Caça no Brasil é tema de artigo publicado em revista internacional

O tema foi resultado de observações feitas em duas pesquisas da Ufal
Por Pedro Ivon – estagiário de Jornalismo
06/06/2019 07h30 - Atualizado em 05/06/2019 às 13h13
Equipe do Lacos21 da Ufal

Equipe do Lacos21 da Ufal

O Laboratório de Conservação no Século 21 (Lacos21), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) é um laboratório de pesquisa relacionada à conservação ambiental, vinculado ao Programa de Pós- graduação (PPG) em Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos (Dibict), da Ufal. Recentemente, um artigo liderado pelos seus membros foi publicado na revista Perspectives in Ecology and Conservation, recebendo o título Hunting in Brazil: What are the options?, da tradução livre Caça no Brasil: quais são as opções? 

A ideia inicial do artigo teve origem em dois outros trabalhos orientados pelo professor Richard Ladle, que também é o coordenador do Lacos21. Um é referente à pesquisa de pós-doutorado de Chiara Bragagnolo, e o outro é um trabalho de mestrado da egressa do Dibict, Gabriela Mota Gama, que hoje é funcionária do Instituto do Meio Ambiente (IMA) de Alagoas.

Os dois trabalhos tinham um objetivo em comum: levantar a percepção de moradores locais em relação a diferentes aspectos da conservação da natureza, tendo como ferramenta analítica principal os questionários aplicados em entrevistas presenciais com moradores.

 A pesquisa de Chiara visava a percepção de moradores nos entornos de três parques nacionais da Caatinga, enquanto a da Gabriela objetivava avaliar a viabilidade da reintrodução do Mutum-de-Alagoas, uma espécie extinta na natureza.

Durante as pesquisas foram entrevistadas mais de 800 pessoas. A partir disso notou-se que o tema da caça sobressaiu como principal fator de ameaça tanto para a conservação de reservas e áreas protegidas, como para a reintrodução do Mutum.

“A partir desta constatação, abriu-se um debate mais amplo sobre a caça entre nós do Lacos21 que começamos a nos questionar sobre como podia a caça ser formalmente ilegal [com exceção das caças de subsistência e científica] e contemporaneamente tão difusa e aceita dentro do Brasil”, disse Chiara Bragagnolo.

Com o amadurecimento da discussão sobre o assunto e sabendo que é pouco abordado no meio acadêmico, um artigo de opinião sobre a caça começou a ser escrito. 

Sobre o artigo 

O trabalho sobre a caça no Brasil contou com a colaboração de membros de outras instituições, como IMA Alagoas, Laboratório de Ciência Aplicada à Conservação da Biodiversidade da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade do Aveiro, em Portugal, e Universidade de Oxford, Inglaterra.

Abordando o assunto de maneira mais compreensiva, na tentativa de superar a polarização entre “caça sim” e “caça não”, Hunting in Brazil: What are the options? Apresenta uma leitura das motivações que podem levar o indivíduo a caçar dentro de um país onde a maioria das formas de caça e manutenção de animais silvestres é ilegal. Foram analisados, inicialmente, os principais fatores que determinam o descumprimento da lei referente ao tema.

“Os autores procuram estimular um debate crítico sobre como lidar com a caça no Brasil, analisando primeiramente os fatores que determinam o descumprimento da legislação vigente”, explica Chiara.

Além disso, o artigo também aborda outros pontos, como a falta de evidências científicas para apoiar a gestão de fauna silvestre e a complexidade de lidar com a caça em um país de tamanha diversidade ecológica e cultural.

Os autores defendem que a gestão da fauna silvestre e da caça no Brasil precisa ser regulamentada e adaptada, no mínimo, com base nas características ecológicas e culturais de cada bioma. Dessa forma, Hunting in Brazil propõe um conjunto de opções de como lidar com a caça, que poderiam ser aplicadas de maneira mais eficaz em escalas regionais ou sub-regionais, a depender de diversos fatores, como as características ecológicas e tradições culturais.

Por fim, o artigo pode colaborar para uma reflexão da sociedade a respeito do assunto, sem que seja preciso tomar partido antes de conhecer a realidade da caça em um país com uma diversidade e extensão tão grandes. A reflexão, segundo os autores, pode partir não só da sociedade em geral, mas especificamente dos políticos, para que sejam avaliadas as novas propostas com base nas complexidades levantadas na pesquisa.

Para acessar o artigo na íntegra, acesse aqui.

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