Ufal e Sociedade entrevista Ana Maria Vieira e alunos de extensão

Professora e estudantes falaram sobre o grupo Cidade e Signos

12/08/2019 10h47 - Atualizado em 23/09/2019 às 11h40
Grupo foi entrevistado na Radioweb Ufal. Foto: Renner Boldrino

Grupo foi entrevistado na Radioweb Ufal. Foto: Renner Boldrino

O programa Ufal e Sociedade, da Radioweb Ufal, entrevistou a professora Ana Maria Vieira e seus alunos sobre o tema: Cidade e Signos.

Confira: 

Lenilda: Estamos iniciando o programa Ufal e Sociedade, nesta segunda-feira, e hoje nós estamos recebendo a professora Ana Maria Vieira, que é da faculdade de Arquitetura e Urbanismo e é coordenadora do grupo Cidade e Signos. Professora, seja bem-vinda, obrigada por atender ao nosso convite. Eu gostaria que a senhora iniciasse se apresentando e ao grupo de pesquisa. 

Ana Maria Vieira: Esse grupo de pesquisa e extensão, iniciou em 2015,  foi uma iniciativa dos alunos, por isso que eu acho que é um projeto muito importante. Foi a partir da aula de Arte Contemporânea que eles se reuniram e começaram a pensar: por que não intervir artisticamente na cidade? E me convidaram, para minha honra, a coordenar o projeto. Como professora eu só fiz conversar com eles e orientá-los para que eles desenvolvessem o projeto. 

Então, nós concorremos ao Proinart (Programa de Iniciação Artística) e fomos os primeiros colocados. Na época o Proinart era de seis meses, um tempo muito curto para um projeto tinha ambição de preparar artisticamente os alunos a intervir na cidade. Em 2016, houve outro processo de seleção, mas o Proinart estendeu o projeto por mais um ano, inserindo a pesquisa, além da extensão. O prazo de um ano foi muito bom, porque deu para desenvolver uma pesquisa para cada bolsista e também aumentamos o número de bolsistas, indo para quatro e mais uma vez o projeto foi selecionado. 

Esse ano o Proinart, aumentou o prazo para 18 meses, foi uma extensão maior, em torno de três semestres, e por isso tem o lado positivo e negativo, porque quando é longo, permite uma mobilidade muito grande dos bolsistas, alguns terminam saindo daquela bolsa institucional, então quebra um pouco o trabalho. Mas ao final é muito satisfatório, pois vemos o crescimento artístico e tem também uma preocupação com o social. 

Nós recebemos convite para intervir, em alguns espaços, como aconteceu, com uma casa no Farol que abrigava pessoas em situação de rua, que não tinham dinheiro. Queriam fazer na casa um painel alegre. Então, começamos a pensar: O que é ser uma pessoa dependente de drogas e ir para uma casa de abrigo? O preto e o marrom eram cores escuras, começamos a pensar em colorir, em como seria o mundo mais colorido e mais alegre. Trabalhamos com temas em cima daquela problemática que é trazida. Geralmente não podemos dar o material, mas dar a mão de obra.

O projeto foi criado por eles, o que eu faço é coordenar e orientar. Ficou um trabalho muito bonito. A responsável pela casa agradeceu muito. Foi uma painel na parede logo de entrada. Depois os próprios moradores se mobilizaram e eles mesmo pintaram o refeitório. Vimos que a missão foi cumprida! Começos com algo bem artístico e foi um incentivo para que eles também trabalhassem.

Eu acho um projeto muito bonito e sobretudo inspirou a proposta levada para o departamento, de criar uma disciplina Arte Urbana. Atualmente inclusive os bolsistas são monitores dessa disciplina. Nela trabalhamos muito com a arte do cotidiano e a performance. Porque ninguém pode dizer vou ser artista agora. Não! Ser artista é uma missão de 24 horas por dia, e você precisa vender a sua arte. Ser artista é ter soluções criativas para os problemas. Muitas vezes, essa inquietação artística, todos temos. O que precisa ser desenvolvido e em termos de concepção de Arte Contemporânea. Repensar o que é o bonito e o feio, porque não é essa a questão. A questão é de que modo você pode impactar a sociedade a partir do que está vendo e sentindo. 

Lenilda: É interessante ouvir essas colocações, porque às vezes temos uma ideia do curso de Arquitetura e Design numa dimensão muito técnica. E então percebemos que tem essa dimensão social, política e de solidariedade. Percebemos como mudar o ambiente também transforma o humor das pessoas. A senhora falou de um experiência que provocou uma mobilização dos próprios moradores em situação de de ruas de querer um tornar o local de abrigo mais bonito, essa também é uma missão da arte... 

Ana Maria Vieira: Fizemos também intervenção na praça da Bomba da Marieta, que é uma praça muito sem graça, que ninguém nota. Então, o grupo foi lá e interviu, começou a pintar os bancos. Claro que isso transgride um pouco, porque às vezes não pedimos permissão, mas acredito que a Prefeitura gostou. Depois descobrimos que havia um projeto das Casas Jardins em parceria com a Prefeitura para remodelar a praça. 

