Pesquisa na Ufal constata ação antioxidante e anti-inflamatória da Cúrcuma em doença intestinal

Estudo com foco em Colite Ulcerativa Idiopática (CUI)) também constatou a eficácia da planta em outros órgãos e vem proporcionando pesquisas clínicas junto ao Hospital Universitário (HU)
Por Diana Monteiro - jornalista
06/09/2019 07h00 - Atualizado em 06/09/2019 às 14h58
Orlando Pimentel de Araújo, professora Marília Goulart e equipe

Orlando Pimentel de Araújo, professora Marília Goulart e equipe

A Curcuma longa, arbusto perene endêmico da Índia, da família Zingiberaceae, é uma das plantas medicinais mais estudadas no mundo e na medicina chinesa e indiana é prescrita para o tratamento da inflamação. Estudos científicos apontam que extratos, obtidos por extração com vários solventes, exibe efeitos positivos para a saúde humana por meio de atividades antioxidante, antimicrobiana, antii-inflamatória, antifúngica, hipoglicemiante, cicatrizante, antiproliferativa e anticarcinogência, entre outros. Em 1937, foi publicado o primeiro artigo científico sobre a ação da planta relacionada a distúrbios biliares.

Na Universidade Federal de Alagoas foi concluído estudo focado na doença denominada de Colite Ulcerativa Idiopática (CUI), fruto do doutorado do químico Orlando Pimentel de Araújo, então aluno do Programa de Pós-graduação em Química e Biotecnologia (PPGQB), do Instituto de Química e Biotecnologia (IQB). O estudo científico é considerado inédito, pois, segundo ele, mesmo havendo inúmeras pesquisas com Curcuma longa, é a primeira vez que se avalia o seu efeito em animais com colite ulcerativa idiopática, não apenas no intestino mas em diversos órgãos.

Tendo já trabalhado em seu mestrado, também pelo mesmo programa de pós-graduação na Ufal, com um projeto de indução da doença de fígado gorduroso não alcoólico em modelos animais, Orlando diz que deu continuidade ao estudo com Curcuma longa em seu doutorado. E destacou: "A doença intestinal já vinha sendo investigada no projeto de doutorado da pesquisadora Fabiana Andréa Moura, da Faculdade de Nutrição (Fanut). Em um trabalho conjunto, realizamos uma revisão sistemática com o objetivo de identificar terapêuticas antioxidantes nas citadas doenças inflamatórias. Nessa revisão, identificamos que a Curcuma longa possui compostos com ações antioxidante e anti-inflamatória significativas, sendo, inclusive já utilizada em ensaios clínicos”. O pesquisador complementa que no citado contexto foi dado o início ao projeto da doutoranda Fabiana Santos Camarati, do Programa PPGQB, quando ela caracterizou quimicamente amostras de extrato de Curcuma longa para que, posteriormente, começasse o tratamento em animais saudáveis e, em seguida, nos animais com a colite ulcerativa induzida.

Sobre o relevante trabalho científico, diz que teve a orientação da professora Marília Goulart, do Instituto de Química e Biotecnologia (IQB). Além do Programa de Pós-graduação da citada unidade acadêmica, o PPGQB,  ela é orientadora do mestrado e doutorado no Programa de Pós-graduação do Instituto de Ciências e Biológicas (ICBS), e também no conhecido Renorbio (Programa Rede Nordeste de Biotecnologia) e pós-doutorado com apoio da CNPq e Capes.

 O estudo científico contou com a parceria de pesquisadores do Laboratório de Eletroquímica e Estresse Oxidativo (LEEO), do Laboratório de Pesquisa em Recursos Naturais (LPQPN), ambos do IQB, do Laboratório de Biologia Celular, do ICBS e da Faculdade de Nutrição (Fanut).

“O trabalho experimental foi subdividido em duas fases, sendo a primeira denominada de G1 com animais saudáveis e a segunda, G2, com os animais com colite induzida. O objetivo da primeira fase era avaliar a ação do extrato farmacêutico, adquirido comercialmente, e do pó da Curcuma (adicionados à ração), sobre o “status redox” em diversos tecidos dos animais. Adicionalmente, queríamos identificar possíveis efeitos colaterais desses tratamentos. Posteriormente, após análise desses resultados, concluímos que a ação do extrato farmacêutico da Curcuma era superior ao pó da Curcuma e decidimos utilizá-lo com os animais doentes (fase G2). Em ambas as fases, nós analisamos não só a ação da Curcuma sobre a saúde intestinal, mas também, seu efeito sistêmico, avaliando outros órgãos, como cérebro, fígado, rim e coração”, explica Orlando Pimentel.

