Pesquisa investiga potencial do extrato do quiabo no tratamento contra o câncer

Estudo recebeu menção honrosa do 54º Congresso da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental
Por Thâmara Gonzaga - jornalista
27/12/2022 09h53
Parte da equipe executando o experimento, professora Jamylle Julianderson, Everlaine (sentada de touca) e  juliane Silva (próximo ao microscópio)

Parte da equipe executando o experimento, professora Jamylle Julianderson, Everlaine (sentada de touca) e juliane Silva (próximo ao microscópio)

Um estudo realizado na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) recebeu menção honrosa na seção Cancer Pharmacology, durante o 54º Congresso da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental. O trabalho premiado tem como título “Extrato aquoso obtido de Abelmoschus esculentus (L.) Moench possui efeito antitumoral no modelo murino de tumor de Ehrlich ascítico”.

Quem recebeu a premiação foi a estudante de Ciências Biológicas, Everlaine Leite Estevam dos Santos. Além dela, assinam o artigo Tayhana Priscila Medeiros Souza, Julianderson de Oliveira dos Santos Carmo, James Henrique Almeida, José Yago Rodrigues Silva, Severino Alves Júnior e Jamylle Nunes de Souza Ferro. 

Everlaine é discente de iniciação científica e desenvolve atividades no Laboratório de Biologia Celular (LBC) sob orientação da docente do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) da Ufal, Jamylle Ferro. “Esse projeto foi possibilitado devido à padronização de um protocolo de ensaios não clínicos que permite avaliar o efeito de substâncias obtidas de produtos naturais, ou isoladas destes produtos e também nanotecnológicos, em reduzir o crescimento de um tumor em estudos in vivo”, explica a pesquisadora Jamylle. E continua: “Neste projeto em específico, buscamos ampliar os estudos sobre o efeito antitumoral da espécie Albemoluschus esculentus, conhecida como quiabo. Então, estudamos como o extrato obtido a partir da chamada ‘baba’ do quiabo exerce seus efeitos antitumorais”.

A docente conta que já há dados disponíveis na literatura mostrando que extratos obtidos a partir do quiabo possuem efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e antiproliferativos. “Nosso trabalho contribui avançando nas informações sobre o efeito antitumoral desta espécie em um modelo experimental murino. Mais ensaios precisam ser realizados e estamos estruturando o artigo, destacando o efeito do extrato em reduzir o crescimento do tumor, aumentar a taxa de sobrevivência, e alguns alvos envolvidos em mostrar como o extrato faz seu efeito”, informa. 

Com elevadas taxas de incidência e de mortalidade em todo o mundo, são grandes as expectativas em torno de qualquer possibilidade de cura para o câncer. Jamylle destaca que, mesmo com os avanços e com a diversidade de tratamentos disponíveis, “a combinação do uso de quimioterápicos isoladamente ou com outras abordagens de tratamento continua sendo a mais utilizada, obtendo bons resultados na grande maioria dos casos, em especial, com o diagnóstico precoce”. 

Ao falar sobre as esperanças de tratamento que a pesquisa realizada na Ufal pode apontar, a docente e a estudante Everlaine Leite ressaltam a importância da continuidade das investigações e lembra que a “literatura tem mostrado que cerca de 60% dos medicamentos atualmente utilizados para o tratamento do câncer foram desenvolvidos a partir de moléculas encontradas na natureza, ressaltando a importância das pesquisas científicas no tema”. 

As pesquisadoras falam ainda que a resistência que muitos pacientes demonstram aos quimioterápicos também deve ser considerada na busca de novos medicamentos para o tratamento do câncer. “Nossa pesquisa busca contribuir neste ponto, encontrando nas plantas medicinais substâncias que possam ajudar no tratamento, com boa eficácia e baixos efeitos colaterais”, esclarece as pesquisadoras ao defenderem a necessidade de mais investimentos para continuar a desenvolver os trabalhos, as colaborações e a formação dos estudantes. 

Um trabalho e muitas parcerias 

O trabalho reconhecido durante o 54º Congresso da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental, realizado em outubro deste ano, é fruto de uma parceria exitosa coordenada na Ufal pela professora Jamylle Ferro em parceria com o professor Severino Alves Júnior, do Laboratório de Terras Raras (BSTR) do Departamento de Química Fundamental (DQF) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

O estudo também conta com a participação do docente José Yago Rodrigues, também vinculado ao DQF-UFPE.

Os projetos realizados nesta temática na Ufal contam ainda com a colaboração imprescindível da professora Ivone Antônia de Souza, do Departamento de Antibióticos da UFPE. “Ela, gentilmente, nos doou a matriz tumoral. Contamos também com a colaboração com a recém-doutora Tayhana Medeiros e dos professores Emiliano Barreto e Renato Rodarte, ambos do ICBS,  da técnica Juliane Barreto e de muitos outros pesquisadores do Laboratório de Biologia Celular do ICBS-Ufal”, agradece a professora Jamylle. 

O trabalho premiado é resultado das atividades da linha de pesquisa Imunofarmacologia do Câncer. Nessa área de concentração, informa Jamylle, avalia-se o “potencial antitumoral de substâncias puras, de materiais obtidos a partir de produtos naturais e nanotecnológicos, e busca agregar conhecimento ao que se sabe sobre as propriedades farmacológicas dos materiais testados, neste caso, o extrato obtido a partir do quiabo”. 

Ela ressalta que “mais estudos são necessários para compreender como o extrato está agindo e sobre a segurança desse material, mas que os resultados já obtidos mostram que estamos caminhando, contribuindo com a geração de conhecimento e a formação de recursos humanos capacitados e comprometidos com a Ciência”.

A docente destaca que é uma pesquisa feita com a participação de vários pesquisadores e “que toda essa parceria tem permitido a realização de outros projetos”. “Aproveitamos para agradecer ao apoio institucional, aos nossos colaboradores e a todos do Laboratório de Biologia Celular do ICBS-Ufal e do BSTR-UFPE envolvidos na realização dos nossos estudos”, diz Jamylle. 

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