Estudantes do ensino médio apresentam trabalhos na Sinpete 2023

Jovens da Escola Estadual Princesa Isabel, em Maceió, e do campus do Ifal em Murici, são bolsistas de iniciação científica da Fapeal e participam ativamente do evento
Por Deriky Pereira – jornalista
19/10/2023 16h35 - Atualizado em 20/10/2023 às 23h46
Estudantes do Ifal em Murici apresentam trabalho sobre a reutilização de banners na Sinpete 2023 (Foto: Deriky Pereira)

Estudantes do Ifal em Murici apresentam trabalho sobre a reutilização de banners na Sinpete 2023 (Foto: Deriky Pereira)

Desde a última segunda-feira (16), a vida do Arthur Farias, 16 anos, parece ter dado um giro de 180 graus. Ele tá ausente da sala de aula, da Escola Estadual Princesa Isabel, em Maceió, cansado e “chegando em casa, descansando e logo acordando para vir apresentar”, como apontou no início da entrevista. No entanto, ele mesmo vira a chave quando diz que a partir do apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) que sua ideia, antes engavetada, ganhou ares de realidade.

Arthur, que integra o novo edital do Programa de Bolsas de Iniciação Científica Júnior (Pibic Jr.) desde o mês de setembro passado, contou que tanto o certame como a participação na Semana Interinstitucional de Pesquisa, Tecnologia e Inovação na Educação Básica (Sinpete) durante toda esta semana são importantes em seu processo de ensino-aprendizagem.

“Participar do edital é bastante incentivador e como tivemos esse longo prazo para a finalização da bolsa, que vai ser ano que vem, vou ter muito tempo para colocar projetos científicos em dia, vários meses para estudar e me aprofundar mais, além de participar de eventos como a Sinpete, que vão avaliar meu progresso científico e acadêmico. E também é uma oportunidade para trazer visibilidade e, consequentemente, investimentos para o projeto”, apontou.

Ao lado de Arthur, o estudante Kaio Vinícius, 16 anos, parceiro no mesmo projeto: o Filcae, um filtro de carvão ativado que surge como possibilidade de resolver o problema da emissão de carbono, prejudicial e vem aumentando ano após ano. O filtro seria envolto por aço inoxidável, material resistente ao calor, seria também com cerâmica e carvão ativado que tem grande capacidade de absorver gases e líquidos poluentes assim como a cerâmica por causa de seus poros.

“Participar desse evento aqui é uma oportunidade grande e importante pois apresentar o nosso projeto aqui, ele estar exposto aqui para investidores, pessoas curiosas que queiram conhecer, isso dá até um nome grande para o projeto. É uma oportunidade de levar adiante, ter investimentos, dar continuidade aos estudos científicos sobre carvão ativado, o que pode proporcionar uma melhoria no filtro”, celebrou o jovem.

Outro estudante, também bolsista de iniciação científica Júnior da Fapeal é o Kauan Barbosa, 17 anos, que desenvolveu a Apricity Smart, que surgiu com o propósito de ajudar as pessoas a terem melhor qualidade de vida com o uso de robótica e de programação. “Parece, às vezes, que o nosso dia precisaria ter 48 horas para a gente fazer tudo. A gente, às vezes, esquece de fazer um relatório, colocar comida pro gato, não porque a gente não quer, mas porque estamos tão imersos na nossa rotina que as vezes não sobra tempo. A minha empresa visa solucionar esses problemas”, cravou.

Para ele, expor sua ideia na Universidade Federal de Alagoas tem sido uma experiência única. “Eu sempre fui muito ligado na área da ciência, da tecnologia e das inovações. Oficialmente, eu estou no Pibic Jr. desde setembro e devo prosseguir até o final da bolsa. E posso dizer que vejo a importância da Sinpete, e da Fapeal, da Ufal, enfim, de proporcionar esse evento, que abre bastante portas, como um momento ímpar”, classificou.

