Reitor diz que Portaria do MEC não prevê orçamento para aulas virtuais

Josealdo Tonholo ressalta que preocupação é com parcela dos alunos em vulnerabilidade social
Por Simoneide Araújo - jornalista
17/06/2020 16h11 - Atualizado em 17/06/2020 às 16h32
Josealdo Tonholo na abertura virtual do 1º Congresso da Andifes nesta quarta-feira (17)

Josealdo Tonholo na abertura virtual do 1º Congresso da Andifes nesta quarta-feira (17)

Na última terça-feira (16) o Ministério da Educação emitiu a Portaria 544/2020 que trata da substituição das aulas presenciais pelas virtuais. Sobre essa nova situação, o reitor da Universidade Federal de Alagoas, Josealdo Tonholo, ressalta que há  bons elementos no documento, no entanto não diz se as instituições de ensino superior terão apoio para garantir a utilização dos meios digitais.

De acordo com o reitor, a  gestão da Ufal entende que a referida portaria apresenta alguns elementos interessantes quanto à utilização de ferramentas de tecnologias digitais no apoio à realização de atividades acadêmicas não presenciais. “Estamos vivendo um momento de mudança paradigmática na educação.  Apesar de as tecnologias digitais já existirem, apenas agora, durante a pandemia da covid-19, estamos fazendo uso mais sistemático delas. Há portanto uma mudança de cultura pela necessidade de suplantar as dificuldades impostas pela pandemia”, destacou. 

Para Tonholo, a reposição das atividades acadêmicas suspensas não é novidade para a Ufal. “A Universidade sempre fez e fará a reposição para fins de cumprimento da carga horária dos cursos, com toda responsabilidade, em casos de suspensões momentâneas de atividades. Esta portaria apenas reitera a autorização para que façamos o que for possível de forma digital, para mitigar os prejuízos que certamente teremos com a interrupção das aulas presenciais”, reforçou.

Por outro lado, Tonholo ressalta que a portaria não dá os caminhos de como garantir a realização das atividades virtuais. “Não nos foi dito, por exemplo, sobre como será tratada a questão orçamentária para permitir a utilização dos meios digitais. O mais grave está relacionado à acessibilidade dos estudantes. Uma parcela substancial de nossos discentes está em situação de elevada vulnerabilidade social, conforme comprova o estudo recente da Proest [Pró-reitoria Estudantil] junto com a Edufal, o que deixa mais complexa qualquer ação de retomada de aulas por esta via”, reforçou.

Outro ponto importante a ser destacado é que o atual orçamento da Ufal não comporta os investimentos necessários para compra de equipamentos e planos de internet. “Só para se ter uma ideia da situação grave que todos passamos em termos orçamentários, nem telefones funcionais a Universidade tem. Estamos nos reunindo periodicamente com o MEC, em conjunto com os reitores da Região Nordeste, para tratar deste tema, já que temos realidades muito parecidas. E falando especificamente de Alagoas, a situação também é crítica em relação à questão tecnológica ligada à qualidade da internet em todo o Estado”, completou o reitor.

E continua: “Por outro lado, temos que analisar o recorte local da pandemia, pois Alagoas tem apresentado alarmantes indicadores de contaminação e de letalidade, o que abala emocionalmente a todos nós. Apesar de que todas as demais atividades da Ufal estão funcionando, dentro do que esta atípica realidade nos permite, ainda não conseguimos equacionar o retorno das aulas da graduação. Não vejo, neste momento, clareza de forma ou de prazos para retomada das aulas na graduação, seja pela via presencial ou digital. E a portaria não nos dá as várias respostas que precisamos para dirigir nossas ações. É momento para muita reflexão e planejamento”.