Força-tarefa divulga laudo sobre contaminação por óleo em pescados no litoral alagoano

Documento também apresenta a quarta avaliação sobre a qualidade da água
Por Izadora García - relações públicas
05/02/2020 12h31 - Atualizado em 05/02/2020 às 14h24
Equipe se reuniu para discutir a divulgação do laudo e próximas ações da força-tarefa. Fotos: Pedro Ivon

Equipe se reuniu para discutir a divulgação do laudo e próximas ações da força-tarefa. Fotos: Pedro Ivon

A Força-tarefa de Monitoramento do Óleo no Litoral Alagoano divulgou laudo sobre impactos dos poluentes no pescado local e os resultados da quarta análise da água realizada pelo grupo, na tarde desta terça-feira (4). O documento é resultado de uma parceria entre pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e a Universidade Federal de Sergipe (UFS), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal). 

A análise dos pescados foi realizada para identificar a possível contaminação de animais que são consumidos rotineiramente pela população. Para isso, em dezembro de 2019, os pesquisadores coletaram exemplares de bivalves e de duas espécies de peixes em seis diferentes pontos do litoral alagoano. A partir destas amostras, a presença de metais pesados e componentes do óleo nos pescados foi investigada. 

De acordo com Emerson Soares, integrante da força-tarefa e coordenador do Laboratório de Aquicultura e Análise de Água (Laqua), foram analisadas duas espécies de peixe: o Sargo (Archosargus probatocephalus) e a Carapeba (Eugerres brasilianus). Este último, utilizado como um bioindicador de impacto por ser um organismo capaz de indicar alterações ambientais precocemente.  

O laudo atesta que foram encontrados traços de contaminação em espécimes de massunim coletados em Piaçabuçu, Feliz Deserto e na região limítrofe entre os dois municípios. Já os exemplares de Carapeba e Sargo em Japaratinga, Ipioca e Coruripe não apresentaram resquícios de óleo ou metais pesados. O acometimento dos bivalves, como ostras e massunins, já era esperado pelos pesquisadores, uma vez que esses organismos são filtradores do ambiente. 

Para Emerson, os resultados refletem a realidade da contaminação naquele momento, o que não significa que os pescados ainda estejam impróprios para o consumo humano. “Essas são amostras pontuais, que foram coletadas no auge do problema, em regiões muito afetadas, em locais onde era possível ver, a olho nu, que havia grande contaminação na areia, com alta mortandade de bivalves.  Não dá para generalizar que, no momento presente, estão todos contaminados, continuaremos com o monitoramento”, explicou o pesquisador. 

Ainda de acordo com o laudo, houve melhora na qualidade das amostras de água. Para os pesquisadores, o resultado é um reflexo da redução da quantidade de fragmentos sólidos de óleo na costa. Os achados indicam, ainda, que contaminação da água não é decorrente apenas do vazamento de óleo, mas também de outros poluentes, gerados a partir da destinação incorreta de esgoto e de agrotóxicos, por exemplo. 

A equipe de pesquisadores continuará realizando avaliações e emitindo laudos técnicos pelos próximos dois anos. A proposta é de monitorar dez praias, sendo cinco no litoral norte e outras cinco, no sul. “O problema foi extremamente grave e, portanto, exige uma avaliação constante para atestar a melhoria nas condições e a eficácia das medidas de biorremediação”,  afirmou Emerson.

A força-tarefa

Desde outubro de 2019, os pesquisadores tentam determinar não apenas a origem e composição do óleo, mas também que destino dar ao material contaminado, os impactos no ecossistema e na economia do estado, além de formas eficazes de realizar a biorremediação dos danos. 

Até o momento, além da coleta de água, areia e espécimes animais, foram realizados seis mergulhos para detectar a presença de poluentes abaixo da superfície marinha. A partir das amostras, os pesquisadores podem avaliar parâmetros físico-químicos, a presença de metais pesados e de ácidos graxos, para confirmar a contaminação das regiões afetadas. 

“Chegamos a esses resultados e continuaremos a monitorar a situação, a propor soluções. Nós tínhamos certa estrutura e toda a capacidade intelectual para fazer a leitura dos dados, que é o que eu considero o mais importante”, avaliou Marília Goulart, coordenadora do projeto de monitoramento do óleo, financiado pela Fapeal.

Uma parte do grupo de pesquisadores se reuniu, na manhã de ontem (4), para discutir a apresentação do laudo e traçar a metodologia para as próximas ações da força-tarefa. No encontro, estiveram presentes os professores João Inácio Soletti (Ctec), Sandra Helena Vieira (Ctec), Marília Goulart (IQB), Renato Gaban (ICBS), Emerson Soares (Ceca), Dayana Gusmão (Ctec) e Mozart Daltro (Ctec). 

O próximo passo é a busca de alternativas  em torno da da biorremediação das áreas e da destinação ao material recolhido. “Estamos estudando a melhor forma de uso. Atualmente, os resíduos estão ocupando uma área do aterro sanitário que não foi destinada para isso, apesar de ser um único aterro qualificado para esse fim. A ideia é dar um uso mais nobre para o material”, finalizou Sandra Helena Vieira, pesquisadora do Centro de Tecnologia (Ctec) e integrante da força-tarefa.