Ao enfatizar os resultados obtidos no estudo científico, ele complementa: “Percebemos que, especialmente nos animais com colite moderada, a Curcuma foi eficaz no tratamento dos animais, regularizando diversos marcadores antioxidantes e anti-inflamatórios. Esses marcadores foram incluídos nessa fase, visto que a atividade inflamatória é característica dessa doença, muitos desses níveis foram igualados, inclusive, aos dos animais saudáveis". Orlando acrescenta que "adicionalmente, nos demais tecidos, a utilização da Curcuma também apresentou efeitos muito promissores. Em conjunto, todos os resultados deixaram o grupo entusiasmado, para seguir para a nova etapa que se inicia este ano, que é testar a Curcuma agora no tratamento de pacientes com CUI [Colite Ulcerativa Idiopática]". Ele adianta que a pesquisa terá continuidade pela doutoranda Amylly Sanuelly da Paz Martins, do Programa Renorbio da Ufal, que trabalhará com pacientes voluntários, em parceria com o Hospital Universitário.

Sobre a abrangência da ação antioxidante e anti-inflamatória da Curcuma longa, do ponto de vista da Medicina, Orlando informa que foi feita uma revisão de seu uso em ensaios in vitro, em modelos in vivo e em humanos: “Verificamos que a planta tem potencial terapêutico em inúmeras doenças, como as neurodegenerativas, exemplificadas pelas doenças de Alzheimer, Parkinson, e em cardiovasculares, dentre outras.

Sobre a Curcuma longa

Ao reforçar o amplo potencial que a planta apresenta para várias doenças, a pesquisadora Marília Goulart destaca que a segurança e a tolerabilidade da Curcuma longa foram confirmadas por ensaios clínicos em seres humanos e em cobaias para o tratamento de vários distúrbios inflamatórios, o que é um fator relevante em relação ao seu uso em medicina e nutrição. “Este extrato vegetal exibe efeitos positivos para a saúde humana por meio de atividades antioxidante, antimicrobiana, anti-inflamatória, antifúngica, hipoglicemiante, cicatrizante, antiproliferativa e anticarcinogênica, entre outros”, enfatiza.

Marília adianta que a Curcuma é conhecida por vários nomes vulgares, mas a classificação científica é que a define como autêntica: “Como um produto natural, existem várias fontes confiáveis ou não. Há sempre necessidade de autenticação botânica, por especialistas. Em caso de pesquisa científica, é imprescindível que o material seja autêntico. Adquirimos o citado produto de fornecedores certificados. Só assim a pesquisa pode ser publicada”, diz.

Segundo Marília, a investigação científica, especialmente utilizando os novos bioensaios, novas ferramentas biotecnológicas e computacionais, além de estratégias de confirmação e validação de atividades biológicas e farmacológicas, é de alta relevância e evidenciada pelos milhares de artigos recentes publicados na área. Os estudos com vários fatores de transcrição gênica, enzimas, citocinas inflamatórias, proteínas, fatores de crescimento e receptores, revela mecanismos moleculares de ação biológica.

"A Curcuma possui em sua constituição fenóis biologicamente ativos. Os mais importantes são os curcuminóides. Na tese de Fabiana Santos Camatari (PPGQB), minha orientanda, a primeira do nosso grupo a estudar Curcuma, há registro de atividades contra radicais livres, pioneiro em nosso grupo, que podem em excesso causar o estresse oxidativo. Os resultados mostraram atividade significativa. Devido a estes estudos e nossos trabalhos com modelos animais com Colite Ulcerativa Idiopática com a professora pesquisadora Fabiana Andrea Moura, da Fanut, e ausência de dados na literatura sobre esta atividade da Curcuma, iniciamos os estudos com a tese de doutorado de Orlando Araújo, com muito sucesso”, destacou.

E ao enfatizar a relevância dos estudos no âmbito da Ufal, Marília enfatiza: “Hoje já estamos realizando pesquisas clínicas, junto ao Hospital Universitário, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas, a Fapeal, e do Programa PPSUS [Programa de Pesquisa para o SUS] do Ministério da Saúde. Em Ciência, há sempre possibilidade de contribuição original, mesmo em tópicos muito concorridos e aparentemente consolidados. Temos vários exemplos de sucesso”, finalizou a pesquisadora.