Plástico ingerido por caranguejos é tema de pesquisa no ICBS

Pesquisa publicada em revista internacional discute o problema da poluição na Ponta Verde
Por Pedro Ivon - estagiário de Jornalismo
08/06/2020 14h26 - Atualizado em 08/06/2020 às 14h28

A docente Tereza Calado e o aluno Matheus Barros, pertencentes aos Laboratórios Integrados de Ciências do Mar e Naturais (Labmar) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em conjunto com a professora Marina de Sá, da Universidade de Pernambuco (UPE), realizaram uma pesquisa abordando os impactos da poluição marinha em um crustáceo da Ponta Verde, em Maceió.

O projeto Impactos por microplásticos e alimentação de Pachygrapsus transversus é fruto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) de Matheus. “A ideia inicial era apenas de estudar a alimentação desse caranguejo, por ser um membro importante da comunidade, responsável por regular as abundâncias de vários outras espécies”, afirma o aluno, se referindo ao caranguejo Pachygrapsus transversus. Foi realizando uma coleta inicial e abrindo, em laboratório, os estômagos dos animais, que foi identificado que grande parte dos indivíduos possuíam fibras de plástico em seu interior, a partir de então o foco mudou.

De acordo com Matheus, os plásticos são considerados presentes em praticamente todos os ambientes marinhos, desde os menores aos 5mm, os microplásticos, até os fragmentos maiores. “Isso nos levou a buscar na literatura como poderíamos avaliar possíveis impactos”, diz o discente.

O desenvolvimento do projeto de Matheus, além de ter o incentivo da professora Tereza, também contou com o apoio da professora Marina, que havia sido orientanda de Tereza, na Ufal. Após um encontro durante um evento em Maceió, o discente convidou a professora para participar no desenvolvimento do trabalho. Marina auxiliou a refinar e validar as metodologias utilizadas.

A pesquisa

O trabalho foi desenvolvido com a coleta dos caranguejos no recife de coral da Ponta Verde, que ocorreu de agosto de 2019 até janeiro deste ano. Após a coleta, em laboratório, os estômagos dos animais eram examinados, na busca de uma possível presença de fibras de plástico. Também foi estudado os alimentos que fazem parte da dieta do caranguejo.

“Para avaliar impactos provenientes da ingestão de plástico, usamos o fator de condição relativo. Eu diria que é uma espécie de IMC [Índice de Massa Corporal] de caranguejo, para os leigos”, relatou o estudante. A hipótese, confirmada posteriormente, era a de que a ingestão de plástico seria capaz de diminuir o índice. Foi visto que os caranguejos com fibras de plástico nos estômagos apresentaram uma alimentação apenas de algas e animais sedentários, ao contrário daqueles que não continham o material em seu interior, que possuem uma alimentação mais variada, com presas com maior mobilidade.

Como resultado, tem-se a hipótese de que a presença dessas fibras no trato gastrointestinal desses animais provoca um bloqueio do mesmo, além de uma sensação de saciedade e uma redução dos níveis energéticos.

Da Ufal para o mundo

A pesquisa de Matheus, Tereza e Marina resultou no artigo Plastic ingestion lead to reduced body condition and modified diet patterns in the rocky shore crab Pachygrapsus transversus (Gibbes, 1850) (Brachyura: Grapsidae), que foi publicado em maio deste ano, na revista internacional Marine Pollution Bulletin.

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