Pesquisa da Ufal avalia lanches vendidos no Campus A.C. Simões

Salgados assados, fritos, doces e salgadinhos de pacote, gêneros da categoria ultraprocessados, são os mais procurados
Por Ascom Ufal
02/12/2019 07h00 - Atualizado em 28/11/2019 às 15h46
Doces e bebidas açucaradas também estão na lista dos itens mais consumidos (Fotos: equipe da pesquisa)

Doces e bebidas açucaradas também estão na lista dos itens mais consumidos (Fotos: equipe da pesquisa)

Integrantes do projeto de pesquisa AliUfal, vinculado ao Laboratório de Nutrição em Saúde Pública da Faculdade de Nutrição (Fanut) da Ufal, avaliaram as opções de alimentos e bebidas comercializadas nas dependências do Campus A.C. Simões. “Todas as lanchonetes, cantinas e quiosques cadastrados pela Superintendência de Infraestrutura [Sinfra] foram investigados, totalizando 19 pontos de vendas. Acrescento que nossa pesquisa não avaliou os restaurantes de autosserviço, chamados de self-service, que oferecem refeições”, informa a coordenadora da pesquisa, professora Giovana Longo-Silva.

A coleta de dados, informa a docente, foi realizada no período de maio a agosto de 2018 por estudantes de graduação, sob supervisão de pós-graduandos e docentes do Laboratório de Nutrição em Saúde Pública da Fanut. “A caracterização incluiu observação in loco de todos os alimentos e bebidas disponíveis em cada estabelecimento, bem como seus respectivos preços, além de entrevista aos responsáveis pelos estabelecimentos e identificação dos produtos mais vendidos”, explica Longo-Silva.

Ao esclarecer sobre a motivação para realizar o projeto, ela explica que como professora do curso de Nutrição, sempre estimulou os alunos ao pragmatismo, ou seja, a incorporar as recomendações teóricas de saúde e nutrição em seu cotidiano. Todavia, percebia a complexidade em encontrar alimentos saudáveis no próprio campus da universidade, o que era uma queixa frequente dos estudantes, professores e demais funcionários”, afirma. “No Brasil, existem legislações e diversos programas que objetivam promover alimentação saudável nas escolas, desde a educação infantil até o ensino médio, no entanto, tais legislações não se aplicam a universidades”, diz. Para a professora, “a expectativa é que os esforços não sejam interrompidos quando os estudantes se inserem no ensino superior, sendo destacado pela Organização Mundial da Saúde e Ministério da Saúde que ambientes institucionalizados, a exemplo de escolas, comunidades e trabalho, consistem em espaços privilegiados e estratégicos para a promoção da alimentação saudável”.

Ela destaca que muitos estudantes, inclusive servidores, chegam à universidade sem tomar café da manhã e realizam não só esta refeição, mas também lanches intermediários [colações] e almoços durante a jornada de estudo ou trabalho, especialmente nos cursos que ocorrem em período integral”. A coordenadora do estudo aponta que “esta pesquisa foi a estratégia encontrada para mostrar à comunidade acadêmica a necessidade de refletirmos sobre o ambiente em que estamos diariamente expostos e, assim, subsidiar futuras ações voltadas à melhoria da disponibilidade de alimentos para todos que frequentam a Ufal, tornando-o um ambiente facilitador de escolhas mais saudáveis”.

Alimentos ultraprocessados são os mais procurados

De acordo com os dados da pesquisa AliUfal, sanduíche de frango, salgados assados, salgados fritos, doces e salgadinhos de pacote são os cinco alimentos mais comercializados na Ufal.

Em relação à variedade, foram identificadas 43 (incluindo tipos e sabores) de bolos, 48 variedades de biscoitos, 110 de salgados, 157 de sanduíches e 67 de salgadinhos de pacote industrializados. Foram encontradas apenas quatro variedades de frutas, vendidas unicamente em dois estabelecimentos, segundo números revelados pelo estudo.

Nossa pesquisa demonstrou que os estabelecimentos comerciais do campus universitário proporcionam um ambiente alimentar desfavorável para alimentação adequada, com baixa disponibilidade e custo mais elevado de opções alimentares saudáveis e ‘in natura’, sendo os 5 alimentos mais vendidos integrantes da categoria de ultraprocessados”, informa Giovana Longo-Silva. “Com relação às bebidas, as opções açucaradas e industrializadas também estavam mais disponíveis nos estabelecimentos, no entanto, apresentavam preços mais elevados”, acrescenta.

