Relatos de superação e muita emoção marcam posse de novos servidores

Cerimônia presidida pelo reitor Josealdo Tonholo também contou com a participação de professores e familiares dos empossados
Por Simoneide Araújo - jornalista / Renner Boldrino - fotógrafo
27/06/2023 15h02 - Atualizado em 30/06/2023 às 17h19
Zíbia Oliveira, Maria de Fágtima, reitor Josealdo Tonholo, Laura Nayara e Valber Santos

Zíbia Oliveira, Maria de Fágtima, reitor Josealdo Tonholo, Laura Nayara e Valber Santos

O que poderia ser apenas mais uma agenda corriqueira do reitor Josealdo Tonholo, como tantas outras, se transformou em um momento de muita emoção e relatos de superação para chegar ao cargo de servidor público federal. Assim foi a posse, na última sexta-feira (23), de quatro novos servidores, as técnicas Maria de Fátima Guerra e Zíbia Bezerra da Silva Oliveira, e os docentes Laura Nayara Pimenta e Walber Gregory Barbosa Costa Bezerra Santos, que passaram a compor os quadros da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

Presidida pelo reitor, a cerimônia de posse seguiu o rito administrativo conduzido pela diretora adjunto do Departamento de Administração de Pessoal, Elma Fabiane Santos. Logo após, Tonholo deu as boas-vindas aos empossados e reforçou a importância da Ufal no processo de desenvolvimento do estado de Alagoas e, sobretudo, falou de como a educação pode transformar, para melhor, a vida das pessoas. 

Tonholo também enfatizou a importância de ouvir as histórias de cada um que chega à Universidade: “Temos a honra de recebê-los, lembrando que alguns dos que chegam por aqui se graduaram na Ufal e, agora, voltam como servidor. Outros vêm de outros estados para compor nossos quadros para construir uma instituição cada vez mais forte e comprometida com o nosso estado, com a nossa sociedade.”

Emocionado, Walber Santos contou um pouco do processo para chegar até sua aprovação no concurso. “Chego à Ufal com o intuito de contribuir para a formação dos alunos e também para trabalhar junto com os colegas da Unidade de Penedo”, afirmou o docente, recepcionado pelo professor Sandro Medeiros, que confirmou atuação de Walber como substituto na referida Unidade: “Sou testemunha da contribuição de Walber ainda como professor substituto. Que bom que ele agora voltou para a Ufal como efetivo.”

A pernambucana Zíbia Oliveira resumiu sua trajetória até chegar à Ufal em duas palavras: superação e fé. Ela relatou que vem de uma família humilde, mas sempre teve vontade de estudar e, para concluir o nível médio, teve de superar muitos obstáculos. “No bairro onde eu morava não havia escola, mas, ao contrário dos meus irmãos, eu sempre dizia que queria estudar. O problema é que meus pais me diziam que não tinham dinheiro para passagem e que eu não ia estudar. Só que eu dei meu jeito. Pedi para minha irmã mais velha fazer minha matrícula numa escola no centro da cidade, só escondido dos meus pais”, contou.

E continua: “Para eu começar a estudar – na época eu era magrinha, com 15, 16 anos –, tinha que passar no ônibus sem girar a catraca. Assim eu fiz o ano todo passando por baixo da catraca para chegar na escola. Alguns motoristas se compadeciam com a situação, diziam que eu não precisava passar e me deixavam sentar. Enquanto outros cismavam e me chamavam de maloqueira - ouvi muito isso, mesmo eu com o caderno na mão. Eu não desisti porque eu sabia que se eu parasse ali, eu ia fazer igual aos meus irmãos, que desistiram. Eu dizia para mim mesma: eu não posso parar. E assim eu consegui me formar no magistério.”

