Se falar em educação a distância (EaD) parecia ousado em 1998, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) mostrou que acreditar na inovação foi uma decisão acertada. Passados 25 anos da primeira iniciativa desenvolvida pelo Centro de Educação (Cedu), a modalidade de ensino cresceu e se consolidou não só no estado, mas em todo o Brasil, fazendo com que a instituição ampliasse suas fronteiras e chegasse a locais antes inimagináveis.

Atualmente, a Ufal conta com sete cursos de graduação e um de pós-graduação na modalidade a distância. Esses cursos são distribuídos em 16 polos de ensino, beneficiando a população de todo o estado, do Litoral ao Sertão. Desde 2005, compete à Coordenadoria Institucional de Educação a Distância (Cied) gerenciar toda a logística para implementação dos cursos, que, em sua maioria, são ofertados pela Universidade Aberta do Brasil (UAB).

A Ufal conta com 16 polos de ensino nas cidades de Arapiraca, Boca da Mata, Cajueiro, Coruripe, Delmiro Gouveia, Maceió, Maragogi, Matriz do Camaragibe, Olho D’Água das Flores, Palmeira dos Índios, Penedo, Piranhas, Porto Calvo, Santana do Ipanema, São José da Laje e Teotônio Vilela. Mas, na prática, o número de municípios beneficiados é bem maior, considerando que entre um polo e outro deve haver uma distância mínima de 60 km.

Em entrevista à revista Saber Ufal, o professor Fernando Pimentel, que, atualmente, está como coordenador-geral da Cied, da UAB e da UNA-SUS, explica que "a educação a distância, juntamente com a criação dos campi de Arapiraca e do Sertão, permitiu a interiorização. A Universidade vai para o interior e passa a ofertar mais vagas. Temos mais oferta de cursos. Já chegamos a ter dez cursos de graduação somente com estudantes da EaD”. 

Apesar das conquistas acumuladas ao longo desses 25 anos, implantar e consolidar a educação a distância na Ufal está longe de ser uma tarefa fácil. Os desafios enfrentados na gestão dessa modalidade de ensino incluem desde questões que envolvem a estrutura física e tecnológica necessária para o funcionamento dos cursos até a evasão escolar, que afeta instituições de ensino superior como um todo no Brasil.

“Estamos conseguindo vencer alguns desafios. Outros estão surgindo. Um grande desafio que a gente enfrentou foi a pandemia, porque tivemos que nos voltar totalmente para isso, para cuidar disso. Muitos dos nossos professores não tinham a mínima noção de como operar no ambiente virtual de aprendizagem. Podemos dizer que conseguimos superar esse obstáculo”, pontua o professor Fernando Pimentel.

O coordenador da Cied complementa: “Temos outro grande desafio, que não é só nosso, é nacional, que é a evasão. São dois problemas paralelos, na verdade: primeiro, trazer o aluno para a universidade. Isso é um fenômeno nacional, tanto no presencial como a distância. Da mesma forma que a gente tem dificuldade de trazer o aluno, a gente tem dificuldade de manter o aluno na universidade. A taxa de evasão é grande”.

Quando indagado sobre como superar os desafios que surgem, o professor Fernando Pimentel não tem dúvidas: “Nós temos uma gestão que acredita na educação a distância como fator de desenvolvimento para o estado de Alagoas. Até porque por meio da educação a distância, você sai da folha do prédio da universidade e você vai aonde a universidade não chega. Só assim conseguimos superar as adversidades”.

Os resultados, segundo Fernando Pimentel, são visíveis. “É fantástico quando nós vamos para uma colação de grau no interior e vemos aquelas pessoas colando o grau, se formando, atuando, felizes, orgulhosas. Aqueles pais levando seus filhos, pessoas que não teriam a oportunidade de vir estudar em Maceió ou de sair do seu interior. Visitei alguns polos e o que eu mais escutei dos prefeitos foi: professor, nós mantemos ônibus pela manhã, à tarde e à noite. A EaD está tirando esse povo da estrada”, expõe.

Questionado sobre o futuro da educação a distância, Fernando Pimentel afirma: “Vou lembrar a professora Anamélia Campos Pinto [primeira coordenadora da Cied]: ‘Vai chegar um tempo que a gente não vai falar mais de EaD e nem de presencial’. Nós vamos falar de educação. Quero vislumbrar isso: o momento em que a gente não vai fazer mais separação, mas vamos usar tudo aquilo que está na sociedade para fazer educação”.