O Matheus Feijó, por sua vez, tem apenas 15 anos, mas deu luz a uma discussão importante: a inclusão. Seu trabalho, inclusive, surgiu como uma homenagem, como ele mesmo classifica, a um professor de Inglês com quem estudou no 8º e 9º anos do ensino fundamental que tem o Transtorno do Espectro Autista (TEA) que usava fones em sala de aula para ter menos incômodo quanto ao barulho no local de trabalho. “Esse professor ele tinha autismo numa parte mais sensorial, da parte auditiva. Ele usava fones. E um dia, enquanto ele estava saindo da aula, roubaram os fones e o celular dele”, completou.

Foi assim que ele pensou: “A ideia da iniciativa é para ajudar mais pessoas que tenham diversos graus de autismo, como os mais leves, medianos, e até mesmo o mais avançado. A ideia que eu estou propondo serve também para ajudar na inclusão de alunos autistas e também no desenvolvimento tecnológico, pessoal e cognitivo deles. Eu fico muito grato por apresentar o meu projeto para a Fapeal, aqui na Sinpete, uma honra ser aceito para apresentar esta ideia inovadora”, comemorou.

Ao mestre, com carinho

Segundo Arthur Farias, foi a partir do incentivo de seu orientador, o professor Rafael Holanda que ele teve ainda mais motivos para, ao lado de Kaio Vinícius, dar o start na ideia exposta na Sinpete 2023. “Gostaria de agradecer ao meu orientador Rafael Holanda que, como doutorando daqui da Ufal, conseguiu disponibilizar laboratórios e a oportunidade de nos inscrever no Pibic, incentivando nosso lado acadêmico-científico e de nos fazer melhorar todos os dias como estudantes, como pessoas e futuros empreendedores”, disseram.

Kaio reiterou a fala do amigo e listou a Escola Princesa Isabel em seus agradecimentos, assim como Kauan Barbosa. “O professor falou comigo, com outros integrantes sobre a Sinpete e essa ideia, na verdade, eu já tinha, mas ela tava meio que enterrada e foi reacendida agora pela Fapeal. Eu queria agradecer ao meu professor-orientador Rafael Holanda, à Escola que vem apoiando a gente sempre e à Fapeal pela oportunidade de estar aqui”, disse ele.

O professor, orgulhoso, retribuiu o carinho. “A gente acredita que fazer educação para esses meninos é fazer eles pensarem fora da caixa, literalmente. Se você for parar pra pensar todos os temas dos trabalhos que eles trouxeram são dores deles, dores reais. E o que a gente fez foi, junto ao meu conhecimento na área da Tecnologia, tentar ver uma solução útil e divertida que eles conseguissem trabalhar em função disso”, declarou.

Holanda, inclusive, classificou o incentivo como acolhimento. “Basicamente foi mais como um acolhimento, onde eles se abriram para falar de problemáticas que eles tiveram e pensar em como solucionar elas de forma criativa e inovadora. O agradecimento dos alunos é um resultado, não só do meu trabalho, mas de um coletivo, de toda a gestão, coordenação e de outros docentes da escola que agregam isso”, celebrou Rafael.

Conexão Murici – Maceió

Aluna do 1º ano do curso técnico de Agroindústria, do Campus do Instituto Federal de Alagoas (Ifal) em Murici, Yasmim Sophia, 16 anos, disse não ter conhecimento sobre o evento, mas que não pensou duas vezes em aceitar a participação. “Além de estimular a gente a criar projetos e estudar mais ainda, é uma oportunidade de colocarmos para as pessoas, para a sociedade, o que a gente aprendeu. Quando fui convidada pela professora Danielle [Tavares, Ifal Murici], no momento em que saiu o edital da Fapeal, eu não pensei em não participar, pensei logo em aceitar”, salientou.

Para ela, é muito importante estar inserida em projetos científicos como a Sinpete 2023. “Por mais que sejamos alunas de ensino médio é importante que tenhamos essa experiência. A Fapeal com a disponibilização das bolsas estimula a gente a continuar estudando. Não é só a bolsa, mas o estímulo de a gente passar todo nosso conhecimento para outras pessoas. Então, esse apoio da Fapeal é muito importante”, celebrou Yasmim.

