Pesquisadora avalia Educação em Direitos Humanos nas escolas públicas alagoanas

Embora esteja no início da pesquisa de campo, Juliana já percebeu o distanciamento entre o discurso e a prática

06/05/2013 11h55 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h31
A pedagoga Juliana Alves

A pedagoga Juliana Alves

Lenilda Luna - jornalista 

Ainda sob o choque dos horrores da Segunda Guerra Mundial, as nações se voltaram para a consolidação de princípios globais de respeito à vida e à dignidade humana, estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, publicada em 1948. Desde então, esse tema tem sido marcado por polêmicas que afetam desde a vida em família até a convivência entre diferentes culturas, passando por todas as áreas do conhecimento, incluindo Direito, Educação e Filosofia. 

Tentando compreender como essa questão é vivenciada na Educação em Alagoas, a pedagoga Juliana Alves, que é especialista em Educação, Direitos Humanos e Diversidade e também mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação (Cedu), integrando o grupo de pesquisa sobre Estado, Políticas Sociais e Educação (Gepe), sob a orientação da professora Elione Maria Nogueira Diógenes, decidiu acompanhar como o tema vem sendo implementado nas escolas públicas estaduais da capital alagoana, principalmente as que se encontram localizadas na região do Clima Bom, localidade considerada entre as mais violentas de Maceió. "Talvez por isso, os direitos humanos ainda sejam vistos com resistência naquela comunidade, porque algumas pessoas consideram que se trata de defender 'bandidos", ressaltou Juliana. 

Esta concepção deturpada existe, em parte, porque o respeito aos direitos humanos pressupõe também limites para a atuação da força policial, que durante longos períodos, em nosso país,  teve carta branca para suprimir a liberdade de suspeitos e torturá-los, com a justificativa de arrancar deles a verdade sobre os supostos crimes. Talvez por conta deste preconceito, os projetos pedagógicos que tratam da questão prefiram o título de "Educação para a Paz". Dessa forma, os professores apresentam princípios de direitos de todos os cidadãos sem que estes se confundam com os direitos dos apenados e das pessoas que são detidas para investigação. 

Juliana ainda está na fase inicial da pesquisa de campo, mas já registrou um distanciamento entre o discurso sobre os direitos humanos e a prática nas relações estabelecidas nos contextos escolares, principalmente na relação professor-aluno. "Conversei com uma professora que, teoricamente, era muito preparada sobre o tema, mas que manifestou um certo desprezo pelas opiniões dos alunos, desconsiderando o saber que eles trazem para a escola, a partir do cotidiano deles. É como se este conhecimento dos alunos não tivesse importância no processo ensino-aprendizagem, e dessa forma, eles também se sentem menosprezados e desrespeitados", questionou a pedagoga. 

Juliana Alves está se preparando para realizar as entrevistas com os professores, coordenadores e diretores. Com este grupo utilizará a entrevista semiestruturada. "Optei pela entrevista semiestruturada porque permite ao pesquisador maior flexibilidade e mesmo que eu parta de um roteiro específico, esse não precisa ser desenvolvido seguindo uma sequência. As perguntas, tanto podem  ter a sua ordem alterada, como ser reformuladas. O momento com o entrevistado é  o que vai direcionar melhor a nossa ação nesse momento da pesquisa" explica a pesquisadora. Com os alunos, a pesquisadora utilizará da técnica de grupo focal. "Como os alunos ficam mais intimidados em falar quando estão sozinho, acreditamos que em grupo, a partir do tema proposto, eles possam manifestar melhor o que pensam sobre a questão, debatendo entre si e refletindo coletivamente", complementou Juliana. Ela pretende qualificar a pesquisa ainda no final deste ano, para defender a dissertação no início de 2014. 

Segundo a pesquisadora, a educação em Direitos Humanos traz à tona temas, que em pleno século XXI, ainda são considerados verdadeiros tabus,  como  a diversidade de identidade, raça e etnia; a diversidade cultural e religiosa; a diversidade de gênero e a diversidade sexual. "Na prática,  muitas escolas reforçam preconceitos. A questão religiosa  é um exemplo disso. Muitas vezes, é imposta uma determinada orientação religiosa, quando deveria se praticar o laicizismo, respeitando a diversidade que temos em nosso meio social. Infelizmente, a prática pedagógica desenvolvida e que presenciamos constantemente , ainda, é fortemente globalizada, homogeneizada e padronizada, desconsiderando as singularidades de seus sujeitos.  Sem encarar a intolerância  que vem se manifestando na escola e na sociedade como um todo é difícil vivenciar um projeto de Educação em Direitos Humanos que realmente perpasse pelos princípios de dignidade, igualdade, liberdade e justiça  e que seja capaz de proporcionar uma mudança de concepção na sociedade em que vivemos. Ou seja, precisamos sair do discurso, pois educar em Direitos Humanos é praticar esses direitos a todo o momento, em todos os espaços, com todos aqueles com os quais vivemos", concluiu a pesquisadora. 

Veja um dos últimos artigos publicados acerca da temática desenvolvida na pesquisa