Fotos e relatos ilustram histórias de mulheres cis e trans na pandemia

Projeto da Ufal incentiva a reflexão sobre as desigualdades de gênero e classe no uso e função dos espaços da cidade
Por Manuella Soares - jornalista
23/09/2020 14h05

“Exaustão define meu cotidiano”! “O sentimento era de caos total!” As frases são de mulheres da comunidade acadêmica da Ufal que relataram para um grupo de pesquisadoras como estão atravessando o período de pandemia. “Tive dias de esperança, dias de tristeza, dias de desespero, dias de calma e dias de muita faxina”, descreve uma delas sobre a mistura de sentimentos compartilhada por muitas pessoas. E foi olhando para a experiência do próprio grupo, onde cada uma das pesquisadoras foi impactada de forma diferente, que surgiu a ideia de lançar uma mostra fotográfica.

Mulheres nas universidades: retratos em tempos de pandemia intitula a iniciativa do grupo de pesquisa Interseções entre Design e Ambiente Construído (Idea), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Ufal (FAU). O Trabalho é organizado pelas professoras Eva Rolim Miranda, Angela Nolasco, Thaisa Sampaio, Diana Helene  e Flávia Araújo, com apoio das estudantes Líriz Rocha e Amanda Castelo Branco. Elas convidam mulheres cis e trans a enviarem fotos e relatos para o e-mail gp.idea@fau.ufal.br e, semanalmente, até dezembro, as histórias serão publicadas no Instagram @gp.idea.

“O desejo é de levantar discussões, baseadas nos relatos das participantes e imagens acerca desta nova rotina que se estabeleceu desde o início da pandemia em duas frentes. A primeira é a de discutir sobre as desigualdades sociais amplificadas pela pandemia. O segundo vem do fato de que o lar acumulou funções e atividades humanas que pertenciam a outros espaços, tais como a escola, o local de trabalho, as instituições e espaços comerciais”, destaca a professora Eva.

Segundo a docente, o grupo quer mostrar, mesmo que de forma anônima, preservando a identidade das participantes do projeto, como o confinamento e o distanciamento social adotado para preservar a saúde das pessoas acentuaram desigualdades que são estruturais e atingem gêneros, raças e classes de maneiras distintas.

“Parte-se da compreensão de que a cidade contemporânea não é vivida e acessada da mesma maneira por homens e mulheres - cis e trans, brancos e não-brancos, hetero e homoafetivos. O confinamento traz à tona questões teóricas sobre a estrutura, uso e função destes espaços que podem ser pensados a partir das interseções entre Design, Arquitetura e Urbanismo”, reforça.

Enquanto “papel de trabalho, migalha de arroz e roupinha de boneca se acumulam no chão”, como relatou uma participante da mostra, muitos lares serão escolas e escritórios, em vários ambientes da casa. E esses momentos poderão ser registrados e enviados para ilustrar a jornada diária das mulheres que formam a comunidade acadêmica, sejam docentes, estudantes, técnicas ou terceirizadas.

“O uso da fotografia vai além do registro do cotidiano destas mulheres, mas diz sobre ela sob seu próprio olhar; interpretando uma realidade, seja pelo enquadramento, pela decupagem, pela captura da luz, seja, enfim, pelo uso de filtros e recursos gráficos que refletem suas realidades”, comentou Eva, incentivando a participação das cis e trans que desejam compartilhar esses olhares.  

Para conferir a exposição, clique aqui