo, Cícero Péricles tem boas expectativas. "Este ano, a economia brasileira deverá crescer em torno de 5%. Isso é importante par nós alagoanos. Representa mais recursos no orçamento federal mais transferências para Alagoas", disse, sem esquecer o salário mínimo. "Um pequeno reajuste do Bolsa Família ou aumentos seqüenciados do salário mínimo gera um efeito muito positivo na população pobre. Os pagamentos do INSS estão vincula dos ao salário mínimo, e com ele teve elevação de mais de 60% nos seis últimos anos, todas a famílias foram beneficiadas".

 

Quando se fala na riqueza gerada dentro de Alagoas, medida por meio do Produto Interno Bruto (PIB), os números, mais uma vez, lembram como é difícil ser alagoano. Cícero Péricles anima que o PIB alagoano vem melhorando. Mas quando a riqueza produzida em Alagoas é dividida pelo número de alagoanos, aparecem as diferenças regionais. "O PIB per capita de Alagoas é 20% menor que a média nordestina e menos de 40% da renda nacional", atesta, ao revelai sua conclusão: "Somos muito pobres, mesmo no Nordeste. O problema maior não é a renda baixa, mas a concentração dela".