Expedição Científica do Baixo São Francisco faz balanço geral da quinta edição

Os números de amostras coletadas para análise e ações realizadas já superam os das edições anteriores
Por Rose Ferreira - jornalista | Fotos: Edson Oliveira
18/11/2022 20h07 - Atualizado em 25/11/2022 às 20h22
Atuação do projeto Academia e Futebol durante a Expedição, em Pão de Açúcar

Atuação do projeto Academia e Futebol durante a Expedição, em Pão de Açúcar

O que pode ser feito em 10 dias? Alguns podem achar que é pouco tempo, mas a determinação e a dedicação a um propósito são capazes de elevar a produtividade e os resultados obtidos. É assim com a Expedição Científica do Baixo São Francisco, realizada de 3 a 12 de novembro, com 66 pesquisadores de todo o Brasil a bordo, levando esperança, ciência, educação e saúde ao povo ribeirinho. 

Com três embarcações - Magnífica, Maravilhosa e Indiana (mais conhecida como barco da saúde) -, a 5ª Expedição percorreu 250km, passando pelas cidades alagoanas de Piranhas, Pão de Açúcar, Traipu, São Brás, Igreja Nova, Penedo e Piaçabuçu e pelos municípios sergipanos de Gararu, Propriá e Brejo Grande. Em cada parada, as mesmas ações: coletas de material para análise de diversas áreas de pesquisa, como água, solo, peixes, fitoplâncton e flora; ações de saúde bucal e saúde pública, com consultas médicas e exames laboratoriais; educação ambiental, por meio de palestras, material didático e distribuição de Pontos de Entrega Voluntária (PEV); doações de microtratores e implementos a associações com certificação orgânica; entrega de computadores, caixas de som e projetores multimídia a escolas públicas que têm dedicado tempo e esforços à temática ambiental; e visitas a comunidades tradicionais indígenas, quilombolas e colônias de pescadores. 

“A 5ª Expedição não acabou no dia 12 de novembro, ela só deu um break pras pessoas respirarem e poderem reverberar tudo o que aconteceu, tratar todos os dados. Uma expedição não se faz em 10 dias, somente com investidores ou poucas cabeças pensantes. A Expedição só se faz com trabalho coletivo, planejamento, perenidade e dedicação. E, aqui, queremos destacar todas as instituições que fazem esse programa acontecer, porque elas entendem que o território do Baixo São Francisco é importantíssimo para a nação brasileira e reconhecem o quanto essa região foi relegada nas últimas centenas de anos. Então o que temos é uma junção de competências institucionais com as melhores competências técnicas, as melhores cabeças e os melhores corações, pra resgatar aquilo que o Velho Chico nos entregou lá atrás”, destacou o reitor da Ufal Josealdo Tonholo, na cerimônia de encerramento da Expedição, no Teatro Sete de Setembro, em Penedo-AL. 

“A gente está cansado, mas está feliz, porque concluiu mais uma etapa com sucesso, com êxito. E eu acredito que essa 5ª expedição ficou na memória das pessoas. Os dados da maior expedição científica do Brasil falam por si só e as publicações que já temos e parceiros envolvidos atestam o nosso trabalho. Nós só temos a agradecer o apoio de cada investidor e a dedicação de todos os envolvidos!”, declarou Emerson Soares, coordenador-geral das expedições científicas. 

Ciência 

Este ano, a cidade de Pão de Açúcar sediou uma ação inédita: a defesa da primeira dissertação no âmbito da Expedição, pelo Programa de Pós-graduação em Propriedade Intelectual e Trnasferência de Tecnologia para Inovação (Profnit), da Ufal. Sob a orientação dos professores Tatiane Balliano, do Instituto de Química (IQB) da Ufal, e Alexandre Guimarães Vasconcellos, do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), a mestranda Camila Lacerda realizou um estudo sobre a viabilidade da indicação geográfica do bordado Boa Noite produzido na Ilha do Ferro, no sertão de Alagoas. A defesa foi um marco para o desenvolvimento da região, já que o projeto foi demandado pela Secretaria de Administração de Pão de Açúcar. 

Nas 35 áreas de pesquisa envolvidas, foram coletadas, ao todo, cerca de 1.500 amostras, que já estão sendo processadas para avaliar Teor de Óleos e Graxas (TOG), pesticidas, qualidade da água em mais de 30 parâmetros, presença de microplásticos, histopatologia, enzimas, genotoxicidade etc. E, como forma de viabilizar a continuidade da pesca artesanal e monitorar o pescado, foi realizado o peixamento de 100 mil alevinos, de seis espécies. Desses, 300 xiras e piaus - espécies nativas do Baixo São Francisco - receberam nanochips, em um projeto-piloto do pós-doutorado da professora Jucilene Cavali, que será desenvolvido junto ao Laboratório de Aquicultura (Laqua) da Ufal. 

