Farmácia 25 anos: coordenadores recordam história e apontam conquistas

Início do doutorado e inauguração da Farmácia Escola são citados como avanços para comunidade acadêmica e também para o estado
Por Thâmara Gonzaga - jornalista / Renner Boldrino - fotógrafo
05/09/2023 15h19 - Atualizado em 05/09/2023 às 19h43
Professores que integram o ICF

Professores que integram o ICF

A graduação em Farmácia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) completa 25 anos em 2023 e sua criação, bem como a consolidação do curso reconhecido pela qualidade, é resultado da persistência, da visão de futuro de docentes pesquisadores que enxergaram na formação profissional farmacêutica um caminho para melhoria e desenvolvimento da sociedade alagoana.

“É um curso muito importante para o estado. Antes, os farmacêuticos vinham de outros locais, sobretudo, Paraíba, Pernambuco, também do Ceará e da Bahia”, recordou o professor Zenaldo Porfírio, o segundo coordenador à frente do curso. A relevância da formação na área também é reforçada pelo docente Luciano Meireles Grillo ao considerar o caráter estratégico em relação ao campo da saúde. “O profissional formado tem profundo conhecimento na produção de medicamentos e nas suas aplicações em tratamentos de diversas patologias”, explicou ele que também já foi coordenador. Na linha sucessória, foi o quarto a assumir a função.

Contar a história do curso de Farmácia pelas lembranças e experiências de seus docentes coordenadores é recordar o protagonismo de uma mulher, a professora Maria Eliane de Melo da Cruz, a primeira coordenadora. Farmacêutica e com atuação na Bioquímica, ela atuou de forma decisiva para fundar e estruturar o curso, de modo articulado com a Medicina Social, as Ciências Biológicas e a Química. Professora Eliane faleceu em 2019.

“O curso de Farmácia sempre foi muito almejado por ser público e de qualidade. Criado pela saudosa professora Eliane, e outros colegas que se juntaram à luta, não tem como esquecer o quanto ela sempre primou pela qualidade dos profissionais a serem formados”, salienta José Ruy Machado Reys, o quinto a assumir a coordenação. E, de acordo com ele, a missão é manter o legado da fundadora. “Desde a época dela, assumimos essa preocupação. Sempre estamos atuando, junto com a Reitoria, com perspectivas de melhoria, a exemplo da Farmácia Escola, aprovação do doutorado e contratação de professores. Nosso trabalho diário é realizado na busca de formar, cada vez mais, profissionais farmacêuticos com qualidade”, afirmou José Ruy.

Todos recordam o quanto o início do curso foi marcado por desafios. Um deles foi a quantidade de docentes. “Tivemos muita dificuldade por conta do número reduzido de professores. Tive que dar aula para mais de quatro turmas de disciplinas diferentes para não deixá-las sem aula”, relembrou professor Zenaldo ao contar sobre sua contribuição para contornar essa realidade. “Fizemos um planejamento e conseguimos ampliar o número de vagas. Hoje, temos o curso de Farmácia abrindo doutorado. Que coisa boa!”, comemorou.

Estruturar os laboratórios foi outra superação para a comunidade acadêmica. Enquanto esteve à frente da coordenação, professor Luciano Grillo lembra o trabalho para implementação de tais espaços. “Em 2009, não tínhamos laboratórios de aula prática e foi então que montamos o projeto. Com apoio do então reitor Eurico Lobo, foi possível realizar. Isso foi um marco importante no desenvolvimento do curso”, contou.

Outro momento desafiante foi o período da pandemia de covid-19 e coube à professora Sabrina Neves a missão de coordenar o curso naquele momento. “Tivemos que nos reinventar. Os laboratórios do curso de farmácia não pararam e contribuíram no enfrentamento do pandemia”, afirma ela ao citar que também contribuiu com a Prograd [Pró-reitoria de Graduação] nos grupos de trabalho para estruturação do PLE [Período Letivo Excepcional] e da reforma curricular dos cursos de saúde. “Conseguimos vencer muitos desafios, devemos ter orgulho de tudo que foi construído, mas sempre na intenção de avançar cada vez mais e continuar a ser o melhor curso de Farmácia do estado, segundo avaliação do MEC [Ministério da Educação]”, disse ela que ficou à frente da coordenação até 2022.

Impacto na pesquisa e no mercado trabalho

Os desafios enfrentados e as responsabilidades assumidas resultaram em avanços que ratificam a importância do trabalho de toda comunidade. E isso, de acordo com os coordenadores, pode ser demonstrando com os resultados ao longo de mais de duas décadas de existência da graduação. “O curso impactou o mercado de trabalho por ser da Ufal, uma instituição federal que trabalha com ensino, pesquisa e extensão. E a pesquisa é muito forte na Farmácia”, analisou Zenaldo Porfírio.

Luciano Meireles Grillo acrescenta que o início da Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, único na área em Alagoas, fez com que o curso de graduação passasse a ter ainda mais destaque. “Recentemente, foi autorizado o doutorado em Ciências Farmacêuticas. Nossos egressos atuam em todas as esferas, seja privada, municipal, estadual e federal”, salientou. E complementa: “O curso iniciou com apenas três professores, foi evoluindo para 17 e, com isso, foi possível alavancar a estrutura de ensino em nível de graduação e pós-graduação, além da ampla estrutura física que foi alcançada ao longo desses anos. Temos muito a comemorar, mas também a evoluir”, reconheceu.