A professora da Fanut alerta que “os alimentos ultraprocessados fornecem excesso de açúcares, gorduras, sódio, aditivos químicos, além de excesso de calorias, necessários para estender a duração dos produtos e intensificar o sabor, ou mesmo para encobrir sabores indesejáveis oriundos de aditivos ou de substâncias geradas pelas técnicas envolvidas no ultraprocessamento”. Por outro lado, continua, “são pobres em vitaminas, minerais e fibras. Portanto, contribuem para obesidade, diabetes, hipertensão, câncer entre outras doenças crônicas não transmissíveis que cada vez têm acometido mais jovens adultos em todo o mundo”. E adverte: “Uma alimentação com excesso destes alimentos afeta o funcionamento intestinal, o humor, a concentração e, sobretudo, o sono destes estudantes, tanto em relação à duração, sendo identificado como fator de risco para insônia, como à qualidade, influindo diretamente no rendimento dos estudos, do trabalho e, inclusive, na saúde mental”.

Ainda falando sobre a composição dos gêneros alimentícios ultraprocessados, ela esclarece que, “devido a seus ingredientes, são nutricionalmente desbalanceados e suas formas de produção, distribuição, comercialização e consumo afetam de modo desfavorável a cultura, a vida social e o meio ambiente”. Ainda de acordo com a coordenadora da pesquisa, por conta de sua formulação, apresentação e menor custo tendem a ser consumidos em excesso e a substituir alimentos 'in natura' ou minimamente processados, pois são alimentos práticos, por estarem prontos para o consumo, mais duráveis, podendo ser transportados sem refrigeração”. E ressalta: “Devido ao alto conteúdo de açúcares, realçadores de sabor e outros aditivos químicos, muitos estudos têm demonstrado que os ultraprocessados podem ter poder viciante, tanto a partir das papilas gustativas que se habituam com excesso de açúcar, sódio e, automaticamente, tornam as frutas e outros alimentos ‘in natura’ ‘sem sabor’, como por efeitos gerados no cérebro, induzindo seu consumo frequente, por isso é tão difícil 'comer um só'”.

Sobre as bebidas açucaradas, a recomendação é também para evitar. “Elas são consideradas hoje por todos os órgãos internacionais de saúde como um dos principais fatores de risco para obesidade, em função da comprovada menor capacidade que o organismo humano tem de 'registrar' calorias provenientes de bebidas adoçadas, além de contribuir para a ocorrência de cáries. Mesmo as opções sem açúcar não devem ser consumidas, uma vez que possuem excesso de sódio e, assim como a versão tradicional, excesso de aditivos químicos”.

Pouca procura por alimentos in natura

Sobre o fato de os vendedores não priorizarem a venda de produtos ‘in natura’ ou minimamente processado, dando opções alimentares saudáveis para o consumidor, Giovana Longo-Silva afirma que “alguns responsáveis pelos estabelecimentos alegaram que os alimentos naturais e saudáveis possuem menor procura pelos estudantes e também são mais perecíveis, necessitando de espaço para refrigeração”. E explica: “Este é um fato, afinal, enquanto uma fruta tem durabilidade média de uma semana, os produtos industrializados podem permanecer meses na prateleira sem estragar. Todavia, a maior durabilidade destes alimentos é conferida justamente pela adição de açúcares, sal, gorduras e aditivos químicos, prejudiciais à saúde”.

Outro ponto apontado pela professora é “o maior preço dos produtos naturais, comprovados pela nossa pesquisa, sendo um fator que contribui para que os estudantes não os comprem”. Ela ainda informa que “inúmeros estudos comprovam que a presença e proximidade de pontos de venda de alimentos não saudáveis influencia diretamente no seu maior consumo. Portanto, se os estudantes não tivessem acesso a estes produtos, automaticamente, optariam pelos naturais”. E destaca: “Acreditamos, fortemente, que há a necessidade de atuar tanto junto à comunidade universitária, no sentido de conscientizar sobre a importância de alimentar-se bem, como junto aos proprietários destes estabelecimentos, no sentido de sensibilizá-los sobre a necessidade e importância de oferecer estes alimentos e favorecer o seu consumo com preços mais acessíveis”.

A coordenadora da pesquisa reforça que “as instituições precisam se conscientizar que o investimento na saúde dos trabalhadores e, neste caso, dos estudantes, é muito importante, pois um ambiente de estudo e trabalho promotor de saúde contribui para redução do absenteísmo, presenteísmo, estar presente, mas não ser produtivo, custos com assistência médica, entre outros problemas”.

Alguns dos exemplos de ações apontadas pela pesquisa para promover hábitos alimentares saudáveis no ambiente universitário são:regulação das vendas e publicidade de alimentos comercializados nos estabelecimentos do campus; conscientização e sensibilização dos responsáveis pelos estabelecimentos comerciais para vendas de alimentos ‘in natura’ e saudáveis, diminuição ou exclusão de itens ultraprocessados; envolvimento de estudantes e funcionários em iniciativas voltadas para promoção da alimentação saudável; ampliação da frequência de feiras orgânicas; viabilização de espaços destinados ao armazenamento, aquecimento e consumo de refeições trazidas de casa pelos estudantes e funcionários e, por fim, maior atenção e fiscalização destes estabelecimentos”.