Zíbia dividiu com os presentes mais um pouco de sua história. “Quando eu me formei no magistério, eu comecei a trabalhar numa escolinha particular, como alfabetizadora, e uma das minhas alunas era neta de um dos motoristas que me chamavam de maloqueira. Certo dia, quando ele foi buscar a menina na escola, olhou para mim surpreso: - você é a professora da minha neta? E disse isso com aquela cara de quem pensou ‘ela conseguiu’. Para mim isso marcou muito porque eu tive a certeza de que eu havia conseguido. Mas eu continuei estudando, num processo de superação e fé”, falou, emocionada.

Para finalizar sua fala, a nova servidora contou que o concurso para a Ufal chegou num momento muito difícil de sua vida. “Eu tinha perdido minha mãe havia pouco mais de um ano, e ainda estava liando com isso; perdi meu pai quinze dias antes de fazer a prova, que caiu justamente no dia dos pais. Então, eu tive de superar de novo, psicologicamente. Cheguei para fazer a prova, chorei muito antes, mas naquela hora  eu tinha certeza que viria trabalhar na Ufal. Ali, eu entendi que tinha muita força e a prova disso é que eu consegui passar no concurso e, agora, estou aqui tomando posse como servidora pública federal na Ufal”, revelou Zíbia, que vai trabalhar como assistente em administração no Campus A.C. Simões.

A ex-aluna do Campus do Sertão, Maria de Fátima Guerra, agora volta à Ufal como assistente em administração. E sua história de vida também é de muita superação e determinação. Sua irmã, Maria Guerra, deu um depoimento emocionante e reforçou que só a educação poderia mudar a realidade de sua família. E está mudando. “Minha irmã Fátima é segunda da família a cursar graduação e a segunda servidora federal. Somos uma família de oito irmãos. Eu fui a primeira a concluir uma graduação e a primeira concursada. Minha meta é que, pelo menos, mais dois irmãos ingressem na Universidade para estudar e também voltem como concursados. É o que a gente espera, enquanto sertanejos da família Guerra”, assegurou.

Maria Guerra acrescenta ainda: “Minha irmã sabe o quanto falei e foquei para que ela estudasse. Nós que viemos de uma família humilde, a saída é a educação. Nós trabalhamos como ambulantes, vendendo picolé; vendemos leite com balde na cabeça e a gente sabe que esse momento da posse de Fátima é muito importante. Temos certeza que a educação transforma nossas vidas. Nós que viemos do Sertão, a Universidade nos mostrou isso.”

O professor Vladimir Caramori, diretor do Centro de Tecnologia e presidente do Fórum de Diretores das Unidades Acadêmicas, também disse que trabalhar na Ufal foi uma escolha. “Eu saí de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, para vir para Alagoas. Sou mineiro, mas, na época, estava dando aula no Rio Grande do Sul. Vir para a Ufal foi uma escolha, creio que acertada porque já se vão quase 20 anos, de aprendizado e de contribuição para construção da Universidade. Quero dar as boas-vindas para os novos colegas de dizer que é um prazer a gente ver chegando pessoas novas com esse espírito que vocês trazem para cá. Parabéns!”

A professora Sandra Nunes, diretora do Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes (Ichca), também deu as boas-vindas aos novos servidores: “Essas histórias contadas nos deixam felizes porque demonstram a grande luta de vocês e que essa luta seja incorporada aqui, no dia a dia da Universidade. Quero dizer que a professora Laura Nayara já está na nossa oferta acadêmica. Vi nela a vontade de trabalhar na Ufal, assim como todos vocês que estão chegando aqui. Isso é maravilhoso! Vamos construir juntos essa Ufal que se transforma a cada dia!”

A professora Elaine Pimentel, diretora da Faculdade de Direito, o professor Marcos Moreira, vice-diretor do Ichca, e o chefe de gabinete em exercício, Rafael Jaires, também deram as boas-vindas aos novos servidores. Moreira contou que também veio de uma família humilde, mas, graças aos estudos e sua dedicação, hoje é professor da Ufal, com doutorado na área de Musicologia.