A tomada de decisões em grupo para avaliar os impactos ambientais, sociais e econômicos negativos das instáveis minas de sal-gema em Maceió. Esse é o tema de um artigo escrito por quatro pesquisadores, dentre eles, a professora Natallya Levino da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (Feac) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e que foi publicado recentemente no periódico Science Direct.

Segundo a docente, o artigo utiliza abordagem de Tomada de Decisão em Grupo (GDM), baseados em análises quantitativas e qualitativas, para analisar como esses grupos de especialistas – professores, agentes públicos locais e cidadãos diretamente afetados – avaliam os problemas econômicos, sociais e ambientais que impactam os bairros afetados pela extração irregular do sal-gema, em Maceió.

“Da ótica dos moradores, eles consideraram os efeitos semelhantes nessas três dimensões citadas, ou seja, todos são relevantes e impactaram o município. Já os especialistas avaliam que os impactos sociais e econômicos foram maiores e tiveram efeitos mais drásticos do que os impactos ambientais. Com isso, é possível priorizar algumas ações para mitigação desses danos, favorecendo a criação de políticas públicas e sua aplicação”, explicou Natallya Levino.

A abordagem utilizada para o desenvolvimento do artigo é essencial para apoiar as partes envolvidas no processo de aprendizagem, considerando diferentes pontos de vistas e planejando ações de mitigação para o problema abordado. “Portanto, as contribuições deste artigo são duplas. As contribuições teóricas residem em discutir esse fenômeno sob a perspectiva da Tomada de Decisão em Grupo, que é multifacetada e conflituosa”, complementou a pesquisadora.

Para ela, ter o artigo publicado em âmbito internacional pode contribuir para o aumento da repercussão em torno deste caso, além de estimular a produção de novos trabalhos sobre o assunto. “Trata-se de uma revista que atualmente figura como Qualis A1 em área de foco industrial, ou seja, pertinente com a temática e com leitores que possuem interesse em problemas dessa magnitude. Isso pode estimular novos pesquisadores a realizarem estudos sobre o tema, ampliar o debate e a discussão”, destacou Natallya.

Além de Natallya, o artigo que integra um projeto de pesquisa liderado por ela e financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por meio do Edital Universal, tem assinatura de Marcele Fontana, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Patrícia Guarnieri, da Universidade de Brasília (UnB) e Sattar Salehi, do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Islâmica Azad (IAU), do Irã.

Sobre o artigo

A extração irregular do sal-gema feita pela mineradora Braskem foi responsável pelo êxodo de moradores dos bairros Pinheiro, Mutange, Bebedouro e Bom Parto, além de parte do Farol, segundo dados do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). O relatório, divulgado em 2019, apontou que a extração, feita de maneira inadequada, desestabilizou as cavernas subterrâneas existentes nos bairros, o que causou as rachaduras e o afundamento do solo neste que já é considerado o maior desastre socioambiental do mundo.

No artigo, os estudiosos mostram que especialistas e professores avaliaram os efeitos sociais e econômicos com maiores pesos quando comparados aos problemas da dimensão ambiental, tanto nas etapas quantitativas quanto qualitativas, enquanto que os moradores consideraram as dimensões como semelhantes. No entanto, eles apontam que é necessário levar em consideração os impactos sociais, econômicos e ambientais causados pela desativação dos serviços nas regiões afetadas pela mineração.

Além disso, o texto apresenta que a opinião pública deve ser levada em consideração para que sejam elaboradas políticas públicas eficazes, especialmente ao considerar o evento ocorrido. “Assim, o resultado da implementação deste modelo pode orientar os formuladores de políticas nesta jornada, fornecendo suporte científico na tomada de decisões e na transparência da informação, onde a sociedade é a maior beneficiária da sinergia criada”, dizem os pesquisadores.

Com isso, os estudiosos revelam, em trecho das considerações finais, duas importantes contribuições com base na abordagem de Tomada de Decisão em Grupo (GDM) utilizada para a produção do artigo.

“Primeiro, caracterizamos o problema, explicando particularidades do fenômeno de instabilidade das minas de sal-gema na perspectiva do GDM. Segundo, a implementação deste modelo pode orientar os gestores na análise dos impactos das operações mineiras para tomar uma decisão e evitar futuros desastres, pois os GDMs são modelos que permitem considerar pontos de vista diferentes e conflitantes, essenciais para fornecer uma visão sistêmica do quadro que pode levar ao planejamento de ações de mitigação”, explicam.

Ainda segundo os pesquisadores, a publicação também considerou a situação pós-evento, ou seja, quando o desastre já está ocorrendo. Com isso, sugerem que outros trabalhos podem considerar mais partes interessadas e, assim, construir uma imagem ainda mais completa do problema de tomada de decisão e de outros métodos para modelar os demais pontos de vista. “Estudos qualitativos podem analisar o nível de conhecimento e o poder dos stakeholders para avaliar suas percepções”, concluem os estudiosos.

Acesse o artigo na íntegra aqui.

Pesquisa analisa impactos do desastre

A professora Natallya Levino aproveitou a oportunidade para reiterar o convite à comunidade para participar de um estudo que visa avaliar o impacto socioeconômico do afundamento dos bairros citados. Segundo ela, devido à natureza recente do fenômeno, ainda é insuficiente o material produzido para dimensionar o impacto e seus desdobramentos.

Assim, a pesquisa tem como objetivo principal analisar os impactos do desastre sobre a ótica ambiental, econômica e social provocado pela mineração irregular do sal-gema em Maceió tendo como público-alvo todos aqueles moradores de Maceió afetados direta ou indiretamente pela ação, tendo em vista alterações na mobilidade urbana, mercado de imóveis, sobrecarga aos serviços públicos, dentre outros.

Contribua com a pesquisa clicando aqui. E para saber mais informações entre em contato pelo e-mail: natallya.levino@feac.ufal.br.