Pesquisadores participam de debate sobre a subsidência nos bairros de Maceió

Na atividade, realizada no complexo do Teatro Deodoro, foi exibido o documentário do cineasta Carlos Pronzato
Por Lenilda Luna - jornalista
20/12/2021 12h58 - Atualizado em 21/12/2021 às 11h47

O caso do afundamento dos bairros de Maceió, provocado pela mineração de sal-gema da empresa Braskem, tem gerado muitos estudos, debates, relatórios e diversas formas de registros, pelo impacto e repercussão da ocorrência. Um deles, é o documentário intitulado A Braskem passou por aqui: a catástrofe de Maceió; do cineasta e escritor argentino, Carlos Pronzato, atualmente residente no Brasil.  

Pronzato realizou uma nova exibição do documentário na tarde do último sábado (18), na sala de música do complexo do Teatro Deodoro, com uma roda de conversa em seguida. Alguns pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) estão no documentário e também participaram do debate, como a professora Regla Toujaguez e o professor aposentado Abel Galindo. 

Também foi convidada a professora Adriana Capretz, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (Fau) da Ufal, que realizou o levantamento do Patrimônio Histórico e Cultural da região atingida, por meio do grupo de pesquisa Representações do Lugar (Relu); e Neirivane Nunes, egressa da Ufal, do curso de Biologia, representando os moradores que precisaram ser realocados. 

O debate trouxe muitas informações importantes para a compreensão dessa situação complexa. “O olhar sobre esse caso precisa ser multidisciplinar, porque tem aspectos sociais, comunitários, urbanísticos, psicológicos, ambientais, de Engenharia, no âmbito do Direito e de abordagem da comunicação e direito à informação, entre outros”, ressaltou o cineasta Carlos Pronzato. 

Em sua fala, o professor aposentado Abel Galindo relatou que realizou vários levantamentos e pesquisas para compreender o fenômeno das rachaduras, que aumentaram a partir do tremor de terra registrado em março de 2018. “É um problema que já começou na origem, quando autorizaram a instalação da indústria naquele local. Mas se agravou nos últimos anos, porque não foi respeitado um distanciamento seguro entre as cavernas abertas para a mineração”, disse o engenheiro civil. 

Abel Galindo disse ainda que teve acesso a documento científico, de autoria do engenheiro civil Álvaro Maia, pesquisador do pré-sal e fundador da Rede Galileu de Computação Científica e Visualização, da qual a Ufal faz parte. O documento tem co-autoria de Paulo Cabral,  Engenheiro de Minas que foi gerente geral da Planta de Mineração da Salgema Mineração, no período de 1976 a 1997. “Neste documento há um alerta que eu também fiz sobre os limites para a extensão das cavernas de mineração e o distanciamento entre elas”, destaca Galindo. 

Segundo Abel Galindo, a recomendação dos próprios consultores da Braskem não foi seguida. “Neste trabalho, publicado na Universidade de Houston, está dizendo que o diâmetro das minas deveria ser no máximo de 53 metros e a distância de eixo a eixo entre as cavernas deveria ser de 100 metros. Esse trabalho foi publicado em 1992. Então, a empresa sabia dos riscos de aumentar a extensão das cavernas e diminuir a distância entre elas. Foi isso o que provocou o desabamento de um dos pilares, parede de sustentação das cavernas, provocando aquele tremor registrado em 2018”, explicou Galindo. 

A professora Regla Toujaguez enfatizou a necessidade de aprofundar a pesquisa sobre a subsidência, para definir os efeitos sobre o solo da área urbana atingida. “A subsidência é grave, principalmente porque afeta uma região densamente povoada. O afundamento tende a estabilizar em alguns anos, mas, enquanto isso, os riscos de rachaduras e desabamentos são grandes. Por isso as famílias foram obrigadas a se retirar. Elas não escolheram isso”, destaca a pesquisadora. 

Para a professora Adriana Capretz, que coordena o Relu com a professora Josemary Ferrare e participação da pesquisadora Adriana Guimarães Duarte, foi preciso chamar a atenção da sociedade e da empresa para o dano cultural e patrimonial. “Não é só passar uma máquina para demolir tudo. Esta área da cidade conta com prédios tombados como patrimônio histórico. Não queremos a recordação registrada em fotografias. Queremos a preservação desse nosso patrimônio”, ressaltou Adriana. 

O debate contou ainda com a presença de estudantes de vários cursos da Ufal, além de outros professores que colaboraram com a discussão aberta para a participação da plateia. Os pesquisadores agradeceram ao cineasta Carlos Pronzato que, com seu documentário, contribuiu para uma visibilidade nacional do problema.