A chamada “equipe terra” também apresentou um excelente desempenho: na área da Agroecologia, a graduanda Gabriela Cota registrou a ocorrência de cerca de 40 espécies de Plantas Alimentícias Não-convencionais (Pancs), com amostragem de cerca de 25 para identificação posterior; a equipe do Laboratório de Cartografia e Geoprocessamento da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) analisou seis sub-bacias e obteve amostras de mais de 400 indivíduos arbóreos; e os pesquisadores da Arqueologia Subaquática, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), visitaram quatro sítios arqueológicos e descobriram um novo, na Foz do São Francisco. 

Educação

Nesta edição, as meninas ribeirinhas, entre 6 e 17 anos, também receberam uma atenção especial, por meio do projeto Academia e Futebol, do Instituto de Educação Física e Esporte (Iefe) da Ufal. A equipe composta por professores e alunos do curso de Educação Física promoveram ações recreativas de promoção do futebol feminino, com vistas à introdução de talentos em clubes de futebol. Ao todo, 389 crianças e jovens foram atendidos nos sete municípios alagoanos contemplados, já que o projeto é de âmbito estadual. “Durante a Expedição, também identificamos agentes sociais, pessoas que já trabalham com futebol nos municípios alagoanos, a fim de dar suporte, profissionalizar e fazer formação”, esclarece o professor Gustavo Araújo, coordenador do projeto.

Este ano, as já tradicionais ações de educação ambiental foram mais abrangentes e envolveram diferentes faixas etárias. As crianças mergulharam no fundo do mar, conheceram a vida marinha e aprenderam sobre a preservação dos ambientes aquáticos, através do Oceanário do Sesc do Distrito Federal, uma estrutura inflável com projeção multimídia que, ao longo da Expedição, recebeu duas mil visitas. Nas escolas visitadas ou nos ginásios poliesportivos, o público também aprendeu sobre meio ambiente e preservação com plantio de mudas e atividades lúdicas desenvolvidas pela equipe da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas (Semarh-AL) e através das cartilhas educativas sobre plásticos, manejo de pescado e arqueologia subaquática. 

A possibilidade de transformar lixo orgânico em gás metano, através de um biodigestor, atraiu jovens e adultos. O protótipo, que já chama atenção pelo tamanho, foi desenvolvido pelo professor Eduardo Lucena, do Centro de Tecnologia da Ufal, em um projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) e é uma alternativa de baixo custo e alto impacto ambiental. 

Saúde

Cerca de 500 crianças foram avaliadas em relação à saúde bucal e 700 kits com escova e creme dental foram distribuídos nos dez municípios visitados pela Expedição. As intervenções foram realizadas em parceria com as Coordenações Municipais de Saúde Bucal, à exceção de Penedo e Brejo Grande, para acompanhamento posterior. 

A população do Baixo São Francisco também foi assistida com consultas médicas e realização de exames. Os números apresentados pela equipe multiprofissional de médicos, biólogos, farmacêuticos, biomédicos e enfermeiros, coordenados pela professora Eliane Cavalcanti, impressionam: 6 mil exames realizados, 500 pacientes triados, 110 consultas médicas realizadas e 45 pessoas com complexidades encaminhadas ao Hospital Universitário para tratamento.

“Nossa missão foi levar a cura onde houvesse doença e transformar a vida das pessoas, e essa transformação só é possível porque existem vários braços trabalhando nos bastidores, pessoas que deixam suas vidas pra viver esse sonho com a gente: pesquisadores, motoristas, pescadores, tripulação e estagiários. A gente que vivencia a saúde no Brasil sabe o quanto a realidade é dura e cruel, mas a Expedição também vem para mudar essa realidade. E aqui eu quero fazer um agradecimento muito especial a toda a equipe do barco da saúde, porque sem vocês não seria possível fazer tudo que fizemos nesses dez dias. Sonho que se sonha só é só um sonho, mas quando se sonha junto é realidade”, declarou emocionada a vice-reitora da Ufal Eliane Cavalcanti. 

As Expedições Científicas do Baixo São Francisco são uma realização da Ufal, por meio do investimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), da Semarh-AL e da Fapeal; e do apoio da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes), Agência Peixe Vivo, Tanto Expresso, ICMBio, Emater-AL, Hanna Instruments, Colgate, Rotary Club Arapiraca, Triunfo Pedras, Grupo Coringa, Andrade Distribuidor LTDA e das seguintes instituições de pesquisa: UFRPE, UFBA, Unir, UFPB, UFS, INPI, UEFS e do IEAPM. 

Para mais informações sobre a Expedição, siga o perfil @expedicao_saofrancisco no Instagram e acesse a página no portal da Ufal.