Ao lado dela, Hevily Chagas, 16 anos, do mesmo curso e período, que se mostrou tímida num primeiro momento, mas classificou o evento como um exercício de superação e aprendizado. “Esse projeto está fazendo com que eu consiga desenvolver a comunicação com outras pessoas, o que eu tinha muita dificuldade, pois ficava muito nervosa. E agora com a Sinpete esse impacto que eu tinha antes está sumindo por conta do contato que estou tendo e está sendo uma ótima oportunidade pra mim”, celebrou.

O trabalho de Hevily e Yasmim tem como foco a sustentabilidade a partir da elaboração de um chiclete com marshmallow, que surgiu a partir da problemática do descarte irregular da goma de mascar que, em sua formulação, possui plástico, o que também demora para que ele se decomponha na natureza. Foi a partir de um projeto maior, orientado pela docente Danielle Tavares, que este apresentado durante a Sinpete 2023 surgiu.

Da teoria à prática

Segundo a professora Danielle, a participação na Sinpete serve para que as estudantes apliquem, na prática, o conteúdo aprendido em sala. “Eles estavam desenvolvendo um trabalho voltado para a Olimpíada da Saúde e do Meio Ambiente e, a partir do edital da Sinpete, decidiram participar para adquirir uma experiência de apresentar trabalhos em eventos científicos como uma prévia para o que virá ano que vem”, explicou.

Além do projeto sobre o chiclete sustentável, tem ainda o que fala sobre a reutilização dos banners de forma prática. Esses dois subprojetos, no âmbito dos conceitos da Biologia, integram o projeto maior apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas, cujo título é: A preparação para olimpíada como instrumento de ensino e aprendizagem em Biologia.

“Esse apoio da Fapeal aos projetos é muito importante, principalmente aos nossos alunos dentro do Ifal. No curso, já no 1º ano, eles têm 16 disciplinas, é muito puxado pra eles e essa imersão dentro de projetos de pesquisa e iniciação científica só vem a somar e impedir a evasão, fazendo com que o estudante tenha êxito e quando ele sair do Ifal e chegar na Universidade ele já estará pronto”, celebrou.

Extração de amido de fontes vegetais para produzir filmes biodegradáveis

Este é o tema de outro projeto Pibic Jr. coordenado pela docente Nataly Miranda e apresentado na Sinpete 2023. A ação, que visa revestir alimentos com alto teor de gordura e frutas em geral, posteriormente, além do amido, vai usar também a Própolis Vermelha de Alagoas.

“O projeto que trouxemos aqui para a Sinpete foi o da semente de jaca, da qual vamos extrair o amido [para fazer o processo]. Basicamente, a professora Nataly já tinha estudado o assunto e escreveu esse projeto pra submeter à Fapeal como ideia de sustentabilidade mesmo. Ela incentivou essa ideia e estamos gostando muito também da experiência de trabalhar com esses amidos”, contou, empolgada, Rebeca Ferreira.

Aos 16 anos, ela, que está em seu primeiro projeto de iniciação científica, se assustou um pouco com a exposição do trabalho na Sinpete, mas que tudo está valendo muito a pena.

“Participar da Sinpete, vir pra Maceió e conhecer gente nova foi algo meio chocante, mas estou adorando. É a primeira vez expondo nosso projeto, nosso trabalho, que é tão gratificante. Eu queria agradecer a minha dupla, Letícia [Vicente], que a gente sabe os perrengues que passamos no dia a dia. Queria agradecer a Fapeal também pelo incentivo, pela disponibilidade da bolsa, e eu não me imaginaria no projeto também sem a minha orientadora”, contou.

Letícia, 15 anos, por sua vez, retribuiu o agradecimento e celebrou a participação na Sinpete 2023. “Desenvolver esse projeto, porém, foi algo bem chocante porque a semente de jaca é algo que a gente joga no lixo, sabe? Mas a gente conseguiu desenvolver, mesmo com todos os perrengues do processo, um bom trabalho e estou gostando bastante da experiência”, disse ela, estendendo o agradecimento à Fapeal pela oferta de bolsas e ao Ifal por todo apoio ao projeto.