Neste trabalho estamos promovendo jovens artistas. Inclusive, temos uma bolsista que está conosco desde 2015, a Yara Barbosa, ela é conhecida como Pão, e está sendo reconhecida e contratada pelo seus serviços artísticos. Isso também é uma parte positiva do projeto. Eu digo sempre: vocês vão se formar em Design ou Arquitetura, mas vocês também pode ter uma formação artística mais aprofundada. Entre um Desing ou Design Artista, eu contrataria o Design Artista. A mesma coisa é o Arquiteto, por causa da sensibilidade. No momento que você explorar sua sensibilidade, você tem uma apuração dos sentidos para as cores, texturas e composições. 

Lenilda: Muito interessante! Vamos começar a ouvir também a participação dos estudantes. Vamos começar com a estudante Ana Luiza Costa, estudante de Design. Como é a participação do grupo? Conte um pouco da história… 

Ana Luiza: Eu entrei em fevereiro e fui atraída para esse viés social. Como Design é um modelo de estudo que nasce com a área industrial, ele é propriamente Urbano. Mas esse aspecto social ainda é muito pouco explorado. Quando entrei no Design, eu queria ver realmente como poderia mudar o cotidiano urbano e através disso comecei a fazer a pesquisa sobre Fotografia de rua. Então, conseguimos ver e explorar bastante como a captura fotográfica das paisagens urbanas. Esse estudo é interdisciplinar. Nós temos contato com conhecimentos de outros cursos para desenvolver nossas pesquisas, como a Literatura, Psicologia, Geografia, Letras, enfim, acaba tendo uma mescla de disciplinas dentro da Universidade. 

Lenilda: E você já fez exposições? O que essa participação do grupo de pesquisa está ajudando na sua visão do curso? 

Ana Luiza: Na verdade, ainda não tive oportunidade de realizar exposições. O meu primeiro evento dentro da Universidade, foi agora como o C.A. de Filosofia. O que mostra essa interdisciplinaridade do projeto. Conseguimos realmente fazer esse intercâmbio de conhecimento, que é próprio da Extensão na Universidade, tanto entre cursos quanto com  a sociedade. Conseguimos ter várias vivências e testar a aplicabilidade do que estudamos e pesquisamos. Isso vai variando conforme a vivência das pessoas, classe social e orientação. 

Ana Maria Vieira: Eles recentemente participaram, como monitores, da oficina de Arte, no C.A. de Filosofia, sob a coordenação da professora Flávia Benevenuto, que é colaboradora do projeto. Temos seis professores que são colaboradores. Ao mesmo tempo, eles participaram da mesa redonda de um debate sobre Estética e Arte Urbana, a diferença entre pichação e grafia. Atualmente, eles estão se preparando para trabalhos e exposições que o grupo sempre faz ao final do projeto. 

Lenilda: Tem uma gama de atividades muito grande nesse grupo… Vamos falar agora com Willian Vieira, também estudante de Design.

Willian Vieira: Eu já trabalhava com fotografia e pintura antes. Quando entrei no grupo, comecei a perceber a importância de uma visão mais social do que é ser artista. Na pesquisa Cidade e Signos, consigo perceber que há uma abertura para os tipos de pesquisa e caminhos que podem ser trilhados pela arte..

Lenilda: Você já sonhava em fazer Design? Quando você escolheu Design, você pensava nessa relação da sociedade com a arte. Com essa ideia de trazer vida e cor para a cidade? 

Willian Vieira: Já sim, inclusive quando decidi fazer Design comecei a pensar nisso. Eu vi no curso de Design essa possibilidade. 

Lenilda: Agora conversamos com Jefferson Miguel,  aluno de Design: 

Jefferson Miguel: Entrei recentemente no grupo, tem seis meses. Quando iniciei o curso de Design, à medida que passei a ir às aulas do curso, tinha uma visão específica do que era Arte. Após entrar no grupo de pesquisa, acabei desconstruindo toda aquela visão anterior do que seria uma arte mais moldada aos padrões que costumamos pensar. E quebramos esses padrões, essa visão mais romântica e nós vimos que não tem essa diferença. Do que é belo ou feio na Arte Urbana. 

Lenilda: Arte tem que expressar a vida das pessoas. Como esse exemplo que a professora Ana colocou, de modificar o ambiente onde vivem pessoas em  condição de rua... 

Jefferson Miguel: Exatamente, a medida que você vai tendo essas experiências das pessoas e dos locais, você acaba vivenciando e absorvendo essas diferenças e tendo que transforma-las, de acordo com o espaço, em Arte. 

Lenilda: Professora, vocês estão se preparando para que atividades? Vocês participaram da Bienal passada, conta como foi essa participação? 

