Pesquisa revela material mais eficiente para exames de imagem

Pesquisadores da Ufal apresentam nanopartículas superluminiscentes de alta resolução com dosagens menores
Por Manuella Soares - jornalista
18/06/2020 08h48

Ciência com inovação e reconhecimento. É o que fazem os pesquisadores da Ufal que tiveram um trabalho recém-publicado na revista Nature Communications, um dos mais importantes periódicos associados à alta qualidade e padrão dos resultados das pesquisas científicas divulgadas. O trabalho apresenta o surgimento de uma nova geração de nanopartícula de sulfeto de prata, denominadas de Ag2S, caracterizadas por um super brilho que auxilia nos exames de diagnóstico por imagem.

Autor da publicação, Harrison David Assis Santos, que iniciou os estudos ainda durante o doutorado do Instituto de Física da Ufal (IF), explica que as nanopartículas superbrilhantes são importantes também porque as técnicas de bioimagens podem utilizar sondas não tóxicas e menos prejudiciais ao organismo.

“A técnica de raio X, utilizada para obter imagens do sistema cardiovascular, é um tanto prejudicial, visto que se utiliza de radiação ionizante. Em nosso trabalho, demonstramos através de experimentos em modelos animais pequenos – camundongos - o potencial dessas nanopartículas ao obter imagens em tempo real e com alta resolução do sistema cardiovascular, utilizando mínimas condições possíveis como: Sistema de detecção simples e de baixo custo, doses de concentração de agentes fluorescentes e intensidade da fonte de excitação extremamente baixas, demonstrando em nível pré-clínico ser uma técnica extremamente segura e eficiente”, pontua Harrison.

A pesquisa contou com a colaboração do Grupo de Nano-Fotônica e Imagens (GNFI/IF/Ufal), liderado pelo professor Carlos Jacinto, que foi orientador de Harrisson; dentre outros como  Fluorescence Imaging Group, da Universidad Autónoma de Madrid (UAM-Espanha), liderado pelo professor Daniel Jaque, orientador de Harrisson na cotutela, e o Grupo de Nanobiologia da Universidad Computense de Madrid (UCM).

A proposta de obter materiais superluminiscentes para dar maior precisão por meio de agentes de contrastes injetados em pacientes durante cirurgias e exames médicos foi alcançada na pesquisa. Agora, Harrison adianta que os resultados vão aprimorar as técnicas de imageamento fluorescente, uma vez que os nanocristais de Ag2S com brilho muito inferior já são aplicados em procedimentos transcranianos, terapia fototérmica, diagnóstico de tumores e doenças cardiovasculares.

“A translação para o nível clínico teve um avanço notável, possibilitando nos próximos anos o desenvolvimento de novas técnicas de imagens mais rápidas, seguras e baratas”, ressaltam os pesquisadores com entusiasmo.  E Harrison acrescenta, esclarecendo os resultados feitos nos testes em camundongos: “Ensaios pré-clinicos em animais maiores ainda precisam ser realizados, principalmente no que se refere à toxicidade do material, visto que quanto maior o modelo animal, maior serão as doses necessárias para monitoramentos via fluorescência”.

Despontando a Ufal

As pesquisas desenvolvidas por Harrison Santos sempre tiveram reconhecimento e apoio de órgãos de fomento, ratificando a excelência dos estudos. A tese de doutorado pelo IF em cotutela com a Universidad Autónoma de Madrid, sob supervisão dos professores Carlos Jacinto (UFAL) e Daniel Jaque (UAM), foi realizada com incentivo financeiro do CNPq.

Os estudos renderam diversas publicações em revistas internacionais de prestígio. Atualmente, Harrison faz pós-doutorado pela Ufal e a pesquisa cujos resultados foram publicados na Nature Communications foi financiada também pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por meio do Programa PDSE-Capes.

“O alcance de exposição através de um periódico como a Nature é fundamental para uma ampla divulgação do nosso trabalho, demonstrando que, apesar de nos últimos anos estarmos sofrendo fortes cortes de recursos, a pesquisa brasileira ainda resiste e reporta para a sociedade resultados sem precedentes”, comemora e reflete: “O reconhecimento e a sensação de conquista do nosso trabalho vão além de métricas, visto que nosso principal objetivo é uma contribuição relevante ao domínio público da ciência e da sociedade como um todo, ou seja, que tais pesquisas favoreçam a sociedade em geral de forma mais direta possível”.

O acesso ao texto completo do artigo é aberto e está disponível aqui.