Cedu implantou primeira iniciativa de EaD em 1998

A história da educação a distância na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) tem início no ano de 1998, quando o Centro de Educação (Cedu) ofertou seu primeiro curso nessa modalidade de ensino. Por meio do Programa de Assessoria Técnica aos Municípios Alagoanos (Promual), a Ufal lançou o curso de Pedagogia a distância, com a proposta de capacitar professores da rede pública que ainda não eram graduados.

“Diante dessa experiência, duas professoras do Cedu foram capacitadas junto ao Consórcio Brasilead, na Universidade de Brasília, e, ao final do curso de especialização em Educação a Distância, elaboraram, como trabalho final, a proposta do curso de Pedagogia a Distância da Ufal”, explicou o professor Luís Paulo Leopoldo Mercado, considerado referência na linha de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) na Ufal.

A modalidade de ensino se desenvolveu e, no ano de 2002, a Ufal se credenciou para a oferta de cursos a distância, por meio da Portaria nº 2.631, do Ministério da Educação (MEC). “Nesse período ocorreu a descentralização dos núcleos, por meios dos polos, para oferta do curso de Pedagogia a distância”, acrescentou Mercado.

O ano de 2005 marca o surgimento da Coordenadoria Institucional de Educação a Distância (Cied), que assumiu novas demandas de outras áreas, como por exemplo, a oferta de cursos de graduação em Matemática, Química e Física. Coube aos professores Anamelia Campos Pinto, Cleide Jane de Sá Araújo Costa e Fábio Paraguaçu Duarte da Costa liderar a primeira equipe da Cied e implementar as ações para consolidação da modalidade.

“A Secretaria Especial de Educação a Distância do MEC, por meio de suas agências de fomento, lançaram editais que possibilitaram o início do debate sobre a Universidade Aberta do Brasil. Então, foram aprovados os projetos de polos de apoio presencial e cursos de bacharelado, passando a funcionar a partir do ano de 2007, cursos de aperfeiçoamento, especialização lato sensu, graduação-licenciatura e graduação-bacharelado em diversas áreas, através dos polos espalhados pelo estado”, apontou Mercado.

A servidora Milena Farias lembra bem desse início. Ela ingressou na Ufal no ano de 2009 e foi a primeira técnica efetiva lotada na Cied. De acordo com ela, o início da EaD foi desafiador. “Contávamos com uma equipe pequena, mas muito unida, que fazia de tudo, o tempo todo. Já entrei sendo secretária, recepcionista e responsável financeira. Da recepção até o financeiro, aprendi muito. Os professores que coordenavam sempre foram dispostos a ensinar e dividir o que eles sabiam. O pessoal vestia a camisa mesmo”, contou.

Ao fazer uma breve retrospectiva, a servidora relata com orgulho o crescimento da modalidade na Ufal. “Felizmente vi muito crescimento, vi muitos cursos novos. Na gestão dos professores Luís Paulo e Fernando Pimentel, houve um grande reconhecimento dos servidores. A equipe cresceu muito. Os servidores lotados cresceram. Os bolsistas cresceram em números. Começou a haver incentivo e reconhecimento”.

Milena Farias conclui: “Acho que o futuro da Cied é atuar cada vez mais em todos os cursos da Ufal, tanto presenciais quanto nos cursos a distância. A tecnologia já está sendo usada. Então, a gente pode ir melhorando, capacitando os docentes, ofertando cursos para os alunos. Até as pós-graduações estão se reconhecendo na modalidade a distância. Penso que nosso futuro é uma expansão ainda maior”.

Comemorações dos 25 anos distribuídas ao longo do ano

As comemorações pelos 25 anos da educação a distância na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) serão distribuídas ao longo do ano. De acordo com o professor Fernando Pimentel, coordenador-geral da Coordenadoria Institucional de Educação a Distância (Cied), a data será marcada pela realização de eventos e o lançamento de livros.

“Definimos que não faríamos um único evento pelos 25 anos, mas diversas ações alusivas à data. Promovemos um encontro com os coordenadores dos novos polos, uma mesa-redonda dentro do Epeal [Encontro de Pesquisa em Educação de Alagoas] e estamos organizando o Fórum Estadual dos Coordenadores de Polo”, pontuou Pimentel.

Além dos eventos, outras iniciativas estão previstas. “Conseguimos publicar três livros na 10ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas e fazer um encontro com os alunos, trazendo os estudantes para o ambiente da Ufal”, concluiu o coordenador-geral da Cied, UAB e UNA-SUS.

Veja essa e outras matérias na revista Saber Ufal.