Pesquisa busca combater pragas agrícolas com menos impacto ambiental

Tema de grande interesse na mídia nacional, a preocupação da população quanto à origem e procedência dos alimentos e possível contaminação deles por pesticidas é algo que está nas manchetes diárias de inúmeros jornais. Mas não é só a saúde das pessoas que a produção incorreta de produtos alimentícios causa grande impacto: as perdas constantes de plantações inteiras, devido às conhecidas pragas agrícolas também causam prejuízos em toda economia mundial.

03/06/2011 10h30 - Atualizado em 13/08/2014 às 11h07
O professor Antônio Euzébio (à direita) e uma parte equipe de trabalho do grupo

O professor Antônio Euzébio (à direita) e uma parte equipe de trabalho do grupo

Jhonathan Pino - jornalista

A busca por alternativas para o controle de pragas agrícolas que venham a danificar o mínimo possível o meio ambiente é algo que já vem sendo pesquisado na Ufal há cerca de 20 anos pelo Laboratório de Pesquisa em Recursos Naturais (LPqRN), pertencente ao Instituto de Química e Biotecnologia (IQB). O trabalho de duas décadas já foi recompensado com a produção de feromônios, substâncias químicas capazes de ajudar no controle dessas pragas de uma forma econômica e saudável.

Desenvolvendo pesquisas nas culturas de pinhão-manso, da palma, da bananeira, do coqueiro, do tomate e da cana-de-açúcar e grãos armazenados, o grupo patenteou um produto que já é usado de forma comercial no combate a pragas em coqueiros. Mas qual seria a diferença entre essas substâncias chamadas feromônios e os tradicionais pesticidas é o que iremos tentar esclarecer aqui.

A evolução dos pesticidas

Utilizados desde 500 a.C., os pesticidas são substâncias desenvolvidas pelos seres humanos para o controle de pragas produzidas a partir de misturas químicas. Os primeiros pesticidas foram produzidos na base de substâncias como o enxofre, o arsênio e o mercúrio. Em 1939, o cientista Paul Müller, desenvolveu um pesticida que foi largamente utilizado no mundo no combate de mosquitos causadores de doenças como malária e tifo, denominado Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT). Entretanto, na década de 60, foi verificado que o uso do DDT também causava danos na saúde de aves.

Seguindo o exemplo DDT, inúmeros pesticidas foram criados e logo entraram em desuso após verificados os efeitos nocivos, não só nas aves, como também no próprio homem. Além disso, o processo seletivo que essas substâncias causavam nas pragas de diversas culturas fez com que as pragas ficassem mais resistentes.

Foi na tentativa de conseguir técnicas mais saudáveis no combate dessas pragas que cientistas começaram a utilizar a própria natureza para controlar o ecossistema: o feromônio é um  exemplo disso.

Os fermônios são substâncias retiradas dos insetos capazes de atrair outros da mesma espécie. Ele ganhou esse nome devido ao poder que essa substância tem de comunicar através do olfato: elas servem de mensageiras para que indivíduos da mesma espécie possam ser atraídos pela substância secretada.

Liderado pelo professor  Antônio Euzébio Goulart Sant’Ana, os pesquisadores do LPqRN fazem o levantamento das pragas e trabalham no isolamento, identificação e síntese de feromônios, como também na formulação de iscas e nos testes de campo.

Conforme Mariana Santos, integrante do grupo e doutoranda no IQB, “primeiro fazemos a criação do inseto em laboratório, extraímos o feromônio e fazemos a identificação por cromatografia gasosa e espectrometria de massas e a confirmação se dá por síntese e a produção do feromônio em laboratório”, explica Mariana.

O resultado final é a produção de novas substâncias capazes de atender a produção de culturas agrícolas importantes no estado e na região nordeste. Mariana ainda enfatiza que “essas pragas são responsáveis por grandes perdas, tanto na fase da cultura quanto na pós-colheita”, diz.

Financiamento

A pesquisa é financiada através de projetos submetidos a órgãos como CNPq, o Finep, Capes e Fapeal e já recebeu mais de R$ 3,5 milhões para compra de equipamentos. “Nós fazemos parte também do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Semioquímicos na Agricultura (INCT), que envolve o intercâmbio dos alunos de mestrado e doutorado para outros polos do INCT, como Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq/USP), a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Através dessas parcerias o IQB já adquiriu equipamentos importantes como dois cromatógrafos gasoso acoplados a espectrometria de massas e um eletroantenógrafo, equipamento que acoplado a cromatografia gasosa (EAG-CG), é responsável pela análise de misturas complexas obtidas diretamente do inseto ou da planta, permitindo saber a qual componente do extrato testado a antena do inseto responde. É a partir disso que são identificadas as substâncias capazes de fazer o controle das pragas.

Os alunos do grupo de pesquisa do LPqRN são provenientes da pós-graduação do IQB (mestrado e doutorado) e da Rede Norte nordeste de Biotecnologia (Renorbio) e além de diversas áreas  de graduação como: Farmácia, Biologia, Agronomia e Zootecnia e Química.