Pesquisa da Ufal monitora branqueamento dos corais na costa alagoana

Estudo vai monitorar as comunidades marinhas dos recifes de Alagoas antes, durante e depois do verão de 2023/2024
Por Thâmara Gonzaga - jornalista
03/10/2023 14h58

Mais do que conferir beleza e uma paisagem única para os oceanos, os recifes de corais são imprescindíveis para o equilíbrio marinho. Entre tantas funções, esses seres vivos servem de viveiros para o nascimento e crescimento de outras espécies. Preservá-los é garantir a sobrevivência de muitos outros animais.

“Se a gente pensar num prédio, os corais são como se fossem os tijolos dos prédios, as vigas. Eles representam a estrutura física desses recifes e servem de abrigo para outras espécies de peixes, de moluscos. Polvos, lagostas e outros organismos vivem nesses recifes. Então, se os corais morrem, compromete-se a saúde do recife e toda uma cadeia será afetada, inclusive, o turismo e a pesca. Afinal, todo mundo quer ver um coral saudável e colorido e não pálido”, esclarece o pesquisador da Ufal, Ricardo Miranda, que vem liderando uma pesquisa, junto ao professor Robson Santos, que monitora o branqueamento de corais no litoral alagoano.

Conhecidos pela resiliência, a existência dos corais vem sendo ameaçada por conta do aquecimento global. De acordo com Miranda, o aumento da temperatura da água do mar têm causado o branqueamento das espécies. “Esse é um fenômeno de estresse dos corais que expulsam algumas algas que vivem nos tecidos deles que, normalmente, ajudam a adquirir os nutrientes através da fotossíntese. Quando a água esquenta, essas algas, essas microalgas, começam a produzir uma substância tóxica e os corais acabam as expulsando de seus tecidos e é quando adquire a coloração esbranquiçada”, explica. E alerta: “O branqueamento dos corais é um dos principais fatores responsáveis pela mortalidade de corais e declínio dos recifes em todo mundo e vem causando aumento da morte de corais dos recifes alagoanos, especialmente nos últimos três anos”.

O pesquisador esclarece que o fenômeno é reversível, mas, para que isso ocorra, é preciso que a temperatura da água do mar se restabeleça ao que ele chama de “níveis de regularidade”. Ocorre que esse restabelecimento, informa, não vem ocorrendo como antes e segue uma tendência global. “Os recifes brasileiros são conhecidos por serem resistentes e resilientes, ou seja, se eles branqueiam, conseguem retornar à saúde adquirindo as microalgas, mas isso vem mudando, especialmente, nos últimos anos na costa de Alagoas”, diz.

E continua: “Os corais vêm morrendo porque esses picos de temperatura, essas ondas de calor têm ficado cada vez mais frequentes e intensas. Os intervalos entre as ondas de calor têm sido menores e as médias das temperaturas estão cada vez maiores. Então, com isso, os corais brasileiros, especialmente, os corais de Alagoas, vêm morrendo a taxas maiores do que eram registradas para os últimos 30 anos”.

Monitorar para compreender o fenômeno

Sob a coordenação dos docentes pesquisadores Robson Santos e Ricardo Miranda, com a participação de outros professores parceiros e estudantes de pós-graduação, a Ufal lidera uma expedição para monitorar os recifes situados na APA Costa dos Corais, focando na área de proteção que corresponde ao litoral alagoano, incluindo Maragogi e a capital Maceió.

“O projeto irá monitorar as comunidades marinhas dos recifes de Alagoas antes, nos meses de setembro a novembro 2023, durante e depois do verão de 2023/2024 quando está previsto para ocorrer o episódio climático do El Niño, o qual eleva as médias da temperatura da água do mar, podendo causar um grande evento de branqueamento dos corais nos ecossistemas recifais da costa alagoana”, informam os pesquisadores.

A previsão das instituições internacionais de monitoramento climático, avisa os pesquisadores, é de que no verão deste ano haja um aumento elevado e intenso das médias das temperaturas da água do mar e que isso acendeu um alerta do risco para a ocorrência do fenômeno do branqueamento.

“Esse projeto vai acompanhar toda a resposta dos corais antes, durante e depois desse pico de temperatura que é aguardado para o verão deste ano. Vamos acompanhar e comparar essas áreas protegidas e não protegidas da costa de Alagoas para ver qual vai ser a resposta dessas espécies de corais e peixes nesses recifes”, informa Ricardo Miranda.

As atividades da pesquisa já foram iniciadas. Entre os dias 11 e 15 de setembro, os pesquisadores da Ufal, do Laboratório de Biologia Marinha e Conservação (Lamarc) associados ao Programa de Pós-graduação em Diversidade Biológica e Conservação dos Trópicos, realizaram expedição de campo na APA Costa dos Corais. Coleta de dados, monitoramento da temperatura da água, por meio da instalação de sensores térmicos, e das espécies marinhas dos recifes, usando fotografia subaquática dos corais em alta resolução, além de censos visuais para estimativas das populações de espécies de peixes que vivem nesses ambientes e mapeamento da complexidade estrutural do recife usando sonda digital, foram algumas das ações já realizadas.

“A estrutura física do substrato dos recifes também está sendo mapeada com uma sonda de rugosidade digital para entender como o habitat físico pode ser alterado com possíveis mortes dos corais após o branqueamento. Esse projeto irá permitir avaliar as consequências das mudanças climáticas sobre a saúde dos ecossistemas recifais que oferecem alimento e renda para pessoas por meio da pesca e do turismo”, apontam os responsáveis pelo estudo.

A missão científica é vinculada ao projeto que avalia o papel das áreas marinhas protegidas na conservação da saúde de espécies de corais e peixes da costa Alagoana frente aos impactos das ondas de calor consequências das mudanças climáticas. Novas expedições de campo do projeto estão previstas para os próximos meses. O projeto é financiado pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e conta com a parceria do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD) Costa dos Corais.