Aluna da Ufal conquista 2º lugar em concurso nacional de empreendedorismo

Liliane Vicente vai representar o Brasil na etapa internacional
Por Thâmara Gonzaga - jornalista
25/02/2022 11h58 - Atualizado em 25/02/2022 às 12h00

Estudante de Administração e empreendedora. Procurando crescer, conquistar remuneração, mas também preocupada com a melhoria de quem está ao seu redor e que quase nada tem. Liliane Vicente é uma mistura de sonhos e atitudes. Planejamento e ação. Esse engajamento em busca de mudar a própria realidade e a de tantos outros rendeu a ela o segundo lugar na edição brasileira do Prêmio Empreendedor Estudantil Global (Global Student Entrepreneur Awards - GSEA), uma competição promovida pela Organização de Empreendedores (Entrepeneurs Organization – EO) do Brasil. Além de receber uma premiação em dinheiro, a aluna da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) vai representar o país, junto a outros dois empreendedores brasileiros, na etapa internacional do prêmio.

Essa não é a primeira vez que ela sobe ao pódio nesse concurso. Na edição anterior, Liliane também alcançou o segundo lugar. “Conquistar a segunda colocação na primeira edição foi surreal! Eu, realmente, não imaginava que poderia conseguir diante de empreendedores tão incríveis numa competição deste porte. Pelo segundo ano consecutivo foi ainda melhor”, comemorou.

O resultado da edição 2022 foi divulgado no último dia 18 de fevereiro. Ela conta que foi a única mulher na final, a única nordestina em todo o processo e ressalta como a premiação é significativa para a trajetória dela. “Não consigo mensurar em palavras o quanto isso é importante para mim e minha história de evolução. Eu estava mais preparada e mais estruturada em relação à minha empresa e minha sensação é de êxtase total!”, disse, emocionada.

Ainda em clima de comemoração, a aluna da Ufal destaca que o prêmio é uma recompensa depois de tanto esforço. “Essas conquistas representam, para minha vida pessoal, o marco na busca por meus objetivos e que tudo que eu passei para chegar até aqui está sendo recompensado”, reforçou. Além de reconhecimento, ela afirma que participar do concurso também gerou oportunidade de aprendizagem. “Para minha vida profissional foi essencial para que eu aprendesse mais sobre como posso comunicar melhor aos investidores a solução da minha empresa. Também comecei a ter uma visão mais abrangente sobre potencial de crescimento e sobre o meu mercado de atuação”, afirmou.

Em meios a tantos desafios para pensar, criar e gerir o próprio negócio aos 25 anos de idade, Liliane fala com convicção sobre sua escolha. “Sempre quis empreender e poder concretizar isso, assim tão cedo, é satisfatório o suficiente para que eu tenha certeza de que estou no caminho certo e que se desistir nunca tinha sido uma opção para mim, agora é menos ainda”, enfatizou.

Negócio sustentável e premiado

O acesso digno a uma alimentação adequada ainda não é realidade para muitas pessoas. Ao lado da fome, da total escassez de alimento, também caminha a subnutrição, situação em que até se tem o que comer, mas não é o suficiente, em quantidade e qualidade, para nutrir o corpo de modo a mantê-lo saudável. O negócio empreendedor de Liliane, a Amitis, se volta para esse contexto. Nossa missão é fazer com que alimentos naturais e nutritivos cheguem à mesa da população de forma democrática, rápida e ágil, melhorando a distribuição de alimentos no país e, ao mesmo tempo, gerando renda para os nossos microagricultores”, revelou.

E foi essa experiência, iniciada a partir de um trabalho realizado na Ufal, que a estudante de Administração apresentou no concurso de empreendedorismo. “Em 2016, ao analisar as crianças de bairros vizinhos ao Campus A.C. Simões, estudantes da Ufal identificaram o problema da subnutrição. Em 2018, eu entrei no projeto e, em 2019, assumi a liderança. Foi aí que comecei a remodelá-lo para que se tornasse o que é hoje, desenvolvendo a nossa solução atual para problemática da distribuição de alimentos”, recordou.

Na prática, a empresa de Liliane produz hortas, vende para pequenos agricultores e também doa para moradores de regiões periféricas que não têm condições de pagar. Ao final, a produção obtida é comercializada. “Nossa equipe faz uma parte da construção da horta e a outra parte do trabalho é feita por contratação de mão de obra terceirizada. As pessoas que compram ou recebem doação cuidam da produção de tudo que, depois, é vendido no delivery. É um trabalho em rede. Hoje, nós temos três hortas: duas comunitárias em Maceió e uma em Rio Largo. Essa última é a primeira voltada para o delivery e nosso modelo principal”, explicou.

Ainda de acordo com a diretora executiva da Amitis, as hortas são montadas em sistemas hidropônicos sustentáveis de baixo custo, reutilizando garrafas pet e pallets. Ao adquirir o sistema de hidroponia, as pessoas têm acesso a capacitações e são cadastradas em uma plataforma de delivery virtual que aproxima consumidor e produtor, facilitando a distribuição de alimentos, além de reduzir o desperdício. “Nossos principais clientes são pessoas físicas que já trabalham ou desejam trabalhar com a microagricultura e que possam pagar por nossa horta. As que recebem as doações são residentes de periferias que possuem baixa renda e baixa qualidade de vida”, disse. Empresas ou demais interessados que podem financiar a horta para outras pessoas ou comprar a produção dos microagricultores também são o público-alvo da empresa da estudante.

