Na rotina da Universidade, vamos acompanhando várias conquistas. Desde a calourada com estudantes felizes porque passaram na Seleção Unificada, do Enem e Sisu, as apresentações em congressos e encontros acadêmicos que rendem reconhecimentos, até as grandes festas de formatura. São muitos eventos marcantes para a vida da comunidade universitária.

O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), uma avaliação final que é pré-requisito para a diplomação, costuma ser um momento importante dentro da academia mesmo. Não chega a ser um acontecimento público, com convidados externos. Em geral, temos a banca, os orientadores e apoiadores, às vezes algum especialista da área abordada. É um momento de apresentar os conhecimentos adquiridos na graduação.

Por isso, quando chegou uma van, com parentes vindos do interior, para acompanhar a apresentação do TCC de uma aluna de Química, já dava para perceber que havia uma história de esforço e superação para ser compartilhada. E tinha mesmo! O TCC da Vitória Rocha de Oliveira, do curso de licenciatura em Química, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), com orientação da professora Adriana Santos Ribeiro e coorientação do professor Fred Augusto Ribeiro Nogueira, foi um acontecimento!

O tema Eletrodeposição de um derivado de bis(tiofeno)-fluoreto (FTB) sobre superfícies condutoras para revelação de impressões digitais latentes foi considerado pela banca como bastante relevante e bem desenvolvido pela graduanda. No entanto, o que chama a atenção nesse episódio do TCC é a própria Vitória. “Bem, eu sou a nona e última filha de um casal de agricultores. Cresci no interior do estado, no sítio Brejo dos Bois, município de Junqueiro”, contou ela.

Vitória sempre foi aluna de escola pública e relata que teve algumas oportunidades que os irmãos dela não tiveram. “Saí do ensino fundamental e consegui uma vaga pra fazer o ensino médio no Instituto Federal de Alagoas (Ifal), de Arapiraca. Lá eu tive uma formação incrível e muitas possibilidades de aprendizado. Em 2019 consegui entrar na Ufal, como graduanda de licenciatura em Química e também consegui uma vaga no Ifal de Maceió para fazer o curso técnico subsequente em Química’, relatou a estudante.

O professor do Ifal, Fred Augusto, manifesta todo o orgulho e reconhecimento pelo esforço da estudante. “A Vitória é uma aluna que possui qualidades extraordinárias como pessoa e pesquisadora. Como necessitou se manter longe da família desde cedo, por residir longe do local de estudo, teve autonomia na sua vida, o que promoveu o desenvolvimento da sua independência nessa trajetória acadêmica. Sempre motivada pela família, ela idealizou o desejo de se tornar pesquisadora e professora de química”, narrou o professor.

Fred destaca ainda as qualidades que são fundamentais para a dedicação ao fazer científico. “Vitória é uma pessoa que acredita veementemente na importância da ciência para a sociedade e, com isso, vem desenvolvendo de forma formidável e admirável pesquisas em Ciência Aplicada paralela à divulgação científica. É uma jovem cientista que demonstra ter curiosidade e persistência, que a tornam uma excelente pesquisadora e contribuem para o êxito dos seus objetivos”, declara o coorientador de Vitória.

Adriana Ribeiro é orientadora de Iniciação científica da Vitória, desde 2021, na Ufal. “Eu a considero como minha neta científica, pois antes da graduação ela foi orientada, no curso técnico, pelo professor Fred Nogueira. Uma coincidência, porque ele foi meu primeiro orientador de mestrado, em 2010. Portanto ela já entrou na graduação com uma formação inicial muito boa em relação à conduta no laboratório e com muita vontade de fazer pesquisa na área de Eletroquímica”, contou a docente do Instituto de Química e Biotecnologia.

Adriana ressalta ainda que, como aluna, Vitória sempre foi muito independente. “Ela demonstrou habilidade no laboratório e na busca de respostas em artigos científicos para os eventuais problemas encontrados. Preparou-se bastante para a defesa do TCC, ao mesmo tempo em que estudou para a seleção do mestrado do Programa de Pós-graduação em Química e Biotecnologia (PPGQB)”, contou a orientadora.

A família

Sobre a família presente na apresentação do TCC, mesmo não sendo habitual, foi bastante compreensível, segundo a orientadora. “Foi um momento muito esperado por ela e pela família. Por isso os pais, as irmãs, os cunhados e os sobrinhos alugaram uma van e vieram todos prestigiá-la na defesa. Foi um momento muito bonito e emocionante. Literalmente uma vitória desta família de pequenos agricultores e da nossa aluna Vitória”, narrou Adriana.

Maria Rocha de Oliveira, 59 anos, e José Ailton da Silva Oliveira, 60 anos, pais de Vitória, provavelmente não entenderam muito da apresentação, mas perceberam o quanto a filha foi acolhida em sua caminhada acadêmica. “Eu fiquei muito agradecida com o apoio que minha filha teve. Conheci os professores e fiquei emocionada com os elogios que recebemos. Ficamos muito orgulhosos com tudo que acompanhamos aqui. A gente sempre pensa em acompanhar todas as emoções que a Vitória traz para a gente”, disse a mãe da aluna.

E pelo jeito, Vitória ainda vai trazer muitas emoções para a família. Um dia antes dessa apresentação do TCC, que foi no dia 1º de agosto, ela recebeu o resultado da seleção do mestrado, constando como uma das aprovadas. “Hoje sou formada como técnica em Química e Informática, pelo Ifal, e recentemente defendi meu TCC como licenciada em Química pela Ufal. A vinda da minha família foi muito importante pra mim e pra eles, porque eles puderam ver de perto um pouco do que eu vivo e do que faço e se orgulham muito dessas conquistas, que são nossas”, finalizou a estudante.

E que venham mais vitórias para a Vitória!