Relatório sobre 2ª Expedição do Baixo São Francisco é entregue ao CBHSF

Expectativa é lançar o documento sobre a expedição em formato de livro
Por Izadora Garcia - relações públicas
13/07/2020 16h16 - Atualizado em 13/07/2020 às 20h14

Em novembro do ano passado, uma equipe composta por cerca de 60 pesquisadores deu início a uma jornada de aproximadamente 500 km em busca de conhecimento pelas águas do Rio São Francisco. Como resultado do trabalho, um relatório de 540 páginas com um detalhado panorama sobre a região foi entregue ao Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), parceiro da Universidade Federal de Alagoas na empreitada. A expectativa agora é de lançar o documento em formato de livro em breve.

Durante os dez dias da 2ª Expedição Científica do São Francisco, os pesquisadores, liderados pelo professor Emerson Soares, do Campus de Engenharias e Ciências Agrárias (Ceca), puderam analisar diversos aspectos da região como a qualidade da água, atividades socioeconômicas executadas pela população ribeirinha, agricultura, educação ambientar e meteorologia.

O relatório foi dividido em eixos temáticos. O primeiro delas trata da Ictiofauna, ou seja, do conjunto de peixes encontrado em determinada região biogeográfica. De acordo com o documento, há pouca diversidade no Baixo São Francisco, com cerca de seis espécies representando 80% das capturas no local.

Os pesquisadores também concluíram que fatores como a pesca com métodos não permitidos, o represamento da água, o desmatamento da vegetação ciliar, o assoreamento e a poluição de efluentes, aliados ao regime escasso de chuvas, vêm prejudicando a reprodução dos peixes e esgotando os estoques pesqueiros.  A grande quantidade de lixo jogada na calha do rio prejudica a qualidade de água, provocando um forte estresse para as espécies, colaborando para diminuição do alimento natural e diminuição do crescimento e desenvolvimento dos peixes.

Além disso, também foi analisada a presença de metais em 15 espécies de peixe por meio da histopatologia. A piranha verdadeira (P. piraya) e o tucunaré (C. monoculus), por estarem no topo da cadeia alimentar, foram mais expostos aos agentes nocivos, apresentando um maior acúmulo de material residual e alterações celulares. Entretanto, os pesquisadores salientam que as concentrações encontradas no tecido muscular dos peixes não representam riscos à saúde humana, de acordo com os Limites Máximos de Tolerância (LMT) prescritos pela Anvisa.

Já a segunda parte do documento, foi dedicada à qualidade da água.  De acordo com as análises microbiológicas realizadas no período, os resultados demonstraram que a água de todos os pontos de coleta está fora dos padrões de potabilidade recomendados para consumo humano.

A influência da maré na salinidade das águas também foi avaliada pelos pesquisadores. Em Piaçabuçu, por exemplo, a entrada da cunha salina de maré altera as características da água, que permanece doce na superfície, mas se apresenta salobra nas camadas de fundo.  A variação da vazão das águas também afeta a qualidade da água, interferindo tanto na biodiversidade quanto nas atividades econômicas.

Segundo o documento, os altos valores de cianobactérias encontrados nas análises indicam a poluição das águas. Isso significa que o consumo do manancial oferece riscos à saúde pública e necessita de investimentos elevados na implantação de Estação de Tratamento de Água (ETA). Essas alterações também provocam a ocorrência de espécies potencialmente produtoras de toxinas, que além do risco de bioacumulação em peixes, moluscos e bivalves, os torna impróprios para o consumo humano. 

Com relação à Educação Ambiental e Socioeconomia, outro eixo avaliado durante a Expedição, o extrativismo de frutas nativas é a principal fonte de renda para muitas famílias da região da foz do rio São Francisco, e isso contribui com a conservação ambiental. A principal política pública acessada pela comunidade ribeirinha é o Seguro Defeso [benefício pago aos pescadores artesanais que ficam impedidos de exercer suas atividades durante o período reprodutivo dos peixes], seguido do Bolsa família e aposentadoria.

O estudo possibilitou a compreensão sobre a ocorrência de transtornos mentais comuns em trabalhadores agrícolas ribeirinhos da região do baixo São Francisco. Esses moradores que trabalham com a agricultura e a pesca vêm apresentando transtornos mentais, que necessitam de um cuidado multidisciplinar de promoção da saúde.

O documento será disponibilizado em breve.