Por ter essa preocupação em beneficiar o coletivo, a Amitis vai além do conceito empresarial. “Ela é considerada um negócio de impacto socioambiental porque não visa somente o lucro, mas sim as necessidades da sociedade vulnerável e do meio ambiente. E todas as nossas ações trabalham para que seja gerada renda para pessoas vulneráveis e impactos ambientais negativos sejam evitados”, destacou.

Como toda empreendedora, já pensando no futuro, Liliane antecipa que vai usar o valor da premiação para “investir na qualificação da equipe, no lançamento de dois novos modelos de horta e, com certeza, aplicar alguma horta para uma pessoa vulnerável de Alagoas”.

Para conhecer a iniciativa de Liliane, acesse aqui

Mais sobre o concurso

A graduanda da Ufal explica que a Organização de Empreendedores (Entrepeneurs Organization - EO), promotora do concurso, é uma rede que reúne empreendedores brasileiros dos mais diversos setores e que está presente no mundo todo. A finalidade, diz ela, é incentivar negócios liderados por estudantes por meio de prêmios, mentorias e incentivos financeiros, desenvolvendo o fomento aos negócios. “Além disso, todos os empreendedores que compõem a rede estão prontos para investirem, por conta própria, nos negócios que participam da premiação. Ano passado, consegui mentorias e investimento para a minha empresa após a competição em que também fui segunda colocada. Então, a rede é bem incentivadora em contexto geral”, afirmou.

Ao falar sobre a dinâmica da competição, ela conta que o Prêmio Empreendedor Estudantil Global (Global Student Entrepreneur Awards - GSEA) busca entender como a vida do aluno o fez chegar até a empresa. Na pontuação do concurso, relata que “70% dos critérios de avaliação são voltados aos estudantes e os outros 30% ao potencial da sua empresa”.

Em sua apresentação, a estudante da Ufal conta que buscou mostrar toda sua trajetória. “Eu foquei bastante em como foi minha vida desde criança, nos desafios que enfrentei para chegar onde estou e ser quem sou hoje e o que me levou a desenvolver minha empresa, que foi uma causa social. Depois disso, passei para os jurados como funciona minha empresa e todo seu potencial de crescimento, seguido de nossas metas e resultados”.

Preenchimento de um formulário com dados da empresa e do estudante, processo de mentoria, apresentação e respostas a questionamentos de jurados são algumas das etapas do concurso nacional. Liliane ressalta que o prêmio é bem concorrido e realizado em etapas regionais. Ela participou da etapa do Rio de Janeiro. “Este ano, foram 18 candidatos na regional do Rio e três passaram para a semifinal. Eu fui a segunda colocada desse ranking. Somando as outras regionais, foram 12 estudantes na semifinal e somente seis passaram para a final. Eu, além de ser a única mulher na final e a única nordestina em todo o processo, fiquei em segundo lugar dentre os finalistas”, detalhou.

A expectativa, agora, é para final internacional do GSEA, que acontecerá na China ou nos Estados Unidos (EUA). Estou muito centrada em levar o meu negócio a novos locais. A Amitis tem um potencial de replicabilidade muito grande, e será uma oportunidade incrível poder levá-la ao conhecimento de pessoas do mundo todo”, contou, entusiasmada. Além da aluna da Ufal, outros dois empreendedores do Brasil também representarão suas empresas: Diogo Bezerra da Silva, que conquistou o primeiro lugar, e Leonardo Oshiro, que conquistou o terceiro lugar da etapa nacional.

Para assistir a cerimônia de divulgação do resultado do prêmio, clique aqui

Neste link tem a apresentação da Liliane na final do concurso.

Ufal: local de oportunidades

Para chegar onde está e ir em busca de novas metas, a determinação de Liliane é direcionada para superar as dificuldades encontradas. Numa sociedade marcada pela desigualdade social, ela destaca que a vida dela se resume “à questão das oportunidades”.

Estudante de escola pública, ela analisa que “o ensino público, quando se trata de ensino fundamental e médio, nem sempre é bom” e recorda que teve muita dificuldade de adaptação ao entrar na faculdade. “Isso acabou limitando minhas oportunidades em relação à graduação, por sentimento de incapacidade mesmo”, lembrou. E continua: “No ensino médio, decidi empreender e entrar na universidade foi o maior desafio que enfrentei para começar a desenvolver esse sonho profissional”.

Ela ingressou na Ufal em 2017 por meio do sistema de cotas. Foi o início da concretização do sonho. Primeiro, ela tentou cursar Economia. Iniciou, mas decidiu mudar para Administração. Fez outro vestibular e conseguiu a vaga. Atualmente, está no quinto período. “A partir daí, fui conhecendo programas que me ajudaram a desenvolver minha empresa. Então, sem a Ufal, tudo isso que conquistei não seria possível”, reconheceu.