O petróleo nos manguezais de Alagoas

Alexandre Oliveira, docente da Unidade de Penedo, Campus Arapiraca, fala sobre as manchas de óleo no litoral do NE
Por Alexandre Oliveira - Professor Associado da UE Penedo
01/11/2019 15h48 - Atualizado em 22/11/2021 às 09h05
Alexandre Oliveira - Professor

Alexandre Oliveira - Professor

Estamos estarrecidos com as notícias das manchas de petróleo invadindo o litoral nordestino. Ainda não temos informações precisas sobre a fonte de “vazamento” de todo esse petróleo. Navios??? Plataformas??? O que é certo é que este petróleo chegou aos manguezais nordestinos. Ecossistemas importantíssimos para a vida aquática, pois serve de abrigo, fornece alimento e atua como área de reprodução para várias espécies, marinhas e de água doce. Mamíferos, aves, répteis, peixes, crustáceos, moluscos e insetos, dependem do manguezal. Sua vegetação típica sustenta todo uma cadeia alimentar, fornecendo inúmeros serviços ecossistêmicos.

Os Manguezais possuem enorme importância nos aspectos ecológicos, econômicos, sociais e culturais. Estes valores poderão ser perdidos. Diferentemente das praias, mas com bastante similaridade aos corais, os manguezais são de extrema dificuldade para a retirada e limpeza do petróleo que ameaça o ambiente.

Ao adentrar nos estuários a mancha de petróleo pode se depositar não somente no sedimento do manguezal (com áreas de sedimento extremamente lodosos, aumento a dificuldade de retirada) mas também e, principalmente, nos rizóforos (estruturas que auxiliam na sustentação da principal espécie de árvore do mangue, a Rhizophora) que possuem as chamadas lenticelas, estruturas responsáveis pelas trocas gasosas desta espécie. As lenticelas também estão presentes nas partes que chamamos de pneumatóforo, presentes nas outras duas espécies de árvore mais comuns dos manguezais brasileiros, Laguncularia e Avicennia.

O sistema de trocas gasosas é realizado através destas estruturas que são extremamente esponjosas, facilitando a entrada de água e também, infelizmente no caso do petróleo, de outras substâncias. Assim, o petróleo entra nestas estruturas e se torna praticamente impossível sua retirada pela alta adesão do petróleo às paredes dessas estruturas vegetais. Sem poder respirar, as plantas certamente irão morrer, causando um enorme prejuízo ecológico, social, econômico e cultural.

Perderemos o ambiente considerado como o berçário do mar, responsável pela manutenção de diversas espécies de organismos. A contaminação em crustáceos já vem sendo estudada por pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Carcinologia e Biodiversidade Aquática (GPCBio) da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), em parceria com o Laboratório de Ecologia Bêntica (LEB) da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), e indicou que vestígios de óleo foram encontrados em algumas partes do corpo dos animais (quelas/pinças e peças bucais), além de um caso onde o petróleo foi encontrado, em pequenas quantidades, no estômago do animal.

Temos que avaliar também os danos socioeconômicos. Relatos de pescadores e marisqueiras de Pernambuco informam a difícil situação de milhares de famílias pesqueiras que estão sem ter de onde tirar o sustento. Sem conseguir vender, muitas estão há dias sem ir ao mar. E o poder público continua a se omitir.

O petróleo pode se fragmentar em minúsculas partículas que serão absorvidas, principalmente, pela ingestão levando as espécies à morte. Para que essa tragédia anunciada não seja efetivada, seriam necessárias barreiras de contenção, que neste momento não são suficientes para todo litoral nordestino. A ajuda internacional é necessária e urgente, mas o poder público precisa intervir.

Uma outra grande preocupação é com a destinação do petróleo que está sendo recolhido. No Ceará os resíduos estão sendo levados aos altos fornos de indústrias de cimento. Porém, não temos ciência dos demais locais. Em Alagoas, segundo o IMA (Instituto do Meio Ambiente), “os resíduos estão sendo levados para a Central de Tratamento de Resíduos do Pilar, único local com autorização, em Alagoas, para receber este tipo de material”. Temos que ter a certeza da destinação dos resíduos para que eles não voltem aos ecossistemas aquáticos, como a maioria dos outros resíduos.

Os manguezais do sul de Alagoas são alvo de estudos constantes desde 2015, fornecendo valiosas informações sobre estes ambientes. Inclusive o LAPEM (laboratório de Pesquisas em Estuários e Manguezais - Coordenado por mim) tem parceria institucional com o ICMBio para avaliação das condições ambientais do manguezal da RESEX Marinha da Lagoa de Jequiá. Assim, o monitoramento destes ambientes se dará de forma mais efetiva, sendo que as alterações provocadas pelo petróleo serão detectadas rapidamente e o funcionamento ecossistêmico avaliado.

Atualmente estou realizando pós-doutoramento em Recuperação de Manguezais na Universidade Federal do Maranhão, sob a supervisão da Profª. Drª. Flávia Mochel. Neste tempo de estudos conduziremos estudos e ensaios sobre o efeito do petróleo em estruturas reprodutivas das árvores do mangue. Também iremos contribuir com os estudos da equipe da força tarefa reunida pela UFAL.