Sabrina Neves informa que o curso “é um dos poucos a ter laboratórios completos” e que tem “formado profissionais capacitados na área de produção, uma área em que o estado é carente”. Ela também ressalta a existência do Hospital Universitário da Ufal como um diferencial ao possibilitar para os estudantes o estudo na área de farmácia clínica. “Além de formar excelentes profissionais, somos os únicos a realizar pesquisa e desenvolvimento. Cerca de 60% dos professores dos cursos vinculados das faculdades particulares e quase todos os farmacêuticos clínicos são egressos nossos”, relata. Ao falar para os estudantes, a docente destaca as oportunidades que a Universidade oferece e que devem ser aproveitadas. “Vocês, estudantes, são a razão do curso existir, temos o compromisso com a formação de qualidade”, disse.

E é com orgulho que os coordenadores falam dos estudantes e egressos da Farmácia, contando como as turmas sobressaem nas pesquisas, nas colocações em seleções públicas e na iniciativa privada. “Muitos ex-alunos passaram a ensinar na própria Universidade e também em outras unidades de ensino. A Ufal é o berço na formação de profissionais” comenta professor Zenaldo. E recorda: “Das seis primeiras turmas, que são as pioneiras, todos que faziam concurso passavam em primeiro lugar. Se tinham dez vagas, nove eram de egressos da Ufal. Isso é muito importante. Uma conquista e tanto”, relembrou, orgulhoso.

Um dos egressos que voltou não só para lecionar, mas também para coordenar o curso, é José Ruy Machado Reys, já citado em outro momento deste texto. O docente conta que foi aluno da primeira turma, sendo o primeiro a ser matriculado no curso e o primeiro representante estudantil, além de fundador do centro acadêmico. “É uma satisfação imensa estar presente no curso, fazer parte da Ufal. Levo esse legado com orgulho e, hoje, posso contribuir de alguma forma para melhoria da profissão farmacêutica, do estado de Alagoas e do Brasil”, afirmou.

Horizonte de mais conquistas

Antes integrado à Escola de Enfermagem e Farmácia (Esenfar), o curso ganhou ainda mais autonomia com Instituto de Ciências Farmacêuticas (ICF), que surgiu a partir da criação da Escola de Enfermagem (EENF) em 2019. No horizonte, perspectivas de ainda mais trabalho com o curso de doutorado já autorizado e com início da primeira turma em 2024.

Uma série de conquistas que resulta do trabalho contínuo de quem já passou e de quem ainda faz parte da comunidade. À linha histórica dos coordenadores de curso, professor Valter Alvino chegou para somar esforços em 2022. No foco de seu trabalho, entre tantas demandas, atuar para seguir as reformulações do Plano Político Pedagógico (PPP) em atendimento às Diretrizes Curriculares Nacional (DCN).

Atualmente, informa o docente, o curso de Farmácia tem duração de cinco anos e forma um profissional generalista apto para atuar em dez áreas: alimentos, análises clínico laboratoriais; educação; farmácia; farmácia hospitalar e clínica; farmácia industrial; gestão; práticas integrativas e complementares; saúde pública; e toxicologia.

A formação ampliada propiciada pela Ufal resulta em diversas possibilidades de atuação no mercado de trabalho. O professor enumera que, além do Sistema Único de Saúde (SUS), o qual exige a participação do profissional farmacêutico em todos os níveis de atenção e de política de saúde, há as oportunidades no setor privado nas áreas de assistência ao paciente em farmácias, drogarias e hospitais, em laboratórios, distribuidoras de medicamentos e insumos farmacêuticos, em indústrias de alimentos e medicamentos, além das clínicas de estética.

“O maior desafio é garantir que nosso discente receba a formação necessária para desenvolver as competências e habilidades que são propostas na DCN, demandando o envolvimento de muitos professores e que, hoje, temos apenas 17 atuando, tanto nas aulas quanto no campo de estágio”, apontou o coordenador ao indicar também a continuidade de ações para a melhoria na infraestrutura de salas de aulas e laboratórios para aulas práticas.

Nessa trajetória, Alvino destaca a “luta de todos os professores quem fazem parte do ICF” e da Reitoria em busca de resultados. “Estamos prestes a inaugurar a Farmácia Universitária, um sonho iniciado desde a primeira turma que ingressou no curso. Essa é uma conquista não somente para o ICF, mas para toda população, pois iremos poder consolidar o ensino, a pesquisa e a extensão, tornando um estabelecimento de referência dentro do Campus A. C. Simões”, comemorou.

No ano em que se celebra os 25 anos de curso, a mensagem do atual coordenador é a de somar esforços em busca do crescimento da área da Farmácia na Ufal e em Alagoas. “Para nossa comunidade acadêmica, dizemos que, tanto a coordenação do curso quanto a direção do ICF, temos trabalhado bastante pela melhoria e um reflexo é que na última avaliação do Enade [Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes] conseguimos nota 4”. O direcionamento do trabalho, reforça Alvino, é se esforçar “para oferecer ao nosso estado um curso de Farmácia com ensino de qualidade fazendo com que o aluno sinta orgulho de fazer parte dessa história”.