Pesquisa vai avaliar sistema agrofotovoltaico em plantação de cana-de-açúcar

Estudo é realizado em parceria com usina de Alagoas e tem como foco a segurança energética
Por Thâmara Gonzaga - jornalista
03/06/2022 11h04
sistema agrofotovoltaico na plantação da cana-de-açúcar

sistema agrofotovoltaico na plantação da cana-de-açúcar

Enquanto a plantação da cana-de-açúcar se desenvolve, no mesmo local, compartilhando o espaço, placas captam os raios do sol para geração de energia. A viabilidade desse modo de produção, conhecido como sistema agrofotovoltaico, nas lavouras do principal produto agrícola de Alagoas é objeto de pesquisa no Campus de Engenharias e Ciências Agrárias (Ceca) da Ufal.

Com as mudanças climáticas e as consequentes crises no setor elétrico, elevando o custo da energia, as placas solares estão se tornando cada vez mais comum nos telhados de empresas e residências. Nas grandes propriedades agrícolas, a busca por essa alternativa também tem crescido, porém um dos entraves é o planejamento para alocar as placas sem perder terreno para o plantio e sem prejudicar a produção vegetal.

E é nesse ponto que entra o estudo que vem sendo realizado por professores do curso de Engenharia de Energia, com a coordenação do docente Ricardo Araújo: “A pesquisa objetiva avaliar o desempenho da cana-de-açúcar cultivada em associação a um sistema fotovoltaico, visando a um melhor entendimento e determinação da eficiência do uso da terra nessa condição”, explica Araújo.

Engenheiro agrônomo e com doutorado em energia da agricultura, Ricardo destaca que  “expansão da geração de energia fotovoltaica (FV) é essencial para mitigar as mudanças climáticas”, mas que, como no caso das grandes lavouras, acabam precisando de extensas áreas e isso, continua ele, “gera competição por terras impulsionadas pelo crescimento populacional e pela crescente demanda por alimentos”.

“Os sistemas agrofotovoltaicos, que integram produção agrícola para produção de alimentos ou de biomassa para outros fins e a geração de energia fotovoltaica (energia renovável), oferecem uma solução potencial para o problema da economia da terra”, defende o pesquisador.

A pesquisa da Ufal leva em consideração a realidade estadual e é realizada em parceria com a Usina Santa Clotilde, situada no município de Rio Largo. É nessa propriedade que serão analisadas a viabilidade desse modo de produção. Segundo o pesquisador, as atividades do Sistema Agrofotovoltaico no local iniciaram em dezembro. A instalação das estruturas metálicas, que darão suporte aos painéis, possuem oito metros de altura e já foram concluídas. Falta finalizar as instalações dos painéis fotovoltaicos. As chuvas recentes estão dificultando a conclusão dessa última etapa.

Ao explicar os objetivos da pesquisa, ele relata que a tecnologia fotovoltaica já é reconhecidamente rentável quando aplicada, de forma isolada, em uma usina ou em vários projetos comerciais. No entanto, “a eficiência e o impacto quando associados à produção agrícola foram poucos investigados, principalmente, com a cultura da cana-de-açúcar”. Segundo Ricardo, “alterações micrometeorológicas, impactos na produtividade de biomassa, modificações no manejo da área, fundação e estrutura de elevação do FV e riscos associados são algumas das variáveis que ainda precisam de investigações”.

Cana-de-açúcar

Referência em pesquisas e no lançamento de novas variedades de cana-de-açúcar, os estudos realizados no Ceca da Ufal também são voltados às demais variantes que interferem na produção. E a questão energética tem ganhado destaque pela necessidade de matrizes sustentáveis.

“A geração de eletricidade por fontes renováveis traz benefício global, uma vez que o Planeta está em uma crise de mudanças climáticas já comprovada devido às emissões de gases de efeito estufa, principalmente, o CO2”, argumenta Ricardo Araújo.

A produção agrícola de Alagoas ainda é caracterizada pelo predomínio da plantação da cana-de-açúcar. Por isso, a relevância da pesquisa destinada a encontrar alternativas energéticas sustentáveis para esse setor produtivo.

Ao apontar os benefícios do sistema avaliado pelo estudo, Ricardo Araújo argumenta que “os agricultores terão a possibilidade de, na mesma área, ter uma geração de eletricidade e a produção de alimentos, aproveitando melhor a sua área e aumentando a sua rentabilidade, além de, numa forma geral, melhorar a segurança energética no estado de Alagoas”.

Com o título Sistema Agrofotovoltaico em Alagoas: uma integração cana-de-açúcar e geração de energia fotovoltaica, a pesquisa é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas (Fapeal). De acordo com o pesquisador, durante as etapas, também serão avaliadas as estruturas metálicas, determinando a melhor densidade de painéis fotovoltaicos para compartilhar a área com o cultivo da cana-de-açúcar, e o estado fitossanitário das plantas no novo microambiente gerado.

Para saber mais, acesse:

Projeto Agrofotovoltaico (Versão 01) - CECA/UFAL

Projeto Agrofotovoltaico (Versão 02) - CECA/UFAL