Atuação da Expedição Científica atrai pesquisadores estrangeiros

Grupo visitou a Ufal para conhecer de perto os trabalhos realizados no Baixo São Francisco e propor parceria em nova linha de pesquisa
Por Rose Ferreira - jornalista | Fotos: Iara Melo
10/11/2023 19h47 - Atualizado em 14/11/2023 às 10h10
Pesquisadores estrangeiros se reuniram com expedicionários para troca de experiências

Pesquisadores estrangeiros se reuniram com expedicionários para troca de experiências

Com uma bacia hidrográfica de 630.000 km², o Rio São Francisco é o maior rio inteiramente brasileiro e, por isso, é conhecido como o Rio da Integração Nacional, sendo imprescindível para a sobrevivência de milhares de famílias. Mas, ao mesmo tempo que a água parece estar à disposição, na prática, a governança da água é um sistema complexo, que envolve o poder público, setores privados e a sociedade civil. E é justamente essa relação entre os diferentes atores hídricos do Rio São Francisco que despertou o interesse de um grupo de pesquisadores internacionais.

O grupo, composto por dois pesquisadores franceses, um inglês e uma brasileira, visitou a Universidade Federal de Alagoas (Ufal), na última sexta-feira (3), para conhecer e trocar experiências com cientistas da Expedição Científica do Baixo São Francisco que já desenvolvem pesquisas na região, há seis anos, e podem ser importantes parceiros nessa investigação mais direcionada à socioeconomia local. Acompanhe como foi a visita aqui.

“A ideia de conversar e saber mais sobre as Expedições surgiu, principalmente, depois que a gente viu várias matérias, tanto na universidade, como nas próprias redes sociais. E o nosso trabalho lá no estado do Ceará, com o projeto Sertões, é justamente em relação à governança da água, só que tem um formato diferente, porque lá nós não temos rios perenes, como existem por aqui. Mas, quando a transposição começou a ser mais efetivada, a gente começou a buscar compreender melhor a questão, principalmente a partir do Baixo São Francisco. Então, a gente viu que já tinha um trabalho duradouro nessa região e que passava por diversos municípios ribeirinhos, e é justamente o que a gente precisava: entender melhor, unir o conhecimento, compartilhar experiências e concretizar parcerias”, explica Laudemira Rebelo, doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) e bolsista do projeto.

A reunião para apresentação do projeto foi realizada na Sala dos Conselhos Superiores da Ufal e contou com a presença dos professores da Ufal, Emerson Soares, José Vieira e Fernando Coelho; além do analista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em Alagoas, Neison Freire. Na oportunidade, Luke Whaley, doutor em Filosofia pelo Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD - G’EAU/França) e coordenador do projeto; Verônica Mitroi, doutora em Sociologia Ambiental pelo Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad - G’EAU/França); Laudemira Rebelo; e Gabriel Cosson, mestre em Agronomia (Cirad/França), esclareceram dúvidas e registraram de que forma a parceria pode ser mais efetiva para a Ufal.

O objetivo geral do projeto é facilitar o desenvolvimento de modos mais equitativos de governança e de uso da água na bacia do São Francisco. Para isso, os pesquisadores querem explorar como os sistemas de governança emergem e evoluem em situações complexas; examinar as lutas por autoridade e legitimidade, bem como as consequências em termos de justiça e inequalidades socioambientais; e coproduzir ferramentas e estratégias destinadas a uma governança mais sustentável.

Verônica Mitroi trabalha as temáticas de gestão da água e as relações da sociedade com a água e já está no Brasil há dois anos, trabalhando na Funceme. Para ela, foi muito importante conhecer pessoalmente e conversar com parte da equipe da Expedição, para conhecer melhor o programa e tentar articular a nova pesquisa que é mais voltada aos aspectos sociais e gestão da água.

“Estamos mutio interessados na forma como o Rio São Francisco é governado, porque a governança da água toma decisões importantes sobre quem tem acesso à água e quem não tem. E o fato de a água ser tão importante para a vida das pessoas é realmente a chave para entender essas dinâmicas de governança da água e como os meios de subsistência atuam na bacia do São Francisco”, esclarece Luke Whaley, coordenador do projeto.

Para Emerson Soares e José Vieira, coordenadores da Expedição, o momento foi enriquecedor, porque permitiu uma maior atuação e contribuição à ciência no Velho Chico. “Além da contribuição com as pesquisas científicas, apresentamos a proposta de intercâmbio dos nossos estudantes de pós-graduação, porque isso vai fazer um grande diferencial na formação desses alunos e, certamente, influenciará diretamente no desenvolvimento profissional deles”, enfatiza José Vieira, professor do Campus Arapiraca da Ufal.

“Mostramos a nossa experiência e resultados obtidos no Baixo São Francisco, mas também fornecemos referências de instituições parceiras nas outras regiões da bacia, ou seja, no submédio, no médio e no alto São Francisco. Esse projeto é grandioso e complexo, então estamos aqui para unir forças e experiências. Estamos à disposição!”, complementa Soares.

“Esse momento foi muito bom pra gente entender até onde a Expedição chegou, o que está fazendo hoje e o que gostaria de acoplar, como, por exemplo, o olhar social de outros pesquisadores, que têm metodologias diferentes, já percorreram vários lugares do mundo e podem trazer novas contribuições”, avalia Laudemira Rebelo.

Sobre o G’EAU

Por meio de metodologias participativas e territoriais, a Unidade Mista de Pesquisa Gestão da Água, Atores e Territórios (G’EAU) é uma instituição interdisciplinar que reúne as áreas de Hidrologia, Geografia, Ecologia, Ciência Política, Sociologia, Antropologia, dentre outras, em torno de um objeto de pesquisa comum: a água.

Atualmente, a G-EAU agrega 100 pesquisadores e técnicos titulares, 25 pesquisadores associados ou visitantes internacionais e, nos últimos cinco anos, já contribuiu com a formação de 50 alunos de doutorado. É uma Unidade com parceiros internacionais e financiamento de instituições como a Agência Nacional de Pesquisas de França (ANR), Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) etc.

Para saber mais sobre a atuação da Expedição ao longo seus últimos anos, visite a página oficial do programa.