Pesquisadores refletem sobre os 20 anos de ações afirmativas da Ufal

Universidade foi a terceira do país a reservar vagas para estudantes negros e segue na luta para consolidar políticas públicas
Por Elaine Rodrigues – jornalista / Renner Boldrino - fotógrafo
15/08/2023 15h42 - Atualizado em 15/08/2023 às 15h54
Vagner Bijagó

Vagner Bijagó

O professor da Universidade Federal de Alagoas, Vagner Bijagó, lembra de quando chegou em Alagoas para estudar. “Em 2003, os negros da Ufal eram os africanos e a gente, africano, perguntava: onde estão os negros brasileiros? Isso nos causava estranheza”, questionou. Esse relato marcou o início da mesa-redonda que provocou reflexões sobre os 20 anos de ações afirmativas da Ufal, realizada na segunda (14), na Bienal Internacional do Livro de Alagoas.

Ainda em 2003, no mês de novembro, a Ufal adotou a política de cotas para estudantes negros, um marco para mudar a realidade encontrada por Bijagó. O coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi), Danilo Marques, conta que a Ufal foi a terceira universidade pública do país a adotar a política de cotas.

Depois, em 2012, veio a regulamentação pela Lei de Cotas nº 12.711/2012. “E, agora, com a atualização da Lei de Cotas, votada na semana passada, a gente vai conseguir regulamentar a cota para a pós-graduação. A Universidade já tinha, inclusive ano passado a gente ampliou para refugiados e a população trans”, explicou o coordenador.

Com a mudança da população discente, uma outra preocupação do Neabi é relacionada às políticas de permanência desses novos estudantes. A vice-coordenadora do Neabi, Rosa Correia, registrou que, no início da sua atuação no Neabi, os estudantes comemoravam o ingresso na universidade, mas depois sofriam com dificuldades de permanência. “A gente fazia uma cotinha para pagar o transporte dos meninos. O lanche, a gente dividia”, lamentou.

Mais de dez mil concluintes pela política de cotas

Atualmente, com a forte atuação do Neabi, o núcleo estima que a Ufal já formou mais de dez mil profissionais que ingressaram na Universidade pela política de cotas. E o Neabi continua empenhado para consolidar as ações afirmativas. “É importante criar uma Pró-reitoria especializada em ações afirmativas, assim como residências universitárias nos campi do interior e a ampliar o número de bolsas”, destacou Danilo Marques, coordenador do Núcleo.

Apesar das necessidades, Bijagó faz uma reflexão, comparando o momento em que entrou na com a Universidade atual. “Com a implementação das políticas de ações afirmativas na Ufal, a gente percebe que a Ufal mudou. Estamos aqui hoje refletindo e celebrando. Na África, a celebração é fundamental para a gente poder oxigenar e avançar”, finalizou o professor, ao complementar que também é preciso ficar de olho no futuro.