Ana Maria Vieira: Foi maravilhoso! Precisamos ser muito criativos, porque na Bienal, nos foi sugerido fazer uma exposição, só que era com quadros enormes. E quando chegamos lá, naquele espaço do Centro de Convenções do Jaraguá, soubemos que não podia bater pregos nas paredes. Então, foi um pânico, pois eram vários painéis de um metro e vinte, por dois metros. Onde colocar esses quadros? Então tive a ideia de colocar como mosaico no chão, e ficou incrível! Mas é como eu digo: tem que ser criativo sempre! Se não tem prego, não dá para colar com cuspe, então vamos pensar outros suportes. Por que o quadro tem que está sempre na parede? Nessa hora a História da Arte nos inspira e lembramos dos mosaicos. 

Agora, é uma pena, porque era um trabalho enorme. A gente tinha que fazer a exposição só naquele dia e tinha que tirar tudo no dia seguinte. Então, a experiência foi boa, mas cansativa. Nesse sentido, temos uma sugestão para a extensão. É dar um prestígio maior para Arte, no sentido de pensar a logística. Os quadros são pesados, precisamos de transportes. Naquela ocasião, todos os professores colaboraram, carregaram os quadros em seus carros. Eu fiquei com tendinite pegando peso. Então, tem toda essa série de coisas que devem ser planejadas.

O artista sofre na nossa sociedade, mesmo em uma instituição como a Ufal, que aparentemente protege e que quer privilegiar a arte, mas esquece que o quadro é pesado e que o artista tem que carregar o seu fardo, isso não é muito justo. Arte tem que ter um espaço maior. É preciso respeitar mais o artista, se preocupar mais com os suportes, ser mais profissional. Arte é legal! Mas dá um trabalho enorme. No final de 2015, convidaram a gente para dar uma oficina de Arte e Urbana, no Caiite (Congresso Acadêmico Integrado de Inovação e Tecnologia), mas a gente não tinha permissão para usar uma parede. Fomos colocados no  CIC, então me lembrei que eu tinha um plástico enorme. Fui buscar lá na praia do Francês e criamos dois painéis gigantescos e começamos a pintar, e até o funcionário da segurança quis ajudar a gente a pintar. Foi uma experiência boa, mas tivemos que improvisar a estrutura. 

Lenilda: É porque costumamos pensar na Arte concluída e exposta, não imaginamos o trabalho que dá. Artista tem que ser também um operário... 

Ana Maria Vieira: Eu já tive todos esses processos, agora por exemplo, estamos preparando uma exposição. E estou pensando em todos esses problemas, estamos pensando em trabalhar com tapumes de madeira, porque é um material levinho; podemos criar uns buracos e instalar eles em qualquer lugar. Já estou solicitando a Sinfra uns tapumes bem fininhos, para eles começarem a trabalhar painéis com fotografias tipo lambe-lambe, que é outro tipo de Arte Urbana. Você pode fazer composições incríveis. 

Agora, meu sonho sabe qual é? É ter um espaço aqui na Ufal, com um ateliê livre, onde as pessoas podem fazer experiências de uma hora ou duas horas. Já disse isso várias vezes na Extensão. Nos dê um pequeno armário para colocar as tintas, para solicitarmos doações de tintas e materiais e fazer um rodízio de professores para fazer orientações artísticas, como um laboratório de Arte. E aqueles que se sentem mais envolvidos, podem frequentar todos os dias. Um ateliê livre que funcione, esse é meu sonho! 

Lenilda: E que esse ateliê pudesse ser frequentado por qualquer pessoa... 

Ana Maria Vieira: Até mesmo pessoas que passam pela Universidade. Qualquer um poderia se inscrever e participar.

Lenilda: Que ideia maravilhosa professora! Espero que a gente possa vê-la em execução!

Ana Maria Vieira: Estamos prevendo uma oficina que vai ser em Jaraguá e será incrível! E podemos prever outras exposições, se for possível, dentro dessa ideia de suporte com os tapumes… são várias ideias para colocar em prática! 

Lenilda: Quero muito agradecer a participação da senhora e dos seus alunos no programa Ufal e sociedade de hoje e dizer que nós aqui na Assessoria de Comunicação estamos a disposição para cobrir toda essa quantidade de atividades muito bonitas que vocês realizam, porque essa é a função do programa, destacar essa relação da Ufal com a sociedade. Nós não vivemos aqui trancados em muros, fazendo ciência só para nós, é para o povo alagoano. 

Ana Maria Vieira: Muito obrigada, a vocês pela oportunidade e aos bolsistas, porque sem eles o projeto não é nada. O projeto é do estudante e para a população. Por isso que considero um projeto muito importante. Eu recentemente fui eleita a coordenadora de extensão e uma das minhas propostas é criar um banco de ideias dos alunos, porque as ideias dos alunos são mais criativas do que a dos professores e depois procurar os professores mais adequados para coordenar cada projeto. 

Lenilda: Obrigada a todos e até a próxima edição do programa Ufal e Sociedade!

Ouça a entrevista aqui