5º Ato Ufal em Defesa da Vida promove relato de anistiados


05/10/2009 11h42 - Atualizado em 13/08/2014 às 11h38
Debatedores falam sobre anistia

Debatedores falam sobre anistia

Diana Monteiro - jornalista

“A luta pela anistia continua”, assim externaram os debatedores Edival Nunes Cajá, Anivaldo Miranda, Narciso Fernandes e José Nascimento, durante debate no auditório do Csau, que integrou a programação do 5º Ato do Programa Ufal em Defesa da Vida, coordenado pela professora Ruth Vasconcelos, da Pró-reitoria Estudantil (Proest). A edição do mês de outubro oportunizou à comunidade universitária e sociedade alagoana a participação de diversas atividades, tendo como temática “Os 30 anos de luta pela Anistia”.

O sociólogo pernambucano, Edival Cajá, preso na época da ditadura militar, agradeceu o convite feito pela Ufal e ressaltou a luta pela democracia do país, iniciada no movimento estudantil. Cajá lembrou que na época da repressão política, 50 mil brasileiros foram presos por defender a abertura política. “Deste universo, 22 mil foram torturados, 5 mil exilados e 460  cidadãos brasileiros assassinados”, relatou Cajá.

“Faltam ainda 160 corpos serem identificados, para que então sejam sepultados pelos familiares”, disse ainda Cajá, e citou o alagoano e então estudante do curso de Medicina da Ufal, Manoel Lisboa,  que militou com ele no PCBR, cujos restos mortais foram encontrados em São Paulo, após 30 anos de desaparecido, e depois sepultados em Maceió.

Cajá ressaltou também que a Ufal era a única universidade à época da Ditadura que tinha um Diretório Central dos Estudantes (DCE) aberto, funcionando apesar da falta de liberdade política. O sociólogo parabenizou a iniciativa da Ufal em se expandir para o interior, democratizando o ensino superior, público e de qualidade. 

O jornalista e ambientalista Anivaldo Miranda, um dos alagoanos anistiados, que viveu exilado entre a então União Soviética e a Dinamarca, ressaltou que a anistia é o passo mais significativo no contexto da abertura política e do fim da ditadura, relembrando todo o processo para se chegar a democracia no Brasil.

“Garantir a democracia é a maior lição que poderemos tirar desse processo, é um valor universal. A face mais cruel da ditadura é sempre aquela que atinge a integridade física das pessoas. Quando o Estado passa a exercer a coação, abandona a ação civilizadora”, disse Anivaldo, adiantando que a luta continua. Ele parabenizou o Movimento Ufal  em Defesa da Vida por recuperar a visão do passado para sensibilizar a sociedade alagoana.

O professor José Nascimento, da Faculdade de Serviço Social, preso e torturado durante a ditadura militar, disse que estava ali como docente da instituição porque resistiu. “Ao ingressar pela primeira vez na Ufal, fui convidado a rescindir o contrato e só voltei quatro anos depois. A regularização da minha situação funcional foi resolvida durante a primeira greve dos professores da instituição, em 1980”, disse Nascimento.

Nascimento ressaltou que 80% da população alagoana vivem em situação de pobreza  e considerou o evento promovido pela Ufal, como um momento de reflexão para a ação. “A nossa luta continua porque é preciso construir uma sociedade livre, igualitária e participativa”, enfatizou Nascimento.

Lei da Anistia

Falando sobre a Lei atual da Anistia, que contempla , além de dois tipos de indenizações, declaração de anistiado político e pedidos de desculpas oficial do Estado, o conselheiro Narciso Fernandes, que também é consultor do Pronasci, considerou o debate como um momento importante para resgatar a memória, ao discutir a temática para gerações que não viveram o período da ditadura.

“Sabemos que a tortura não é reparável do ponto de vista psicológico, mas a Secretaria Nacional vem se empenhando para cumprir o papel de forma mais ampla, além da indenização financeira. A luta continua pela abertura dos arquivos sobre a Guerrilha do Araguaia”, complementou Narciso.

“Defender a vida é defender a democracia e estamos hoje aqui diante de pessoas que sofreram e lutaram pela democracia. Estamos vivendo hoje um mundo muito melhor”, disse Ruth Vasconcelos dirigindo-se aos estudantes presentes ao debate.  A professora acrescentou  que é preciso a sociedade conhecer toda a história política,  e que aquele momento se constituía num espaço de reflexão para construção e consolidação da democracia.

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