Pesquisadores reafirmam autonomia universitária e transparência de dados

Durante coletiva de imprensa sobre a laguna Mundaú, ressaltou-se a importância de financiamento para os laboratórios

Por Lenilda Luna - jornalista
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A coletiva de imprensa realizada na manhã desta segunda-feira (18), na Sala dos Conselhos da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) teve dois objetivos: apresentar os dados das coletas na laguna Mundaú após o rompimento da mina 18 da Braskem, ocorrido no dia 10 de dezembro, e reafirmar que as pesquisas realizadas pelas equipes dos laboratórios do projeto Laguna Mundaú ocorrem com total transparência e autonomia. Foram apresentados dados das coletas emergenciais mais recentes, realizadas nos dias 2, 7, 10 (dia do evento com a mina) e 11 de dezembro.

Na abertura da coletiva, a pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação, Iraildes Pereira Assunção, destacou que, a partir do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), celebrado pelo Ministério Público Federal (MPF) com a Braskem, em 2020, após comprovação técnica da responsabilidade da empresa no afundamento de cinco bairros de Maceió, a mineradora também foi compelida a direcionar recursos para pesquisas que visassem o monitoramento e avaliação dos impactos socioambientais.

A pró-reitora ressaltou que esses recursos são gerenciados pela Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes), a partir de editais de projetos de pesquisa, com total transparência e prestação de contas. “Os nossos pesquisadores conhecem a laguna Mundaú e a área afetada pela Braskem. Temos o compromisso de investigar em profundidade os danos provocados pela mineração e propor soluções de mitigação e reparo”, garantiu Iraildes Assunção.

Dito isso, os pesquisadores do projeto Laguna Viva, que envolve três laboratórios de pesquisa da Ufal, passaram a apresentar à imprensa local e nacional presente à coletiva, os dados coletados antes e depois do rompimento da mina 18. Estavam presentes Emerson Soares, do Laboratório de Aquicultura e Ecologia Aquática (Laqua); Josué Carinhanha, do Laboratório de Instrumentação e Desenvolvimento em Química Analítica (Linqa); e João Soletti, do Laboratório de Sistema de Separação e Otimização de Processos (Lassop). A coletiva contou ainda com representação do Instituto do Meio-ambiente (IMA), órgão ambiental do Governo de Alagoas, representado por Ana Karine Pimentel.

A principal questão levantada pela imprensa foi se o rompimento da mina 18 alterou significativamente os parâmetros da laguna Mundaú, provocando uma contaminação que pode trazer consequências para a saúde da população. O professor Emerson Soares informou que os parâmetros verificados nas coletas não apresentaram mudanças drásticas que pudessem ser relacionadas ao colapso da mina. “É evidente que precisamos continuar monitorando, porque é a sequência de coletas que vai nos fornecer os dados e a evolução dos parâmetros”, destacou o pesquisador.

O fundamental, no entanto, que foi bastante enfatizado pelos pesquisadores, é que a Laguna Mundaú vem sofrendo um processo de degradação e contaminação grave, ao longo de décadas. “A laguna Mundaú é um depósito de problemas, relacionados aos esgotos lançados nos rios que desembocam ali. Os parâmetros mais alterados tem a ver com coliformes fecais. Outro problema grave são os produtos químicos que são carreados para a laguna. Encontramos Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT), inseticida proibido no Brasil por ser cancerígeno. O que queremos alertar é que a laguna precisa ser recuperada porque essa contaminação é um grave problema de saúde pública”, alertou Emerson.

Outra questão levantada foi a presença de uma espécie exótica de sururu que está prejudicando a atividade de sustento das catadoras do molusco. O professor Josué Carinhanha Caldas, que pesquisa o sururu há mais de 10 anos, ressaltou que já havia detectado a presença dessa espécie invasora. “O sururu branco, encontrado pelos pescadores, pode ter vindo dos mares do Caribe em cascos de navios e foi relatado pelas catadoras de sururu como um espécime que não serve para o consumo”, informou Josué, que, em abril deste ano, concedeu entrevista ao programa Ufal e Sociedade, sobre esse assunto.

O professor João Soletti reafirmou que os pesquisadores da Ufal têm expertise e compromisso com a sociedade em suas pesquisas, e destacou que o fato da empresa ter sido obrigada a financiar pesquisas possibilitou um salto qualitativo para os laboratórios da Ufal. “Eu pesquiso há anos, mas sempre com muitas dificuldades por conta da descontinuidade dos financiamentos. Este ano, graças às parcerias que foram estabelecidas, recebemos equipamentos de ponta, que custam mais de um milhão de reais, que vão nos possibilitar um novo patamar no monitoramento da qualidade da água da laguna”, destacou Soletti,

O pesquisador ressaltou ainda que a finalidade das pesquisas vai muito além da produção acadêmica. “Não são estudos que vão ficar no âmbito da comunidade científica. Nosso principal interesse é oferecer à sociedade informações obtidas com metodologias e rigor científico, que possam fundamentar políticas públicas para recuperação desse importante ecossistema que é a laguna Mundaú”, concluiu o professor.

Assista ao vídeo da coletiva.